Minhas contistas preferidas
Não é fácil escrever contos perfeitos, mas essas pessoas autoras conseguiram
Existem pessoas autoras que jogam em todas as posições: conto e romance, ensaio e poesia. Mas, muitas vezes, as melhores contistas são só contistas. As qualidades necessárias para criar contos perfeitos, essas maravilhosas narrativas hipercomprimidas, quase sempre se perdem em narrativas longas. Apesar disso, algumas grandes artistas conseguem. Abaixo, estão as minhas pessoas contistas preferidas de todos os tempos.
3 brasileiras. 3 mulheres. 2 austríacas. 2 argentinas. 4 que escreviam em alemão, mas só uma alemã. 3 que escreviam em espanhol.
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Aliás, todo mês eu dou uma aula de literatura avulsa para minhas pessoas mecenas: a de janeiro, que acontece amanhã, quarta, 17 de janeiro, às 19h, será sobre minha contista viva preferida: Mariana Enríquez. Só pra mecenas. Vem comigo?
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Não contos, mas livros de contos
Sou da teoria que um livro de contos deve ser lido inteiro, na ordem que a pessoa autora escolheu. O livro de contos é, antes de mais nada, uma unidade. Houve uma artista que pensou nele enquanto unidade, que organizou os contos em uma ordem específica, que criou uma narrativa deliberada. Um bom livro de contos que tenha sido pensado como livro de contos merece ser lido como uma unidade.
Então, em primeiro lugar, vamos aos meus livros de contos preferidos.
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O cantor do desespero sem fim
O autor que deu um nome ao nosso desespero nos legou dois livros de contos perfeitos: o primeiro foi publicado ainda em vida e o segundo ele estava revisando as provas no seu leito de morte. (Ou seja, não é verdade que mandou queimar toda a sua obra!) Amo ambos os livros, são realmente perfeitos. Prefiro o segundo por ter dois dos meus contos preferidos sobre arte e artistas: o terceiro e o quarto contos. A tradução brasileira é considerada excelente, premiadíssima.
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Um cego entre livros
Esse outro mestre absoluto da literatura universal nos legou dois livros de contos perfeitos, seus dois primeiros, escritos ainda na juventude. Ambos são quase igualmente tão bons, mas o primeiro tem mais contos icônicos e inesquecíveis que o segundo. (De qualquer modo, recomendo ler os dois.) No primeiro livro, o segundo e o oitavo contos são dos mais inesquecíveis da minha vida, estão sempre na ponta da minha língua, cito mil vezes. (Escrevi sobre o primeiro livro aqui.)
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Imitando rosas e perseguindo galinhas
Nossa maior autora era muito melhor romancista que contista. Ainda assim, ela era tão, mas tão boa, que até seus livros de contos, que empalidecem perto de seus romances, são alguns dos melhores livros de contos de todos os tempos. Gosto de dois: um da década de sessenta e outro, da de setenta. Também vale a pena comprar essa belíssima edição de todos os seus contos. Não esqueço o primeiro conto desse aqui. (Sobre ela, escrevi esses três textos.)
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Contos engraçados e politizados
Best-seller mundial por seus excelentes romances, esse autor nos deixou um livrinho de contos de juventude tão perfeito, tão engraçado, tão singelo que não consigo deixar de considerá-lo um dos meus livros de contos preferidos de todos os tempos, tão bom quanto seus geniais romances — que eu também amo. (Ele faleceu ano passado e escrevi seu obituário aqui.)
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Brutalidade feminina hispânica
Tenho ficado apaixonado pela ficção recente de jovens mulheres hispânicas. Tem realmente muita, muita coisa. Os contos dessa equatoriana me nocautearam: o primeiro e o segundo não me saem da cabeça; o sétimo, o oitavo e o nono são também sensacionais. Mas o grande nome da nossa safra é essa portenha maravilhosa, que será assunto da minha aula avulsa de amanhã: eu não conseguiria escolher qual é o melhor entre seus dois livros de contos, se o primeiro, de 2009, ou o mais recente, de 2016. Se eu fosse listar os contos que não me saem da cabeça, seriam quase todos.
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O inescapável bruxo
Por fim, nosso maior escritor nos deixou cinco excelentes livros de contos — os últimos que publicou; os primeiros não estão à altura. Eu não saberia escolher o melhor. Realmente não saberia. Tentei aqui e não consigo. O que eu recomendo é ler esses livros de contos na sequência, um livro de cada vez, todos os contos: o de 1882, o de 1884, o de 1895, o de 1899 e, por fim, o último de 1906. Ou, então, essa antologia dos 50 melhores contos. (Escrevi sobre os contos dele e também sobre seu maior romance.)
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As seleções e antologias de contos
Agora vamos às pessoas contistas cujos contos estão reunidos em antologias que não foram elas que organizaram. Ou seja, não faz mais tanta diferença “o livro de contos enquanto unidade”: agora, o que importa mais é a seleção em si dos contos.
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Meu autor preferido isolado
Esse russo é meu autor favorito isolado. A melhor pessoa autora de todos os tempos. Meu mestre. Existem várias antologias de seus contos em português, mas quase nenhuma com a qual eu concorde muito com a seleção. Recomendo começar com essa recém-lançada antologia de seus últimos contos, por um de nossos maiores tradutores. (Já escrevi sobre ele aqui.)
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O estranho
Talvez o nome mais desconhecido aqui da minha lista, esse alemão maravilhosamente louco simplesmente inventou o gênero do conto fantástico. Para Freud, ele era sinônimo de “estranheza”. Apesar de hoje não tão lembrado, todo contista do XIX bebeu na sua fonte: sem ele, não exisitiriam as Noites na Taverna, de Álvares de Azevedo, entre muitos outros. Temos duas excelentes antologias em catálogo no Brasil hoje: ambas contém os mesmos contos imperdíveis e uma pequena seleção de outros. Essa aqui é mais longa e tem o texto do Freud, então ganha por um nariz. A outra é bem legal também.
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Em sua casa em R'lyeh, o morto aguarda sonhando
Ainda nos autores de terror, esse homem transforma uma lista de mercado em algo aterrorizante. Ninguém escreve como ele: quando dizem que não se deve escrever com muitos advérbios, mostro o que ele faz com advérbios. Se puderem, leiam no original. Faz a diferença. Essa edição anotada ilustrada é um dos livros mais legais que tenho. Em português, qualquer antologia dos melhores contos vai ser uma excelente porta de entrada, como essa ou essa.
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O Horlá
O grande mestre francês do conto realista e, também, do fantástico. Ficou rico escrevendo contos, viveu a vida louca e acabou morrendo jovem, e louco. Seus melhores contos são pequenas obras-primas. Essa edição dos seus 125 melhores contos é perfeita, bem traduzida, bem escolhida, recomendo.
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Contos de sonho
Esse austríaco maravilhoso é um dos grandes mestres da literatura. “Tudo o que descobri no consultório você intuiu por conta própria”, dizia Freud, seu fã, seu vizinho, seu contemporâneo. Seus contos, infelizmente, não estão em catálogo no Brasil, apenas seus romances — recomendo esse aqui, incrível, hipnótico. Em português, essa coletânea excelente ainda se encontra pelos sebos. Para quem lê inglês, essas duas antologias contém seus melhores contos.
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Do mundo de ontem para o país do futuro
Tenho um carinho enorme por esse outro austríaco também maravilhoso, que viveu para ver seu mundo virar um “mundo do ontem”, fugiu para o Brasil, que apelidou de “país do futuro”, e se matou no meu Rio de Janeiro. Seus contos são simplesmente sensacionais, belíssimos. Recomendo essa antologia: o segundo conto e o último nunca saem da minha cabeça.
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É batata
Como não amar esse outro mestre brasileiro? Esses contos, individualmente, não são maravilhosos, mas o conjunto, o mosaico que eles formam, as repetições obssessivas, são de tirar o fôlego. Me lembro de dar esses contos para minhas pessoas alunas estadunidenses e elas não acreditavam: “isso aqui saía no jornal brasileiro na década de setenta?!” Recomendo esse box, ou então só o livro principal. (Escrevi sobre ele aqui.)
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