O valor da Verdade está em ser útil
A Verdade não é um valor, mas uma ferramenta: às vezes, útil; às vezes, só atrapalha. (Reflexões sobre a Prisão Verdade, II)
Um martelo não é "bom" nem "ruim". Se quero colocar um prego na parede, é útil. Se quero trocar uma lâmpada, é inútil. A Verdade não é um valor, mas uma ferramenta: às vezes, é útil; às vezes, só atrapalha.
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Quando digo que a Verdade é uma prisão, não estou dizendo que ela é inútil, nociva ou que deve ser jogada fora.
Defender que a Monogamia é uma prisão, por exemplo, não é uma crítica o casal que escolheu viver seu relacionamento de acordo com o pacto monogâmico, mas sim ao discurso hegemônico da nossa sociedade, que vende esse pacto como sendo a única maneira de organizarmos nossos relacionamentos e nunca abre espaço para as possibilidades alternativas.
A Verdade é uma prisão porque ela é igualmente vendida como um valor inquestionável, intrinsecamente positivo, que devemos sempre buscar, respeitar, valorizar.
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Quando a vendedora diz que aquele carro só foi usado por uma velhinha para ir ao parque aos domingos; quando a candidato à vaga de emprego diz que é formada em Engenharia, quando a policial militar garante que a pessoa favelada que matou era uma bandida, é importante determinarmos a Verdade dos fatos.
Tão importante, aliás, que nossa sociedade criou uma série de mecanismos institucionais pensando exatamente nesses casos: odômetros, diplomas, julgamentos. Todos, cada um do seu jeito, instrumentos para medir a verdade dos fatos. Todos, cada um do seu jeito, passíveis de serem manipulados, falsificados, adulterados.
Então, não, a Verdade não é para ser posta no lixo, mas também não é para ser colocada em um pedestal.
Um martelo não é "bom" nem "ruim". Não faria sentido falar de um martelo nesses termos.
Se quero colocar um prego na parede, um martelo é útil. Se quero trocar uma lâmpada, um martelo é inútil.
A Verdade não é um valor, ela é uma ferramenta.
Algumas vezes, é útil. Em outras, só atrapalha.
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Prisão Verdade
I. A Verdade está no meio: não duvidar, não acreditar
II. O valor da Verdade está em ser útil
III. A Verdade da Ficção: faz diferença?
IV. E daí que não me digam a Verdade?
VI. A Verdade é dada ou descoberta: a Certeza é criada ou construída
VII. Penso que penso, logo existo: A Verdade de Descartes
VIII. Graus de Verdade: o quanto preciso saber para poder saber algo?
IX. Mais conhecimento não quer dizer mais Verdade
XI. Toda Verdade é uma hipótese
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O Curso das Prisões
O meu curso para 2023 será o Curso das Prisões.
Começaremos com a Prisão Verdade.
Nossa primeira conversa livre, no Zoom, para trocarmos ideias e experiências sobre a Verdade, será no domingo, 29 de janeiro. Depois, a aula expositiva será na quarta, 15 de fevereiro.
Por enquanto, nosso grupo de zap do Curso das Prisões está pegando fogo discutindo coisas como:
Afinal, o que é a verdade? Ela existe? Como descobri-la? Temos certeza do que sabemos?
Nossa pretensa certeza sobre o que sabemos é a primeira prisão que nos impede de enxergar todas as possibilidades da vida.
Vem com a gente?