A ideologia do patrão: Memórias de um caçador, de Turgueniev
Um patrãozinho escreve sobre seus empregados... e muda o mundo.
Obra de estreia do maior nome da literatura russa no XIX, esse livro completamente inovador e revolucionário foi responsável direto pela abolição da escravatura no país. Como pôde esse menino rico ter escrito sobre servos de maneira tão bela, nunca sendo invasivo ou condescendente? Reconhecendo seu lugar de fala e sabendo fazer o que Tolstoi e Dostoievski nunca conseguiram: sumir atrás das palavras.
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Introdução
Quando saiu uma das primeiras antologias de traduções de literatura russa em inglês, Anthology of Russian Literature: the nineteenth century, de Leo Wiener, em 1903, a capa não era nem Puchkin, considerado pelos russos como o pai da sua literatura (e, por isso, nossa leitura da última aula do curso Grande Conversa Fundadora, em maio), nem Dostoievski ou Tolstoi, considerados hoje mundialmente como os maiores autores russos, mas sim Turgeniev, que era, naquela época, na Europa ocidental, praticamente sinônimo de literatura russa.
Para as sensibilidades inglesa, francesa, alemã, Dostoievski e Tolstoi ainda eram muito alienígenas, intensos demais, desagradáveis demais, difíceis de digerir e de classificar. Já a literatura de Turgeniev, o mais ocidentalizado dos grandes russos, era palatável. Com as devidas proporções, era parecida com a de Flaubert ou de Henry James, mas somente de outro país, em outro contexto, levemente diferente, mas compreensível.
Curiosamente, foi esse mesmo temperamento delicado de Turgeniev – longe de extremos, sem querer se comprometer, prezando a sutileza e a moderação, olhando sempre os dois lados – que o fazia ser tão criticado na Rússia polarizada da sua época e que fez com quem fosse perdendo terreno, na própria Rússia e no mundo, para os mais intensos Dostoievski e Tolstoi.
Apesar disso, para muitos escritores, ele sempre foi o maior dos grandes russos. Hemingway, por exemplo, costumava recomendar a autores novatos que se expusessem ao máximo de autores possível, lendo apenas uma ou duas obras de cada, com uma exceção: só Turgeniev ele recomendava ler tudo.
Não gosto do velho machão imperialista que morou em Cuba e nunca se preocupou em aprender nada sobre o país, mas esse seu conselho eu segui. Meu artista da palavra preferido de todos os tempos, absolutamente ó-concur e fora de categoria, é Tchecov, mas, se paro e penso, é só porque ele executou ligeiramente melhor que Turgueniev todas as técnicas e olhares que Turgueniev inventou; é porque ele fez melhor que Turgueniev aquilo que Turgueniev nos ensinou que podia ser feito. Na verdade, se Tchecov é fora de categoria pra mim, então, Turgeniev é o maior russo. Logo abaixo, Tolstoi. Depois, embolados, Gogol e Gorki. Por fim, grandes autores que ainda admiro muito, mas inferiores aos primeiros, Puchkin e Dostoievski. Naturalmente, nem saímos do século XIX, mas confesso que nenhum dos russos do XX que conheço e gosto chega aos pés dos gigantes oitocentistas.
Vou ser ainda mais polêmico: enquanto quase todas as fãs de Turgueniev consideram Pais e filhos sua obra-prima, eu confesso não só que gosto mais de outras (Mumu, Assia, Águas de Primavera, Primeiro Amor) como que, pra mim, sua maior obra-prima, fora de qualquer dúvida, é seu primeiro livro, Memórias de um caçador, publicado em 1852. Esse texto e essa aula são para explicar o porquê.
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Leia o texto, assista à aula
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No texto abaixo, a apresentação resumida de alguns dos temas desenvolvidos na aula.
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Turgueniev, playboy apaixonado
Turgueniev nasce aristocrata, filho de um pai pobre e mulherengo que morre quando ele tem 16 anos, e de uma mãe mais rica, mais velha e algo tirânica. Aos 25, conhece a cantora e compositora lírica hispano-francesa Pauline Viardot durante uma turnê em São Petersburgo – aos 23 anos, ela já era famosa em toda Europa. (Algumas biografias de Pauline.)
Achando que o jovem Turgueniev estava recebendo muitas influências perniciosas da França, a mãe manda que vá estudar na Alemanha, onde fica amigo de famosos emigrados radicais e revolucionários como Herzen (1812-70), fundador do socialismo russo, e Bakunin (1814-76), fundador do anarquismo coletivista. Querendo focar na literatura, abandona uma possível carreira de funcionário publico, confiando na mesada da mãe.
Em 1850, aos 32, morre sua mãe e ele herda a propriedade. Uma das principais brigas de Turgueniev com a mãe era justamente sobre a situação dos servos. Ela dizia que eram bem tratados e até pagos, e Turgueniev apontava que viviam em estado de terror constante. Muitos dos piores senhores de Memórias de um caçador são inspirados em sua mãe, que ainda era viva quando começou a publicar a serie, em 1847, mas morreu em 1850, antes da publicação do livro em 1852.
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Um trisal do século XIX
Turgueniev era um cético em relação ao amor. Em sua obra, amores fortes e paixões sempre são destrutivos – e mais para os homens, que retrata como fracos e débeis, do que para as mulheres, mais fortes e decididas. (Seu pai era um homem fraco casado com uma mulher forte e, em Pauline Viardot, ele achou sua própria mulher forte, famosa, profissional, decidida.)
Pauline colocava sua arte acima de tudo, enquanto Turgeniev deixava claro que largaria tudo por ela... e de fato largou. Durante quarenta anos, desde que a conheceu até sua morte, Turgueniev seguiu os Viardots pela Europa, morou com eles em mais de três países e, inclusive, os Viardots criaram sua única filha, ilegítima.
Primeiro foi amigo do marido, Louis, irmanados por gosto de caça e por literatura, e depois de Pauline. Ambos os homens morrem no mesmo ano, 1883, e ela vive até 1910 Provavelmente foi o livro de Viardot de historias de caça, Souvenirs de Chasses, de 1846, que inspirou seu Memórias de um caçador, que ele começa a escrever em 1847. Apesar da possível inspiração, Memórias de um caçador é uma obra absurdamente original: nunca houve nada parecido.
Para muitos críticos russos, a relação com Pauline foi fatal para a obra de Turgueniev, ao força-lo a passar a vida fora do país e perder o pulso da Rússia. Herzen, autor russo exilado na Alemanha, dizia que Turgueniev, na meia idade, amava Pauline como um menino de dezoito. Para o machismo misógino russo (até hoje um dos países mais homofóbicos do mundo) era especialmente doloroso ver em Turgueniev um homem amarrado a uma mulher, aparentemente se humilhando por ela, se privando de criar sua própria família para segui-la, etc. Seu amor por ela, diziam, era exatamente o tipo de amor que ele descrevia em sua obra: enfraquecedor e humilhante.
A sutileza, a concisão, a descrição são marcas da escrita de Turgueniev não só em sua ficção, mas também em sua correspondência. Turgueniev não escrevia cartas para se revelar, para desabafar, para autoanalisar a si mesmo ou sua obra, como tantos autores fazem. Pelo contrario, o estilo das cartas é muito próximo, quase indistinguível do seu próprio estilo na ficção. Turgueniev escreve cartas para manter suas relações, e só. Por isso, são supremamente turgenevianas. (As cartas de Turgueniev me fazem pensar nas de um outro autor que é quase o seu oposto: tudo que Turgueniev tinha de retraído, Byron tinha de espalhafatoso. O que os une é que tanto nas cartas quanto na ficção são sempre a mesma pessoa: Byron é sempre Byron, Turgueniev é sempre Turgueniev., nas cartas ou na ficção.) Presume-se que era no diário que Turgueniev se revelava. Ele pediu para Pauline queimar quando morresse e ela, diferente do canalha Max Brod e certamente protegendo também sua própria intimidade (passara quarenta anos com esse homem!), cumpriu. As cartas de Turgueniev (essas que lemos hoje) Pauline guardou por trinta anos e são um monumento a sua discrição.
O problema é justamente serem tão discretas. Turgueniev passou quarenta anos vivendo com os Viardots e viajando com eles pela Europa, temos milhares (milhares mesmo) de cartas que trocaram, além de diários, e também relatos de amigos e contemporâneos (eram ambos famosos, estavam sempre sendo vistos, falados, hospedando e sendo hospedados, etc), e nenhum desses documentos resolve a dúvida fundamental: “eram Viardot e Turgueniev amantes?” Eram amigos? Eram uma família? Eram um trisal? Realmente, não sabemos. Críticos, autores e curiosos falam disso há dois séculos e os comentários são sempre absurdamente monogâmicos (“será que Louis não tinha ciúme do amor de Turgueniev por sua esposa?” etc) e ninguém nem ao menos sugere a possibilidade de serem amantes os três.
É possível que Pauline e Turgueniev tenham consumado a relação brevemente nos anos 1840 e que, depois, tenham continuado somente amigos. Ambos eram consumidos por suas respectivas artes e não demonstravam muito apreço por paixões românticas ou sexuais. (Pauline, que morava com dois homens e a filha bastarda do que não era seu marido, manifestou se varias vezes contra a moral boêmia da classe dos artistas! Também falou contra as obrigações conjugais que esposas deviam aos maridos Ela, artista, independente, com dois maridos, aparentemente era só trabalho.) Em toda a obra de Turgueniev, paixão e sexo só levam a desgraças. Mais tarde, já idoso, ele confessou a uma amiga ter sido sempre muito desinteressado do lado físico das relações, que a união espiritual era mais importante que a consumação carnal, etc. Pode ser o tipo de coisa que homem fala pra impressionar uma novinha? Pode, claro. Mas também não dá pra descartar a possibilidade de Turgueniev e Pauline terem vivido uma relação assexual, ou largamente assexual.
Ao longo de toda a sua vida, Turgueniev, que veio de um lar composto por um pai pobre e mulherengo e uma mãe rica e tirânica, sempre considerou e afirmou que os Viardots eram sua verdadeira família. E eram. Os três se escolheram, viveram juntos por quarenta anos. Essa escolha importa. Se faziam sexo ou não, e quem com quem, me parece completamente irrelevante.
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Dois estilos, quatro autores: Turgueniev & Tchecov contra Tolstoi & Dostoievski
Turgueniev é um poeta da fraqueza, da imobilidade, da hesitação – como também seria Tchecov. No ensaio, “Hamlet e Dom Quixote”, Turgueniev divide o mundo entre homens de introspecção e dúvida, e outros da liberdade e do altruísmo. Naturalmente, articulando nesses termos, ele achava os Dom Quixotes melhores, mas certamente suspeitava ser um Hamlet. Um de seus personagens arquetípicos principais, presente em várias obras como o protagonista homônimo de Rudin, é o “homem supérfluo”: o jovem hipereducado que se perdia na sua indecisão e acabava não fazendo nada da vida.
Na obra de Turgueniev, até as melhores e mais bem intencionadas ações podem ter conseqüências funestas e inesperadas. Seus personagens sempre sofrem, seja por sua incapacidade de resistir a forças externas incontroláveis, ou por sua falta de disposição de resistir a essas forças. Era possível resistir? Dava pra ter se esforçado mais um pouco? Como saber? A tensão é sempre entre as inclinações morais e os impulsos imorais, entre uma defesa de si mesmo baseada na ética e uma auto ilusão fora de qualquer ética. Em Turgueniev, fugir da dor sempre gera mais dor. De certo modo, é uma posição ética eminentemente budista.
Entretanto, enquanto Dostoievski e Tolstoi são sempre profundamente morais e religiosos, Turgueniev, como Tchecov mais tarde, é sempre laico e secular. Suas obras não são ateias, claro, o que não teria sido nem possível na época, mas são obras onde Deus, o divino, a religião não entram de nenhuma maneira. Em Dostoievski e Tolstoi, a religião, ou pelo menos uma entrega à transcendência, oferece alguma redenção para suas personagens sofridas e atormentadas. É possível ler Crime e Castigo (1866), de Dostoievski, como um romance policial, e até mesmo Ressurreição (1899), de Tolstoi, como crítica social, mas, para isso, é preciso ativamente ignorar que ambos autores estavam escrevendo obras profundamente religiosas, sobre salvação e redenção.
Em Turgueniev e Tchecov, por outro lado, a religião nunca oferece nenhum tipo de saída. A pouca salvação aberta às personagens da obra eminentemente secular de ambos está no auto controle, na disciplina, na integridade moral. E, mesmo assim, nada está garantido. Turgueniev e Tchecov entendiam as complexidades e os conflitos, as duvidas e os dilemas de buscar uma salvação pessoal e laica em um universo instável secular onde cabe a cada indivíduo atribuir sentido a própria vida.
(Em seu poema em prosa “Natureza”, escrito já no fim da vida por um Turgueniev já sem medo de nada, um homem se encontra com uma versão corporificada da Natureza, e pergunta: “Não somos nós, seres humanos, os seus filhos preferidos?” e a Natureza responde: “Todas as criaturas são minhas filhas, amo todas igualmente e destruo todas igualmente. Eu te dei a vida e vou tirar sua vida, e entregá-la a outros animais, ou aos vermes. não me importa.” Retrospectivamente, dá pra ver que essa é a teologia fundante de toda a obra de Turgueniev.)
Não é a toa que todos os romances de Turgueniev são tão breves, ainda mais em comparação à verbosidade de Dostoievski e Tolstoi. Ser econômico e conciso, falar pouco e não explicar tudo, eram as principais facetas do seu estilo – o que vale também, e em dobro, para Tchecov que nunca nem mesmo escreveu romances, apenas contos, novelas, peças. As obras de Turgueniev e Tchecov são curtas porque são compostas basicamente por lacunas. A leitora precisa construir a obra na sua cabeça, preenchendo todos os vazios.
Já Tolstoi e Dostoievski naturalmente odiavam lacunas mais do que tudo: o gênio de ambos está em, ao mesmo tempo, não só falar tudo como também conseguir tornar esse tudo magnético e sedutor, instigante e estimulante. Dostoievski me dá um pouco de cansaço e gastura, confesso, mas como terminar Guerra e Paz sem achar que o romance foi muito curto? Sem querer continuar convivendo com aquelas pessoas? Sem desejar que Tolstoi tivesse pelo menos prosseguido o enredo até chegar na dezembrada, que afinal foi o que sentou para escrever? (Sim, Tolstoi escreve Guerra e Paz para falar dessa conspiração que aconteceu em 1825, volta no tempo para dar contexto até à invasão napoleônica de 1805 e, então, encerra o romance antes de chegar na Dezembrada.)
Não existem certezas na obra de Turgueniev, a começar por um estilo criado especialmente para fugir de definições. Muitas vezes ele descreve mais o que uma pessoa não é ou o que não está fazendo do que algo positivo e concreto; usa muito expressões indefinidas “algo”, “de algum jeito”, “alguma coisa”, etc, e advérbios como “hesitantemente”, “estranhamente”, “levemente”, etc. Tudo sempre a serviço de deixar as ações e as falas, os significados e as narrativas o mais abertas e indefinidas o possível.
Em Turgueniev, os protagonistas são sempre fracos e a moral nunca é clara: o que é o certo a fazer? Pra onde ir? Os personagens não sabem e o romancista não diz. Toda sua concepção da natureza humana se baseia no fato que as pessoas são fracas e falíveis, portanto, sua estabilidade e sua felicidade estão sempre aberta a ataques, de dentro e de fora, do meio ambiente ou das outras pessoas. Sua obra evoca melancolia e desilusão, amores frustrados e vidas desperdiçadas.
Apesar de haver muito, muito poucos assassinatos ou mortes violentas na obra de Turgueniev (ele conseguiu desde o começo realizar o que Tchecov somente atingiu em sua última peça, O Jardim das Cerejeiras, de 1903), o dano que as pessoas fazem umas as outras é tremendo. Seus personagens estão sempre sofrendo nas mãos umas das outras. Para Turgueniev as relações e interações humanas inevitavelmente mostram ou fazem aflorar vulnerabilidades e fraquezas que as outras pessoas ou não enxergam ou escolhem não enxergar, e, então, prontamente passam por cima, como tratores desgovernados. Em Turgueniev, e nesse detalhe ele se separa de Tchecov, o forte sempre esmaga o fraco.
Turgueniev tem infinita empatia por seus personagens, por sua vulnerabilidade e incapacidade de ação, vendo nisso se não a essência do comportamento humano pelo menos a chave para entendê-lo. Esse olhar generoso e cuidadoso para as falhas e para os fracassos do ser humano, especialmente em suas vãs tentativas de se proteger do sofrimento e que acabam causando sempre mais sofrimento, é o maior feito artístico, estético, estilístico de Turgueniev. É a marca e o tom de tudo que ele escreveu.
Turgeniev tinha 42 anos quando Tchecov nasce em 1860, e Tchecov tem 23 quando Turgueniev morre em 1883: será o jovem médico Tchecov o grande continuador do projeto estético de Turgueniev, herdando também seu ocidentalismo e um certo gosto pelas boas coisas da vida que só o ocidente poderia oferecer. (Ambos eram considerados dândis.) Mais tarde, outros autores também tomarão para si esse projeto estético, como Kafka e Henry James, Fitzgerald e até mesmo Hemingway – não por acaso todos autores concisos de romances e noveletas curtas. Nada poderia ser mais distante do que os projetos literários grandiosos e totalizantes de Dostoievski e Tolstoi.
Turgueniev era muito criticado por sua pretensa falta de intensidade, excesso de sutileza, alienação política. Mas ele justamente desconfiava desses grandes gestos e grandes pronunciamentos, de grandes certezas expressadas vigorosamente por grandes personagens. Em Turgueniev, tudo é dito para dentro e, obviamente, nada poderia ser mais impalatável para os dois titãs russos: Dostoievski o satirizou brutalmente em Os demônios (1872) e Tolstoi o considerava “frívolo”. Mas nem sempre tinha sido assim: quando saem as Memórias de um caçador, um jovem Tolstoi de 24 anos escreve no diário: “Li e como é difícil escrever depois dele.” Décadas depois, em uma de suas últimas cartas, escrita em 1883, no leito de morte e sabendo que iria morrer, Turgueniev implora como seu último pedido que Tolstoi voltasse a escrever literatura – livros que ele sabia que não iria ler, mas estava pedindo por nós. Três anos depois, Tolstoi escreveria A morte de Ivan Ilich (1886).
Em A Gaivota (1896), uma das melhores peças de Tchecov, esse discípulo de Turgueniev soube colocar na boca de um de seus personagens o seguinte epitáfio: “Aqui jaz Trigorin. Foi um bom escritor, mas não escrevia tão bem quanto Turgueniev.”
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Sado-turguenismo: amores destrutivos, homens fracos e mulheres fortes
Se em Turgueniev, as pessoas são sempre as algozes umas das outras, isso é especialmente verdade nas relações românticas e amorosas, inevitavelmente mostradas como destrutivas e doentias. O amor é breve, e pode ser gostoso, mas seus efeitos são longos e nocivos: parece oferecer força e auto-afirmação, mas, ao vender uma ideia sedutora e enganosa de felicidade, termina sugando a força dos amantes e deixando-os fracos, humilhados, derrotados.
É impossível ler a obra de Turgueniev, com sua sequência de mulheres fortes destruindo ou dominando homens fracos, e não pensar em sua mãe, matriarca forte e dominadora, e nele, que nunca casou mas passou a vida inteira seguindo uma artista, casada e de personalidade forte, pela Europa. Estaria Turgueniev sempre falando de si mesmo? É interessante que, em Memórias de um caçador, a relação que mais segue esse padrão, no conto “O encontro”, é, pouco caracteristicamente, entre um homem dominador e uma mulher fraca. Mas seria a primeira e única vez: dali em diante, quem pisa são as mulheres e quem é pisado são os homens.
O austríaco Leopoldo Von Sacher-Masoch poderia ter sido um grande autor, mas ficou marcado como um “desviado sexual” porque suas obras mostravam sempre, de forma obsessiva, mulheres dominadoras controlando e destruindo homens submissos – especialmente em A Vênus das Peles (1870), mas também, de fato, em toda sua obra. Dá pra intuir, por debaixo dos chicotes e saltos, um potencial grande autor que se perdeu por não ter encontrado uma válvula de escape mais adequada para seus fetiches. Seu nome era tão associado a essas fantasias que, em 1886, quando o pioneiro sexólogo austríaco Krafft-Ebing precisa batizar essa parafilia não hesita em chamá-la de “masoquismo”. Daí em diante, o cânone literário sério está fechado para Sacher-Masoch.
O curioso é que pelo menos dois romances de Turgueniev me parecem tão próximos de A Vênus das Peles ao ponto de poderem quase fazer parte do mesmo gênero literário, “romances de dominação feminina”? A Irina, de Fumaça (1867) e, em maior grau, a Maria de Águas de primavera (1871) não ficam a dever em nada à Wanda de A Vênus das Peles em matéria de sadismo e dominação: em ambos os romances, acompanhamos as aventuras de uma mulher cruel que exulta em destruir casais apaixonados pelo simples gozo de dominar e descartar homens. Elas não são nem condenadas pela voz narrativa, nem punidas pelo enredo: pelo contrário, vivem felizes e malvadas para sempre. A condenação, quando existe, é para os homens fracos que se deixaram usar e esmagar. Mas muitas vezes nem isso: Turgueniev quase sempre entende que nunca tiveram chance.
Se Turgueniev não virou nome de paralifilia, se hoje não temos clubes de sado-turguenismo, é porque (além de ser russo e não austríaco como Sacher-Masoch e Krafft-Ebing) sua sutileza natural o impedia de escancarar seus desejos na ficção tanto quanto Sacher-Masoch. Para quem sabe ler, entretanto, está tudo lá. Eu, confesso, adoro.
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Lançando Memórias de um caçador
Na década de 1840, a grande influência de Turgueniev era o escritor Vissarion Bielinski (1811-48), ocidentalizante, que defendia que a literatura deveria ser uma ferramenta de luta política. Escreveu ele em 1847, ano antes de sua morte:
“Não se pode guardar silêncio quando, sob a capa da religião, apoiada pelo chicote, se predicam falsidade e imoralidade como verdade e virtude.”
Memórias de um caçador, escrito em larga medida entre 1847 e 1851, é o tributo de Turgueniev ao seu mestre.
Quase chegando aos trinta e já quase desistindo de ser escritor, Turgueniev manda um conto despretensioso para uma revista literária fundada por Puchkin – morto em 1837 em um duelo – e que estava sendo relançada. No primeiro número, de janeiro de 1847, sai o conto “Khor e Kalinich”, com o lide: “Do caderno de um caçador”. O enorme sucesso estimulou Turgueniev a não só não parar de escrever, mas também a continuar escrevendo mais e mais sketches do “caderno do caçador”. Andando pela Europa atrás de Pauline e do marido, sem receber mesada da mãe, os contos de Memórias de um caçador acabam se tornando parte principal da sua renda.
Os contos são tão leves e curtos que, publicados um por um, parecem quase inócuos e, por isso, não chamaram atenção da censura, mas publicados em forma de livro caíram como uma bomba atômica na Rússia da época. De fato, um a um, poucos contos se sustentam individualmente, e ganham sua força apenas no conjunto, como um grande painel da servidão.
Em 1852, Turgueniev consegue autorização para publicar os contos em forma de livro. Mas, depois de publicado, o livro gera tanto escândalo, que o censor é demitido e Turgueniev é mandado pra casa em prisão domiciliar. Há controvérsias se o motivo da prisão domiciliar teria sido esse livro ou a seu elogio fúnebre a Gogol, recém morto. Mas, de qualquer modo, ambos aconteceram juntos, então, certamente um influiu no outro. Dizem que Turgueniev só não sofreu penas piores porque o herdeiro do trono, o futuro czar Alexandre II (1818-1881), gostou muito do livro. Ao subir ao trono, em 1856, seria ele a emancipar os servos em 1861.
Eis o comentário do censor:
“O livro do senhor Turgueniev faz mais mal do que bem... Que utilidade tem, por exemplo, mostrar ao nosso povo letrado [...] que nossos camponeses são oprimidos, que os proprietários de terras, que o autor tanto achincalha, expondo-os como torpes, selvagens e extravagantes, comportam-se de forma indecente e ilegal, que o clero das aldeias rasteja diante dos proprietários de terras, que isprávniki e outras autoridades aceitam suborno e que, obviamente, quanto mais livres os camponeses forem, melhor? Não acho que tudo isso possa trazer algum proveito ou satisfação ao leitor virtuoso; pelo contrário, todos os relatos desse gênero deixam uma sensação desagradável."
Só se permitiu reeditar o livro em 1859, já sob o novo czar, e na véspera da emancipação dos servos, em 1861. Finalmente, em 1874, o livro é republicado com três novas histórias, entre elas “Relíquia viva”, considerada uma das melhores.
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Russo, europeu e, por que não?, brasileiro
Só os conservadores mais reacionários reclamaram de Memórias de um caçador. Os radicais e revolucionários mais a esquerda adoraram o livro, pois o consideraram A cabana do Pai Tomás russa, que saíra naquele mesmo ano. Os eslavófilos amaram o livro: era um retrato verdadeiro e fiel, bonito e positivo do camponês russo que eles consideram o cerne da russianidade. De fato, Turgueniev nunca foi tão eslavófilo, nunca foi tão profundamente russo quanto nesse livro – todo o resto de sua obra é muito mais ocidentalizada. Mas apesar de claramente amar a Rússia e os camponeses, o individualismo de Turgueniev não permitia que concordasse com a ideologia coletivista que fundava boa parte da eslavofilia:
“Digam o que quiserem, nunca poderei concordar com as comunas. O direito individual é destruído, e foi por isso que eu sempre lutei até agora e vou continuar lutando até o final”
Apesar de politizado e com consciência social, Turgueniev nunca deixa de ser um aristocrata individualista, até mesmo nas Memórias de um caçador. Seus camponeses mais simpáticos, como os de “Khor e Kalinich”, não defendem as soluções coletivistas dos eslavófilos, mas, pelo contrário, um individualismo quase liberal e bastante ocidental. Turgueniev era tanto contra violências e revoluções quanto de autoritarismos, ausência de direitos, ignorância.
Do nosso ponto de vista, ele era um liberal clássico, de centro direita ou de centro esquerda, dependendo do ângulo que se vê, preocupado com injustiças e desigualdades, mas incapaz de propor qualquer solução, seja radical ou revolucionária, ou que atacasse os direitos individuais que via como sagrados.
Apesar de todas suas reservas e críticas à Rússia, Turgueniev é profundamente russoe Memórias de um caçador, seu livro mais russo. Sua russianidade não é tão óbvia quanto a de Dostoievski ou Tolstoi justamente por estar combinada com um profundo ocidentalismo. Ele falava as principais línguas européias, morou na França, na Alemanha, na Inglaterra, passou boa parte da vida no exterior, se relacionou com a maioria dos grandes artistas e escritores de seu tempo, e foi o primeiro escritor russo a ser amplamente traduzido na Europa, tendo feito de tudo para trazer outros com ele, em especial Tolstoi.
Para um leitor europeu, justamente por isso, Turgueniev era, e foi por muito tempo, o mais acessível, o mais possível dos grandes autores russos. Dostoievski e Tolstoi são inclassificáveis, duas verdadeiras forças titânicas da natureza. Já Turgueniev era algo mais próximo, mais familiar, mais reconhecível... apenas em outra língua.
Mais tarde, como tantos autores, Turgueniev deserdou sua primeira obra. Dizia que Memórias de um caçador parecia ter sido escrito por outra pessoa, um livro duro e frio, talvez por ter sido gestado em uma longa temporada no exterior. Em uma carta já de 1851, antes mesmo da publicação, afirmava estar cansado do livro, não pretendia reimprimi-lo, nem dar sequência a série, e que agora se dedicaria a obras longas e ambiciosas. Apesar de sempre feita elogiosamente, a comparação com A cabana do Pai Tomás, livro usado na campanha abolicionista dos EUA, era a que mais lhe incomodava: dizia não querer ser visto como um propagandista, algo que toda sua obra posterior bem comprova.
A impressão que fica é que só um russo poderia ter criado essa imensa galeria de pessoas loucas e tolas, teimosas e bárbaras, fracas e santas. Apesar de polido e europeizado, ele carregava em si toda a potência, toda herança cultural dessa terra gigantesca e brutalizada, onde as pessoas ainda eram compradas e vendidas.
Difícil não pensar no Brasil. Nessa época, a escravidão, fato central da vida econômica do Império, era a maior vergonha da nossa elite e raramente, quase nunca, aparecia na ficção. Ao mesmo tempo, nosso maior poeta estava no auge de seus poderes, publicando, em rápida seqüência, Primeiros cantos (1846), Sextilhas de Frei Antão, (1848) e Últimos cantos (1851). Nos textos de Meditação, publicados na imprensa em 1850 e nunca concluídos ou publicados em livro, ele até ensaia uma tentativa de crítica a escravidão, mas não dá continuidade.
Como teria sido nossa história e nossa literatura, nossa cultura e nossa arte, se Gonçalves Dias, ao invés de tentar reproduzir sextilhas medievais em pleno século XIX, ao invés de cantar a nobreza de um indígena que já não existia e estava somente sendo usado para fins ideológicos, tivesse escrito sobre as pessoas escravizadas com quem se encontrou em suas andanças pelo Brasil? Como teria sido um Memórias de um caçador brasileiro, escrito em 1852 por Gonçalves Dias?
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Liberal, apolítico, revolucionário
Turgueniev era sutil demais para ser um autor realmente político, ou pelo menos, para fazer propaganda política maniqueísta e escancarada. O autor político e didático e engajado precisa deixar sua mensagem clara, não pode se dar ao luxo, ao risco do público não entender sua mensagem. Mas Turgueniev sempre dizia que “o segredo para ser muito tedioso é contar tudo”. Ser ostensivamente político na ficção iria contra seu próprio projeto de literatura.
Ironicamente, Memórias de um caçador, esse livrinho despretensioso escrito pelo dândi tão crítica por ser pretensamente leviano e apolítico, teve maiores consequências políticas, mais práticas e mais concretas, do quetoda a obra de Tolstoi e Dostoievski juntas. Em 1879, ao receber título de doutor honoris causa de Oxford, Turgueniev é chamado de “paladino da liberdade”. Para Henry James, escrever Memórias de um caçador era como se um senhor de escravos sulista adotasse o ponto de vista dos escravizados. Herzen escreveu que achava Turgueniev “esperto mas superficial”, e mudou de ideia depois desse livro.
Enquanto viajava pela Europa seguindo Pauline, ou até mesmo antes como simples estudante, Turgueniev estava sempre em contato e se relacionando de perto como vários revolucionários russos exilados, como Herzen e Bakunin e, por isso, era vigiado de perto pela polícia secreta do czar. Em um dado momento, é reconvocado a São Petersburgo e recebe um ultimato: ou dá por escrito sua palavra de nobre de não mais se relacionar com inimigos da coroa, ou não receberia de volta seu passaporte, ou seja, não teria permissão para sair do pais. Incapaz de conceber sua vida longe de Pauline, Turgueniev assina, impondo como única condição que o acordo permanecesse em segredo. Daí em diante, apesar de um começo tão engajado e polêmico quanto escrever Memórias de um caçador, Turgueniev começará a angariar a reputação de escritor despolitizado – o que na Rússia era quase um pecado.
Anos depois, em 1868, ao receber uma homenagem em uma universidade, um aluno o acusa explicitamente de “indiferença perante a vida material e espiritual do povo”, devido aos seus muitos anos morando fora, e exige que ele se posicione politicamente. Turgueniev responde que era um liberal à inglesa e que acredita em reformas graduais vinda de cima. Até aí, tudo bem: essa é de fato a imagem que ele passa, em sua vida, em sua correspondência, em sua ficção. Mas.
A verdade é que, durante toda sua vida, Turgueniev manteve toda relações próximas e cordiais com os maiores revolucionários russos no exterior. Eu cresci entre liberais brasileiros, ricos e conservadores, e posso dar o testemunho que não passaria pela cabeça de nenhum deles, ao visitar Paris ou Nova York, se encontrar com brasileiros revolucionários, nem mesmo lideranças dos sem-terra. Simplesmente não é assim que ricos liberais se comportam, em nenhuma época, em nenhum país. Nosso espanto diante da proximidade de Turgueniev com esses revolucionários não é anacrônica, pois a polícia secreta do czar compartilhava o sentimento. Estaria ele esse tempo todo financiando e auxiliando os revolucionários? Debaixo da camada de sutileza e descrição, quem era realmente Turgueniev? Será que sabemos?
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Memórias de um caçador
Turgueniev, veterano de tantas caçadas e autor das Memórias de um caçador, não tinha nenhum instinto de caçador. Uma vez, numa caçada, viu uma codorna se sacrificar para salvar sua ninhada. Depois disso, escreveu ele, ficou cada vez mais difícil derramar sangue de animais. Para Turgueniev, como se pode intuir pelos contos do livro, caçar era mais uma atividade recreativa de contato com a natureza e com a transcendência do mundo real, e de interação com novas pessoas, servos e camponeses, do que caça propriamente dita, essa atividade sempre competitiva e, por definição, mortal e destrutiva. Fica um pouco a impressão que ele queria mesmo era andar a esmo pelo mato, mas isso não seria apropriado para um jovem aristocrata russo, então ele saía para “caçar”.
Por volta da mesma época, entretanto, em 1845, Thoreau se muda para uma cabana a beira do lago Walden, começa a escrever sobre sua experiência no ano seguinte (mesmo ano em que Turgeniev escreve o primeiro conto de Memórias de um caçador) e, em 1854, publica Walden – dois anos depois da publicação das Memórias em forma de livro. Mais tarde, em 1862, Thoreau publica o ensaio “Walking”, que tenho certeza que Turgueniev teria amado. Quase posso imaginar ambos sentados à beira do lago Walden ou andando pelas florestas russas, mas a verdade é que não duraria: Turgueniev não suportaria a vida minimalista de Thoreau, tão longe dos confortos da vida aristocrática ocidental; por outro lado, Thoreau, misantropo raiz, não agüentaria o amor e a curiosidade de Turgueniev por pessoas, por saber quem eram, o que pensavam, o que tinham a dizer.
Pois é isso que são os contos de Memórias de um caçador: utilizando a caça como pretexto para a extrema mobilidade do narrador, são uma série de deliciosos experimentos narrativos por um jovem autor ainda testando as águas do seu enorme talento e absolutamente maravilhado pela diversidade de pessoas que encontrava em suas andanças e caçadas. Em algumas histórias, ele é apenas interlocutor curioso, como em “Khor e Kalinich” e “Relíquia viva”; noutras, é participante acidental, como “Meu vizinho Radilov” e “Lgov”; algumas vezes, ele só observa passivamente, como em “O encontro” e “Os cantores”; em outras, ele faz menos ainda e apenas passa adiante histórias, como em “Morte”. Esse imenso painel, não só de personagens fascinantes, mas também de técnicas narrativas dispares, é testemunho de um jovem autor em busca de seu estilo.
Nesse grande painel cada historia enriquece a outra, dá contexto à outra. Temos proprietários pobres (em “O medico do distrito”), proibições religiosas (como em “Meu vizinho Radilov”, pois a igreja ortodoxa impedia um homem de casa com sua cunhada), a servidão como uma nuvem de terror que circunda alguns meninos (“O prado de Biejin”), as muitas mortes de “Morte” claramente deixando implícito que existe uma justiça maior, etc. Também importante, o livro traz muitos exemplos da crueldade dos patrões e da subserviência dos servos. Em “Água de Framboesa”, um velho servo conta todas as maldades e extravagâncias de seu senhor, só pra concluir que ele era tudo que um senhor deveria ser e que ele, servo, sentia falta daqueles bons e velhos tempos. Em “Dois latifundiários”, um servo é surrado de forma autoritária e indiscriminada e, depois, admite ao narrador que tem certeza de que mereceu, e ainda completa: “você não vai achar outro patrão como ele na província inteira!” E o narrador comenta: “essa é a Rússia!” Os senhores são quase uniformemente retratados de forma negativa. Não é a toa que a elite conservadora detestou o livro. Escreveu o revolucionário Herzen: “nunca a vida interna da casa de um proprietário tinha sido descrita com tanto escárnio, desprezo, com tamanho ridículo. Essa obra é uma condenação sem precedentes da escravidão que nos aprisiona a todos.”
Os servos de Turgueniev são tão humanos, tão redondos, tão completos que precisamos constantemente nos lembrar que são escravizados: não são donos de si, não podem sair de sua terra, não podem casar sem permissão. São escravizados. Na época, a “questão da servidão” era uma importante questão política. Mas, para Turgueniev, chamar essas pessoas de “questão” as desumanizava. O que ele faz com essas histórias é libertá-las ficcionalmente; é mostrar que cada uma delas individualmente era maior que essa “questão”; é dar um rosto humano à “questão da servidão”. Nunca ninguém tinha descrito o interior da Rússia com tamanha riqueza de detalhes, com tamanha humanidade. As pessoas contemporâneas ficaram maravilhadas e surpresas ao serem apresentadas a seu próprio país. Aqueles servos, que a elite intelectual via como quase animais, eram, quem diria!, pessoas humanas de vida interna riquíssima.
As histórias são simples. Parecem escritas sem intenção e sem arte, sem preocupação em moldar cada conto como uma unidade formal de sentido e sem interesse em forçar um começo, um meio e um fim a essas “fatias de vida”. Ironicamente, essa falta de literatura dá aos contos um forte tom de verossimilhança documental: não sentimos esses relatos como ficção, mas como vida vivida e documentada. Por isso também podem até soar bobos, insuficientes ou incompletos um a um, mas crescem absurdamente no conjunto. É um estilo que remete mais às experimentações estilísticas do século XX do que ao careta e bem comportado romance do século XIX – do qual Turgueniev seria mais tarde um praticante tão talentoso, quase perfeito. Na virada do XIX pro XX, desenvolvendo as lições de Turgueniev em Memórias de um caçador, Tchecov levaria todas essas técnicas um passo além, tanto em seus contos “fatias da vida” quanto em suas peças onde nada acontecia.
Em uma brilhante autocontenção, o narrador até mesmo conversa um pouco com os servos, mas, sabendo que não é ele o foco dos relatos, se limita a simplesmente observar e registrar a vida dos servos, demonstrando um mínimo de interferência. O fato de as histórias serem tão leves e desestruturadas cria uma forte impressão de imediatismo e veracidade, como se fosse realmente um diálogo registrado por aquele caçador-narrador no dia seguinte aos encontros. Em algumas historias, como em “O encontro”, onde o narrador apenas reproduz uma conversa alheia, o efeito de verossimilhança é ainda maior, nos parece quase um documentário. Assim como a leitora precisa constantemente se lembrar que aquelas pessoas são escravizadas, ela também precisa constantemente se lembrar que esses contos são criações literárias sofisticadas. Mesmo assim, foi difícil não ficar imaginando um jovem Turgueniev de fato encontrando todos esses servos em suas caçadas e escrevendo sobre eles no dia seguinte.
Não há dúvidas a respeito do impacto de Memórias de um caçador na luta contra a servidão. O czar Alexandre II, que emancipou os servos em 1861, adorou o livro. Foi a primeira vez que os servos apareciam na literatura russa como pessoas inteiras e com sentimentos verdadeiros, falando e amando, sofrendo e morrendo. A subjetividade humana dos servos era um fato que as classes altas russas simplesmente não reconheciam e nunca tinham sido forçadas a encarar. A popularidade das Memórias de um caçador foi um passo essencial para a mudança na mentalidade que permitiria a emancipação dos servos menos de nove anos depois de sua publicação. Com toda a justiça, Turgueniev considerava esse o maior feito da sua vida.
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A importância da tradução
Memórias de um caçador é um dos meus livros mais importantes da vida. Minha história favorita é “O encontro”.
Quando li pela primeira vez, na década de 1990, não havia nenhuma tradução para o português que eu tivesse conseguido encontrar. Então, li na tradução inglesa de Richard Freeborn, publicada pela Penguin em 1967, e me apaixonei. Depois, reli na tradução também inglesa de Charles e Natasha Hepburn, publicada pela Everyman’s Library, e não gostei muito, tudo me pareceu chocho. Por fim, reli na deliciosa tradução de Constance Garnett, de 1895, sobre quem já falei aqui, a santa inglesa que traduziu quase toda a literatura russa para o inglês na virada do XIX para o XX. (Ela considera Turgueniev o russo mais difícil de traduzir, especialmente esse livro, pois ele reproduzia uma variedade muito grande de dialetos e modos de falar dos servos.) Não leio russo, nem um pouquinho, então, não sei nem julgar tecnicamente quais dessas traduções são melhores: só sei que tenho uma infinita simpatia por Garnett. Nas décadas seguintes, continuei lendo e relendo o livro nessas três traduções.
Agora, hoje, em 2023, para dar a aula sobre Memórias de um caçador, decidi reler em espanhol, na tradução de José Maria Bravo, lançada pela Cátedra em 2007, e em português, na tradução brasileira de Irineu Franco Perpétuo, publicada pela editora 34 em 2013. E foi apenas graças ao Irineu que percebi um detalhe crucial da minha história preferida que nunca tinha percebido antes.
Pois bem. Na história “O encontro”, temos um diálogo entre dois servos, um homem e uma mulher, testemunhado pelo narrador. A moça, Akulina, está esperando na floresta por seu amado, Victor, que chega bastante atrasado e somente para se despedir, pois está saindo da região, talvez país, junto com seu patrão. Essa notícia deixa Akulina desesperada, morta de amor que está por ele, mas o rapaz não percebe ou não liga, se recusa a demonstrar qualquer empatia pela dor da moça e, quando ela recomeça a chorar pela enésima vez, simplesmente vai embora. Fim.
A seguir, um trechinho bem pequeno e representativo do diálogo desse conto, em cinco traduções. Peço que leiam com cuidado e reparem em uma enorme diferença. Primeiro, na tradução britânica de Constance Garnett:
— Well, now, please! Please, don’t cry, Akulina. You know I can’t stand that. Otherwise, I’ll leave right now... How silly of you—you’re snivelling! // —Then I won’t, I won’t. You’re leaving tomorrow? When will God grant that we see each other again, Viktor Aleksandrych?
Na tradução britânica de Richard Freeborn:
— Now, now, now, please, please, Akulina, no crying. You know I can’t stand crying. If you start, I’ll leave at once. What silliness—blubbering! // No, I won’t, I won’t. So you’re leaving tomorrow? When will God bring you back to see me again, Viktor Aleksandrych?
Na tradução britânica dos Hepburn:
— There, there, there, for goodness’ sake! For goodness’ sake, Akulina, don’t cry. You know I can’t bear it. Or else I’ll go away at once. It’s too stupid—grizzling!// — No, no, I won’t. So you’re leaving tomorrow? When will God grant us to see each other again, Viktor Aleksandrich?
Durante trinta anos, eu li e reli, e amei, esse conto nessas três traduções e só agora, em 2023, lendo em espanhol e português, percebi que havia um elemento importante que eu não estava captando... porque nenhuma das traduções inglesas nem mesmo tenta traduzi-lo. Vejam se conseguem captar o que é na tradução espanhola de José Maria Bravo:
— Bueno, bueno, te lo ruego, haz el favor, Akulina, no llores. Sabes que detesto eso. De lo contrario, ahora mismo me voy… ¡Que estupidez, lloriquear! // — Bueno, no lloraré, no. Así que mañana parte usted? Cuándo querrá Dios que nos volvamos a ver, Viktor Alexándrych?
Perceberam?
Vou confessar: na primeira leitura, eu não percebi. Leio, escrevo, falo espanhol muito bem (fiz doutorado em espanhol, dei aula de espanhol) e, ainda assim, passou batido pelo meu ponto cego, ou melhor, ponto surdo, do meu ouvido de brasileiro. Reparem que o tradutor espanhol fez a parte dele, meu ouvido é que não colaborou.
Foi apenas o santo Irineu Franco Perpétuo, compatriota e contemporâneo (as duas coisas são importantes), escrevendo para um público alvo de pessoas como meu, com o meu ouvido e com as minhas expectativas, que me fez finalmente perceber. Aposto que agora vocês vão perceber também:
— Ei, ei, ei, por favor, por favor, Akulina, você sabe que eu não suporto isso. Senão, vou embora agora. Choramingar! Que estupidez! // — Não choro, não choro, não choro. Então, o senhor vai embora amanhã? E quando Deus vai permitir que nos vejamos de novo, Viktor Aleksándritch?
Agora ficou claro, não? Além da distinção de tratamento que todas as traduções reproduzem (ele se refere a Akulina pelo primeiro nome, ela usa primeiro nome e patronímico), tem outra ainda mais importante: Viktor trata Akulina com o familiar “você”, mas Akulina o trata com o formal e respeitoso “o senhor”.
Na maioria das línguas românicas, inclusive no português de Portugal, existe uma distinção forte entre tratamento na segunda ou terceira pessoa: usa-se “tu” para pessoas próximas e íntimas, e “você”, em ocasiões mais formais. Se você chamar seu amigo hispânico de “usted”, ele provavelmente responderá “tutéame, por favor!” Em Portugal, essa distinção se mantém e em algumas poucas regiões do Brasil também, mas, em larga medida, para a imensa maioria das falantes do português brasileiro, essa distinção se perdeu. Para o meu ouvido de carioca, “tu” e “você” são intercambiáveis. No inglês, essa distinção perdeu-se há muito mais tempo. Em Shakespeare, ela ainda existe, onde (estranhamente para nossos ouvidos!) “thou” é informal e “you”, formal. (Sem saber disso, e mesmo falantes nativos não sabem, muitos diálogos de Shakespeare não fazem nenhum sentido.) Pouco depois, com a queda do “thou”, até mesmo essa distinção se perdeu e o “you” ocupou todas as posições.
Na tradução espanhola, Viktor tuteia Akulina, enquanto Akulina o trata por “usted”. Para um ouvido hispânico, acostumado a ouvir essa distinção, não tenho dúvida que soa tão gritante quanto para nós ver Akulina chamando de “o senhor” quem tinha acabado de tratá-la de “você”.
A tradução brasileira só funciona porque Irineu, além de bom tradutor, é nosso compatriota e nosso contemporâneo. Um tradutor português, ou um tradutor brasileiro de poucas décadas atrás, simplesmente seguiria o espanhol e traduziria Akulina usando “tu” e Viktor, “você”. E é bem provável que nossos ouvidos brasileiros de 2023 (os meus, pelo menos) não captariam a distinção.
Irineu está seguindo uma tendência bem recente nas traduções brasileiras. Conscientes de que, para os leitores brasileiros, a distinção entre “tu” e “você” se perdeu, tradutores contemporâneos não traduzem mais literalmente (digamos) “tu” por “tu” e “usted” por “você”, mas sim “tu” por “você” e “usted” por “o senhor”. Pode parecer paradoxal, mas não traduzir “usted” por “você” é a única maneira de reproduzir, na nossa língua e na nossa época, essa distinção de tratamento tão fundamental e sentida com tanta força por falantes de russo e francês, de espanhol e de italiano.
E uma última inquietação: como pode nenhuma das três traduções britânicas nem mesmo tentar reproduzir essa diferença de tratamento? Será possível que os tradutores não perceberam – como eu não percebi, na primeira leitura da tradução espanhola? Duvido. Para traduzir, é preciso mergulhar fundo no texto. Será que acharam que não era importante? Difícil: a história todinha é sobre o amor subserviente de Akulina diante do desprezo altivo de Viktor. Talvez tenham achado que era simplesmente impossível de traduzir e seguido viagem? Pode ser. Hoje em dia, para melhor compreensão dessas nuanças, as mais recentes traduções para o inglês já estão enfiando um “you, sir” ou “you, madam” onde um tradutor brasileiro escreveria “o senhor” ou “a senhora”. Melhor assim.
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Lugar de fala, ideologia & classe
Turgueniev não deixa de se implicar nos crimes de sua classe. Em “O odnodvoriets Ovsiánikov”, um dos servos conta ao narrador (sempre um alterego de Turgueniev) como avô do nobre havia roubado parte das terras do pai do servo, e ainda surrado o homem quando ousou reclamar. O narrador não sabe o que responder, mas fica registrado que sua sua riqueza é fruto da violência e dos roubos de seus antepassados. Em “Relíquia viva”, o servo que acompanha o narrador na caça o leva até uma propriedade sua que ele nem sabia que possuía. (Quanta terra uma pessoa precisa possuir para ter terras e terras que ignora?)
Apesar de denunciar os abusos e arbitrariedades dos patrões, Turgueniev é um deles e sabe disso. Ele teve uma filha com uma de suas servas, uma costureira, cuja existência ele só descobriu quando a menina tinha 8 anos e morava em São Petersburgo com a mãe, que tinha aparentemente se prostituído. Ele ficou chocado, pois não tinha nenhuma lembrança da mãe da criança e ela estava em uma situação lamentável. Em suas muitas cartas aos Viardots (é assim que sabemos tanto sobre essa história), ele afirma que a própria existência da menina o acusava, tripudiava dele. Tinha medo que aconteceria com a menina quando a mãe dele morresse – ela morreria naquele mesmo ano, 1850. Escreve desesperado aos Viardots, diz que eram sua única família, e pergunta o que deve fazer: Colocá-la num convento? Termina implorando para que criem a menina como se fosse deles e, surpreendentemente, eles topam. A própria Pauline não tinha muito instinto maternal e vivia consumida pelo trabalho. E, para Louis, a filha única dos dois só dava dor de cabeça, achava que estava sendo mimada pelas babás. Uma criança a mais, respondem, não seria nenhum peso e faria companhia não só à filha deles, mas também a outra criança bastarda que criavam, filha ilegítima de um primo também bastardo de Pauline. (Como se vê, Turgueniev não tirou essa ideia do nada.) Foi assim que Turgueniev não apenas passou 40 anos vivendo com os Viardots mas eles também criaram sua única filha. Os homens morrem ambos em 1883, Pauline em 1910 e a filha de Turgueniev em 1919.
Lendo Memórias de um caçador em 2023, uma das coisas que chama atenção é a articulação do lugar de fala de Turgueniev e de seu alter-ego narrador. Ele obviamente não pode deixar de ser, e de ver o mundo, como um homem da sua classe social. Ele é, e se sabe, totalmente alienígena àquele mundo dos servos, mas também se coloca como um observador curioso e empático, que enxerga e quer ouvir. Ou seja, Turgueniev reconhece claramente seu “lugar de fala”: ele nunca fala como um servo, ou pelos servos. Ele é sempre ele, um jovem nobre proprietário, observador externo, mas sinceramente interessado. Consciente de que não pertence nem pode pertencer àquele mundo, falando apenas por si mesmo, sem nunca usurpar a voz ou discurso do outro.
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A anulação de si
Todo dia, eu refaço os três votos da Ordem dos Pacificadores Zen: Praticar o não saber, abrindo mão de certezas prévias; Estar presente na alegria e no sofrimento, não virando o rosto à dor alheia; Agir amorosamente, de acordo com essas duas posturas.
Para quem faz esses votos, Memórias de um caçador é um livro especialmente potente: em cada história, parece ser essa a perspectiva do. Ele é um homem de sua classe social que fala como um homem de sua classe social, naturalmente. Por outro lado, ele nunca traz certezas, faz afirmações ou impõe sua opinião. A cada nova interação, ele se abre e se joga e se entrega, limpo e livre, sem voltar o rosto nem para a alegria, nem para a dor, e sempre agindo (na medida das suas limitações de classe) amorosamente. O livro inteiro é uma exemplificação de como viver e agir com base nos três votos da Ordem dos Pacificadores Zen.
Cada história é um encontro breve com um servo, sem começo, meio ou fim, uma fatia de vida, destacando assim a natureza efêmera desses relacionamentos: o narrador sabe que não pertence aquele mundo e que só está lá de passagem. Em cada uma dessas histórias, o narrador exerce a difícil arte de sumir, de se auto anular, de desaparecer na paisagem, de interferir quase sempre o mínimo possível, e de deixar a vida tomar seu curso. Uma aula de desapego.
Turgueniev, como um nobre e rico aristocrata, sabe que não faz parte do mundo dos servos, mas sua escolha literária e estilística como autor dessas histórias é afirmar estar fora, ou seja, escolher chamar atenção para essa sua posição e nunca presumir seja falar pelos servos ou se apresentar como um deles. (Não há nada parecido com os brasileiríssimos “ele é um escravo de alma branca” ou “ela é como se fosse da família”.) Pelo contrario, o valor que Turgueniev nos vende, a utilidade e a beleza que enxerga nessas historias, está justamente nessa mirada nos servos de fora para dentro.
O brilhantismo da arte de Turgueniev está em capturar aquele momento fugaz entre a percepção e a não percepção. Seu narrador sempre repara sem ver, observa sem enxergar. Temos a impressão de estar ao mesmo tempo dentro e fora da cena. As cenas vão se sucedendo em eterno fluxo, sempre imediatamente abaixo da nossa percepção, quase perceptíveis, mas não muito. São historias absurdamente leves, sensíveis, delicadas, mesmo em seus piores momentos, especialmente em seus piores momentos.
Tolstoi também é um mestre do olhar, com uma diferença: ele é uma personalidade tão grande e tão forte, tão egocêntrica e tão narcisista, que ele é sempre Tolstoi. Toda a obra de Tolstoi foi escrita e somente poderia ter sido escrita pela potência titânica que foi Tolstoi. É impossível ler Tolstoi e não saber que estamos lendo palavras escritas pelo gigante irrepetível Tolstoi.
Já Turgueniev tem a mesma intensidade e a mesma precisão no olhar, mas sem o ego: ele não só consegue sair de si mesmo e sair da cena, observando a vida sem participar e sem interferir, como também parece saber que aquele momento observado não encerra a verdade concreta das coisas, mas apenas um, instante do fluxo mutável e delicado da realidade. Tolstoi é grande porque, mesmo fazendo seu rol de roupa suja, parece estar descrevendo a Verdade com V maiúsculo, algo concreto e essencial. Turgueniev é grande pelo motivo radicalmente oposto: porque parece estar sempre fundamentalmente descrevendo a contingência da realidade, momentos que mal são vividos, observados e descritos e já sumiram nas águas do tempo. Essa delicada capacidade de auto-anulação, completamente fora do alcance de um ego como o de Tolstoi, permanece como o maior legado literário de Turgueniev, a ser levada a novas alturas por seu maior discípulo, Tchecov.
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Leia também meu texto principal sobre Tchecov.
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Obras consultadas
Allen, Elizabeth Cheresh, “Turgenev today” in Turgenev, Ivan. The essential Turgenev. Evanston: Northwestern UP, 1994.
Egremont, Max, “Introduction” (1992) in Turgenev, Ivan. A sportsman’s notebook. Londres: Everyman’s Library, 1992.
Freeborn, Richard, “Introduction” (1967) in Turgenev, Ivan. Sketches from a hunter’s album. Londres: Penguin, 1967.
Perpétuo, Irineu Franco, “Turgueniev apresenta suas armas” (2013) in Turgueniev, Ivan. Memórias de um caçador. São Paulo: Editora 34, 2013.
Pritchett, V. S. The gentle barbarian. The work and life of Turgenev. Nova York: Ecco Press, 1977.
Schapiro, Leonard. Turgenev, his life and times. Cambridge: Harvard UP, 1978.
Ujánova, Natalia, “Introducción” (2007) in Turguénev, Ivan. Memorias de un cazador. Madri: Cátedra, 2007.
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Leu o texto? Assista à aula
Todo mês, na segunda quarta-feira, dou uma aula de literatura ou de História para as pessoas mecenas do meu Apoia-se. Essa foi a aula de março de 2023. As aulas são exclusivas para apoiadoras, mas decidi publicar essa aqui de forma aberta e gratuita. Se você gostou, se foi útil, por favor, considere fazer uma contribuição em dinheiro: é disso que eu vivo e você estará me ajudando a dar outras aulas para outras pessoas.
Pix: eu@alexcastro.com.br // Apoia-se: apoia.se/alexcastro
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O Curso das Prisões
As inscrições estão abertas para O Curso das Prisões. Em março, estamos conversando sobre a Prisão Religião. Em abril, falaremos sobre a Prisão Classe. Esse texto sobre Memórias de um caçador foi escrito para dar subsídios a ambas as aulas. Vem com a gente?
O texto, excelente, é uma montanha russa (desculpa o trocadilho) de informações preciosas para que ama os russos.
Amo Turgueniev embora Tchekhov seja o rei do camarote.
Coincidentemente estou lendo Memórias de Um Caçador e Hemingway (Por quem os Sinos Dobram) e amando cada texto dele estupendo escritor.
Só colocaria no outro cercadinho ele, o cara que inspirou Freud e nos revela toda a angústia de viver, Dostô com um passado e uma vida que parece obra de ficção.
Também curto demais Bulgákov, de O Mestre e Margarida, um livro sem igual.