Desde setembro de 2022, estou vivendo do meu Apoia-se. Para agradecer às bravas pessoas mecenas que me sustentam com suas contribuições em dinheiro, tenho gravado uma aula avulsa por mês (avulsa porque é independente dos meus cursos em andamento), quase sempre sobre literatura contemporânea. (Sempre lembrando, claro!, que a Era Contemporânea começa em 1789, com a Queda da Bastilha!)
Agora, para celebrar os dois anos desse espaço, estou liberando todas essas aulas avulsas para as pessoas em geral. Abaixo vai a lista de todas as aulas, abertas, livres e públicas.
Meu compromisso com minhas pessoas leitoras é usar da minha liberdade de professor para só falar sobre obras que eu considero muito, muito legais, imperdíveis mesmo. (A vida é muito curta pra dar aula sobre livro chato.)
Então, caso queiram ler as obras antes ou depois de assistir às aulas, incluí links para as melhores edições na Amazon BR. (Se você clicar e comprar, eu ganho uma comissão e te agradeço.)
Gostou? Por favor, considere se tornar mecenas: você terá acesso a todas as minhas aulas de todos os meus cursos, além de muitas, muitas recompensas.
Ou faça um Pix de qualquer valor e eu já fico muito agradecido: eu@alexcastro.com.br
Como (des)ler literatura
Passei toda uma vida lendo e ensinando Literatura. E, agora, percebo que, mais do que a própria Literatura, mais do que as obras em si, o que mais ensinei foi simplesmente a ler. Para abrir as aulas avulsas, uma aula sobre como ler literatura de modo geral. Algumas dessas dicas podem parecer óbvias — todas são meio óbvias, na real — mas as que você não conhece podem te ajudar.
Link da aula em vídeo: youtu.be/UQFURb95JOg
Devemos dar voz aos vilões?
Uma das grandes alegrias da literatura contemporânea é a possibilidade de termos acesso a vozes que antes não ouvíamos, de penetrarmos na consciência de outras pessoas, de entendermos quem são, o que querem, como se definem. Mas existirá um limite para essa empatia? Será que tudo entender não traz o risco de tudo perdoar? Afinal, sabemos o quão facilmente um mesmo documentário sobre a natureza, dependendo de sutis escolhas de edição e narração, pode nos fazer torcer pela leoa e não pela gazela. Então, dar voz, sim, mas para quem?
Obras citadas: A morte é meu ofício, Robert Merle / O estrangeiro, Albert Camus / Lolita, Vladimir Nabokov / Elite da tropa, Luiz Eduardo Soares
Link da aula em vídeo: youtu.be/72p6pYBqaOc
Kafka, um autor traído
Existem vários mitos sobre Kafka. Um deles é que ele nunca publicou nada em vida e o outro, que pediu ao seu melhor amigo que queimasse toda sua obra. Errado e errado.
De Kafka, em português, só recomendo as traduções de Modesto Carone para a Companhia das Letras.
Obras citadas: Kafka: Os anos decisivos / Kafka: Os anos de discernimento, Reiner Stach / O processo / O castelo / Um médico rural / Um artista da fome / A construção / O veredito / Na colônia penal / A metamorfose, Kafka
Link da aula em vídeo: youtu.be/NYREOC-V7lY
Houellebecq, íntimo e cósmico
Michel Houellebecq não é um grande estilista da língua, não elabora enredos envolventes, não cria personagens memoráveis. Seu grande mérito está em ser um cronista, uma testemunha, um profeta. Nos séculos futuros, quando as pessoas quiserem conhecer as pessoas ocidentais da virada do XX para o XXI, será Houellebecq que vão procurar.
Obras citadas: Aniquilar / Extensão do domínio da luta / Plataforma / Submissão / Serotonina / O mapa e o território / Partículas elementares / A possibilidade de uma ilha, Houellebecq
Link da aula em vídeo: youtu.be/THg6YBBwmHQ
Marília de Dirceu, de Gonzaga: o começo da literatura brasileira
Marília de Dirceu, de Tomás Antonio Gonzaga, publicado em 1792, provavelmente é o segundo livro de poesia mais lido, mais vendido, mais querido da língua portuguesa, perdendo apenas para Os Lusíadas. Obra fundadora da literatura brasileira, primeira a ser escrita aqui, por nós, para nós, dentro do nosso sistema literário local, também foi a primeira a ser traduzida para várias línguas e é a única a ter uma cidade batizada em sua homenagem.
Obra citada: Marília de Dirceu, Tomás Antonio Gonzaga
Link da aula em vídeo: youtu.be/dYHzv2iHVHo
O Estrangeiro, de Camus: quando a Empatia nos bloqueia a Verdade
O Estrangeiro, de Albert Camus, demonstra as limitações da empatia e da verdade: todo o romance é construído para ativar nossa empatia em benefício de um personagem e, assim, nos impedir de ter acesso à Verdade sobre ele: que é um assassino frio e apático, merecedor de sua punição. O romance ilustra perfeitamente como a empatia pode ser traiçoeira: muitas vezes, estamos tão dentro da outra pessoa, tão perto, somos tão compreensivas, tão empáticas... que nos tornamos incapazes de enxergar a Verdade sobre ela. Uma empatia mal direcionada pode nos fazer sentir pena de um assassino frio e apático, ao mesmo tempo em que nos torna cúmplices na invisibilização de suas vítimas. Catorze anos depois, em A Queda, Camus escreve um livro que é, na prática, uma autocrítica, o anti-Estrangeiro e nos permite, inclusive, entender e apreciar melhor o romance anterior.
Obras citadas: O estrangeiro, A Queda, A Peste, Albert Camus / Billy Budd, Herman Melville / Conhecimento Proibido, Roger Shattuck / A crítica no subsolo, de René Girard / Crime e Castigo, Dostoievski / Cultura e Imperialismo, Edward Said
Link da aula em vídeo: youtu.be/PC5obqxFN2g
Memórias de um caçador, de Turgeniev: a ideologia do patrão
Obra de estreia do maior nome da literatura russa no XIX, esse livro completamente inovador e revolucionário foi responsável direto pela abolição da escravatura no país. Como pôde esse menino rico ter escrito sobre servos de maneira tão bela, nunca sendo invasivo ou condescendente? Reconhecendo seu lugar de fala e sabendo fazer o que Tolstoi e Dostoievski nunca conseguiram: sumir atrás das palavras.
Obras citadas: Memórias de um caçador / Pais e filhos / Rudin / Águas de Primavera / Primeiro Amor, Fumaça, Turgueniev / Crime e Castigo, Dostoievski / Ressurreição, A morte de Ivan Ilich, Guerra e Paz, Tolstoi / Walden, Thoreau / Primeiros cantos, Últimos cantos, Gonçalves Dias / A Vênus das Peles, Leopoldo Von Sacher-Masoch / O Jardim das Cerejeiras, A Gaivota, Tchecov
Link da aula em vídeo: youtu.be/qwhKYutu_Dg
A porta, de Magda Szabó: trabalho doméstico e feminilidade
Um romance perfeito sobre gênero e trabalho, arte e feminilidade.
Obras citadas: A porta, Magda Szabó.
Link da aula em vídeo: youtu.be/y9c8SKTdHas
Romanceiro da Inconfidência, de Cecília Meirelles: a criação de um mito nacional
Com admirável poder de aglutinação e belíssima sonoridade, o Romanceiro da Inconfidência amarra diversos temas fundamentais para a constituição da ideia de Brasil. Meireles recria, no século XX, a epopéia de nossos inconfidentes – homens iluministas do século XVIII – no estilo dos romanceiros medievais. É a partir dos sons e dos ritmos da nossa mais profunda herança literária portuguesa que ela conta a história dos inconfidentes, a partir das preocupações políticas e prioridades estéticas dos séculos XIX e XX, tecendo diversos fios da nossa História em um único poema, construindo novos heróis nacionais e uma nova visão de Brasil no processo. Não por acaso, muitos críticos consideram que o Romanceiro da Inconfidência é a grande epopéia poética brasileira, nosso maior poema e um dos maiores da língua portuguesa, abaixo somente de Camões.
Obra citada: Romanceiro da Inconfidência, Cecilia Meireles
Link da aula em vídeo: youtu.be/MSUg4TVfwd4
Bartlebly: Literatura e obediência
Bartleby é o funcionário que diz “não”, talvez o maior herói épico dos tempos modernos, o modelo de conduta que precisamos e que merecemos.
Obra citada: Bartleby, o escrevente, de Herman Melville
Link da aula em vídeo: youtu.be/R1RnJ44FTgI
Querida Konbini, de Sayaka Murata: o trabalho e a vida
Querida Konbini, da japonesa Sayaka Murata, é sobre uma funcionária de loja de conveniência que se rebela contra as expectativas sociais de viver uma vida “normal” e decide, contra tudo e contra todos, viver da maneira que considera mais adequada. (Entre outras coisas, sem transar e sem namorar.) O mundo permitirá?
Obras citadas: Querida Konbini, Terráqueos, Sayaka Murata / A vegetariana, Han Kang
Link da aula em vídeo: youtu.be/1oWugSaoLos
Marguerite Duras: o testemunho da dor
Seja em romances intimistas ou em testemunhos históricos, a protagonista da prosa de Marguerite Duras é sempre Marguerite Duras.
Obras citadas: A dor, O amante, Olhos azuis, cabelos pretos, O arrebatamento de Lol V. Stein, O amante da China do norte, Yann Andrea Steiner, Marguerite Duras
Link da aula em vídeo: youtu.be/wI2WzhUKszY
On the road, de Kerouac: a liberdade do não
O livro On the road (1957), de Jack Kerouac, é um dos clássicos mais deslidos de todos os tempos. O livro, assim como Bartleby, é sobre o poder de um “não”.
Obra citada: On the road, Jack Kerouac
Link da aula em vídeo: youtu.be/4G1X1T2c92o
A princesa de Cleves, de Madame de Lafayette: outras felicidades
Um pequeno romance perfeito, um dos primeiros da história, escrito por uma mulher e abordando temas que ainda hoje são polemicos: afinal, como viver uma vida correta?
Obra citada: A princesa de Cleves, Madame de Lafayette
Link da aula em vídeo: youtu.be/AD41tAJ7LLo
Uma experiência estética de alteridade radical: lendo literatura medieval no século XXI
Ler literatura antiga faz transbordar em mim um profundo sentimento de união e pertencimento com todas as pessoas que calharam em estar vivas comigo na mesma época que eu.
Link da aula em vídeo: youtube.com/watch?v=kG1Tovcc12A
Os contos brutos de Mariana Enríquez
Os últimos anos estão vendo um florescer de uma certa literatura bruta, que flerta com o fantástico por um lado e com a crítica social por outro, escrita por jovens mulheres latino-americanas que, naturalmente, têm uma concepção bem diferente de “horror” do que os velhos homens brancos mortos. Dentre muitos nomes que se destacam (gosto bastante da equatoriana Maria Fernanda Ampuero), a melhor, mais poderosa, mais impactante certamente é a argentina Mariana Enriquez.
Obras citadas: Os perigos de fumar na cama, As coisas que perdemos no fogo, Mariana Enríquez
Link da aula em vídeo: youtu.be/C9GGG1ngJ6s
O deserto e sua semente, de Jorge Baron Biza, e a redenção pela dor
Há muitas tragédias reais na origem de O deserto e sua semente, de Jorge Baron Biza, mas esse romance, enquanto literatura, é maior, mais forte, mais real do que todas elas.
Obra citada: O deserto e sua semente, Jorge Baron Biza
Link da aula em vídeo: youtube.com/watch?v=k3kUFtO3VJI
Infância e guerra em Ondjaki
Uma aula sobre infância e guerra na obra do escritor angolano Ondjaki, com foco especial em Bom dia, camaradas. Ele talvez seja o maior escritor vivo em língua portuguesa, junto com Mia Couto e Lobo Antunes. Na verdade, acabei falando mais sobre história de Portugal, do colonialismo, do decolonialismo e, mais do que tudo, sobre a intervenção cubana em Angola. Espero ter dado os subsídios para vocês lerem e curtirem mais os textos.
Obras citadas: Bom dia, camaradas, Os da minha rua, AvóDezanove e o segredo do soviético, Ondjaki
Link da aula em vídeo: youtu.be/BmorpgVCRRE?si
O inimigo do povo, de Ibsen, e as lições de Porto Alegre
Vamos ler a peça clássica de Ibsen O inimigo do povo à luz da catástrofe climática que se abateu sobre o Sul do Brasil. De que maneira a grande literatura do passado nos ajuda a entender melhor os dilemas do presente?
Obra citada: O inimigo do povo, Henrik Ibsen
Link da aula em vídeo: youtu.be/TcUGx-rL3D4
Masculinidade tóxica em Sendo ele quem ele era, de Breno Kümmel
Uma aula muito especial, mais dialógica e com a presença do próprio autor Breno Kümmel.
Obra citada: Sendo ele quem era, Breno Kümmel
Link da aula em vídeo: youtu.be/dpxP5bKzIh0
Anarquismo marítimo em O navio da morte, de B. Traven
O Navio da Morte mostra que literatura boa pode ser panfletária. Esse romance anarquista escrito pelo misterioso B. Traven é a resposta brutal do século XX às ficções marítimas do XIX.
Obras citadas: O navio da morte, B. Traven /
Link da aula em vídeo: youtu.be/5_m0Q2o-nEQ
Racismo e existencialismo em Filho nativo, de Richard Wright
“Filho nativo” é um dos grandes romances filosóficos da literatura. O fato de ser raramente pensado assim é sintoma do nosso racismo estrutural.
Obras citadas: Filho nativo, “Black boy, Richard Wright / O estrangeiro, Camus / As vítimas-algozes, Joaquim Manuel de Macedo/ Pode o subalterno falar?, Gayatri Spivak / O Atlântico Negro, Paul Gilroy / O segundo sexo, A América dia a dia, Simone de Beauvoir
Link da aula em vídeo: youtu.be/W0z9900YgvA
Segurant, O Cavaleiro do Dragão, um romance medieval recém-redescoberto
Não é todo dia que se encontra —e se publica— um texto medieval perdido há séculos. Em 2010, o italiano Emanuele Arioli encontrou o texto de Segurant, o cavaleiro do dragão em um manuscrito francês do século XIII. Como a narrativa estava incompleta, ele partiu em uma peregrinação digna de um herói medieval pelos arquivos da Europa buscando pelo resto. Encontrou fragmentos da história em outros 28 manuscritos, assim como versões alternativas e continuações posteriores dos séculos XIV e XV, e as reconstituiu em uma narrativa coerente.
Obra citada: Segurant, o cavaleiro do dragão
Link da aula em vídeo: youtu.be/fbGo2VfRgDw
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Excelente, obrigado Abraços e luz..