Os cem livros do século, e alguns comentários
E mais: As últimas fofocas do templo! O novo vice-presidente do Trump! As melhores ofertas do Prime Day!
Queridas pessoas leitoras,
Desculpem o sumiço. Esse foi um mês bem intenso. Deixa eu primeiro contar uma rápida fofoca da minha vida e, depois, fazer um breve comentário sobre as notícias. Então, falamos dos livros do século.
(Antes de começar: está rolando essa semana o Prime Day na Amazon Brasil, com descontos realmente grandes. Qualquer coisa que você compre lá depois de clicar em um dos meus links eu ganho comissão — mesmo se comprar um item diferente do que clicou. Então, se algo aqui te interessar, clica — o desconto pode te surpreender. E muito, muito obrigado mesmo.)
* * *
Notícias do templo
No campo das notícias pessoais, Marina e eu não vamos mais administrar nem morar no Templo Zen de Copacabana, como anunciei aqui. Passamos seis meses administrando o templo, e foi uma experiência incrível, mas antes que pudéssemos nos mudar, o dono da casa, Mestre Tokuda pediu a casa de volta para desenvolver outros planos e projetos. Teríamos podido continuar ligados à casa em outras capacidades, mas preferimos não. O último zazen com café da manhã foi no sábado, 6 de julho (foto abaixo), e, desde então, já não temos mais nenhum vínculo formal com a casa, com o templo, com Mestre Tokuda.
Um dia, quem sabe, essa história rende um livro, talvez até uma série: Fogo & Impermanência, Game of Dojos, A Casa do Dragão Zen, etc. ;)
* * *
Um vice-presidente escritor e incendiário
Na sua primeira campanha, querendo mostrar que não era tão alucinado assim, Trump escolheu o vice-presidente mais bem-comportado possível e imaginário: “Olha, se esse homem sabor baunilha topou ser meu vice, não devo ser tão estranho!” Sabemos como o mandato terminou: Trump quase causou a morte de Pence e ambos não se falam mais.
Agora, na sua terceira campanha presidencial, dando o tom para o que será seu segundo mandato, Trump seguiu o caminho oposto: escolheu o vice mais jovem, mais radical, mais incendiário de todos. J. D. Vance ficou famoso com um livro que publicou no ano em que Trump ganhou a presidência, 2016, para explicar justamente os ressentimentos desse norte-americano branco e rural que estava ascendendo politicamente naquele momento. Muita gente que queria compreender a eleição de Trump correu para ler o livro de Vance. (Vale lembrar que, até 2021, Vance era crítico radical de Trump. Depois, se amigaram.)
Enfim, agora o livro de Vance ganhou nova relevância. Vou ler, e recomendo que vocês leiam também. O original se chama Hillbilly Elegy: A Memoir of a Family and Culture in Crisis e está à venda na Amazon BR por R$39. No Brasil saiu pela Leya com o título Era uma vez um sonho: A história de uma família da classe operária e da crise da sociedade americana e está saindo por R$24.
Comprando na Amazon BR a partir dos meus links, eu ganho uma comissão e te agradeço demais.
* * *
Os livros do século
Essa semana, o New York Times fez uma lista dos 100 livros do século.
(Aqui está a lista na Folha de São Paulo, com os títulos e editoras no Brasil quando disponível. No fim da newsletter, dou os links para os livros da lista que estão com maiores descontos na Amazon.)
Antes de comentar a lista, é preciso entender três coisas. Em primeiro lugar, a lista não inclui só ficção, mas livros no geral.
Em segundo, que o fato de ser uma votação por mais de 500 personalidades literárias do mundo anglófono traz duas consequências importantes: os livros escolhidos vão tender a ser desse mesmo contexto linguístico e a seguir as listas de best-sellers. Essas duas consequência não são nem problemas nem defeitos, mas características necessárias: toda lista desse tipo só pode incluir os livros aos quais os votantes tiveram acesso e, quanto mais famoso o livro, mais votos vai obter.
Tem gente brasileira reclamando dessa lista por ter “muitos livros anglófonos”. Mas, ano passado, a Folha de São Paulo pediu pra quatro personalidades literárias brasileiras (eu incluso) escolherem cada uma os cinco melhores lançamentos do ano. Dos vinte livros escolhidos por esses quatro brasileiros, oito (oito!!!) foram brasileiros.
Imaginem agora quão ridículo seria um argentino reclamando que tem livro brasileiro demais na lista feita por brasileiros para um jornal brasileiro.
* * *
As grandes ausências
Entrou a coreana Han Kang, maravilhosa, mas cadê a japonesa Sayaka Murata, tão incrível quanto, que retratou a tirania da normalidade em Querida konbini?
Entrou Alice Munro, canadense maravilhosa, mas cadê outra canadense maravilhosa, Margareth Atwood, que é praticamente a autora da nossa triste época com O conto da aia e sua continuação Os testamentos?
Entrou o Roberto Bolaño, chileno mala, com dois livros!, mas não entrou o cubano Leonardo Padura, que articulou a história do século XX em O homem que amava cachorros?
Por fim, ok não entrar o português rabugento e insuportável António Lobo Antunes, mas falta do francês rabugento e insuportável Michel Houellebecq é, em si mesma, insuportável.
* * *
Minhas leituras
Dos 100 livros, li apenas 10, dos quais 4 escritos originalmente em inglês. (Marina, minha esposa, muito mais ligada em literatura contemporânea que eu, leu 40!) Vamos às minhas leituras, com rápidos comentários.
* * *
Dias de abandono, Elena Ferrante (#92)
Elena Ferrante, seja essa pessoa quem for, é a grande pessoa autora do século. Esse livro não é tão perfeito quanto a Tetralogia Napolitana, que levou o primeiro lugar, mas é absolutamente sensacional.
* * *
História da menina perdida, Elena Ferrante (#80)
Esse é o último livro da Tetralogia Napolitana. Falo de todos mais abaixo.
* * *
Nickel and dimed: on (not) getting by in America, Barbara Ehrenreich (#57)
Cheguei em UC Berkeley no outono de 2005, refugiado do Furacão Katrina, e esse livro, publicado três anos antes, ainda era o livro que todo mundo estava falando, lendo, estudando. Li e não me arrependi. É a história de uma jornalista investigativa que decidiu viver com salário mínimo por algum tempo. O livro não tem novidades para brasileiros pobres, mas abriu a mente de muitos norte-americanos ricos. Inédito por aqui.
* * *
A vegetariana, Han Kang (#49)
Mais um livro não-anglófono. Esse aqui está certamente na minha lista de grandes romances do século XXI. É perfeito, sensacional, fortíssimo, estranho. É uma das melhores representações ficcionais de tudo que tento explicar nos textos não-ficcionais das Prisões. Já escrevi sobre ele com mais detalhes aqui.
* * *
Os detetives selvagens, Roberto Bolaño (#38)
Já falo mais do Bolaño abaixo mas, não, não desejo esse livro nem para meu pior inimigo. 2666 tem trechos bons. Detetives selvagens, nem isso.
* * *
Entre o mundo e eu, Ta-Nehisi Coates (#36)
Essa carta do escritor negro norte-americano para seu filho é uma das coisas mais lindas que eu já li. Escrevi uma resenha para a Folha que você pode ler no site do jornal, em versão resumida, ou em uma versão expandida e mais pessoal no meu site.
* * *
Fun home: uma tragicomédia em família, Alison Bechdel (#35)
Li. Legal. Não me marcou.
* * *
Lincoln no limbo, George Saunders (#18)
Chato. Chato. Insuportável. Deus do céu.
* * *
2666, Roberto Bolaño (#6)
Tem trechos bons, em especial a primeira e última partes, mas esse livro vastamente superestimado é de uma chatice abissal e, pior, intencional. Até entendo o que o autor estava tentando fazer, mas, não, obrigado, não quero ler todos os detalhes sobre os assassinatos de 400 mulheres. A lista do NYT, e essa newsletter, estão cheias de livros incríveis escritos por mulheres incríveis. Não tem porque ler livro escrito por ominho obcecado de matar e rematar e matar de novo um número que parece quase infinito de mulheres.
* * *
A amiga genial, Elena Ferrante (#1)
Talvez seja realmente, de verdade, o grande livro do século XXI. Não o primeiro livro, mas a Tetralogia Napolitana como um todo. (Meu livro preferido é o terceiro, e o quarto e último me pareceu ligeiramente inferior.) A Tetralogia é simplesmente perfeita. Se você ainda não leu, aproveite pra ler. Aliás, só abra na livraria, ou baixe a amostra, e leia as primeiras páginas. É um novelão maravilhosos que nos fisga imediatamente, ao mesmo tempo em que também é literatura de primeira qualidade.
O box da nova edição da tetralogia está saindo com 30% de desconto no Prime Day e é minha mais importante recomendação de leitura pra você:
* * *
Quatro mulheres ganhadoras do Nobel de Literatura
Várias pessoas autoras da lista eu conheço, gosto e recomendo, só não li o livro específico que foi escolhido. Abaixo, quatro. Não por acaso, todas ganhadoras do Nobel de Literatura.
* * *
Alice Munro
Essa canadense, ganhadora de 2013, emplacou dois títulos na lista: Ódio, Amizade, Namoro, Amor, Casamento (#23) e Fugitiva (#53). Mas ela escrevia contos, então não faz muita diferença qual livro você lê. Recomendo ambos, mesmo sem ter lido esses dois especificamente. (O nome dela se pronuncia “manrou”)
Annie Ernaux
Francesa e ganhadora de 2022, Ernaux emplacou Os anos na posição #37, uma autobiografia de sua geração. Li Uma paixão simples e foi arrebatador. Pretendo ler tudo dela.
Toni Morrison
Norte-americana e ganhadora de 1993, ela emplacou na lista Compaixão, escrito em 2008, na posição #47. Esse eu ainda não li, mas seu romance Amada, de 1987, é um dos grandes, talvez o maior romance da escravidão. Recomendo sem restrições.
Svetlana Alexeivich
A jornalista bielorussa Svetlana Alexeivich ganhou o Nobel de Literatura de 2015. De todas nessa lista, ela talvez seja minha preferida. Seus livros-documentários, dando voz a toda uma comunidade, são simplesmente incríveis, perfeitos, emocionantes. Li tudo que ela escreveu, menos esse livro que emplacou na lista: O fim do homem soviético (#72), que está na minha fila e deve ser sensacional. Não saberia dizer qual é meu livro preferido dela. Talvez Vozes de Tchernóbil: A história oral do desastre nuclear.
* * *
Meus 10 romances preferidos do século XXI
Ano passado, fiz uma lista comentada dos meus 10 romances preferidos do século. Somente dois entraram na lista do NYT: A vegetariana e a Tetralogia Napolitana. Abaixo, listo os outros 8. Para ler meus comentários sobre cada um, confiram o texto original.
Série de livros do Capitão Alatriste, Arturo Pérez-Reverte (Espanha, 1996-2011)
Que farei quando tudo arde?, António Lobo Antunes (Portugal, 2001)
O romance da minha vida, Leonardo Padura (Cuba, 2002)
Um defeito de cor, Ana Maria Gonçalves (Brasil, 2006)
Os imperfeccionistas, Tom Rachman (Reino Unido, 2010)
Submissão, Michel Houellebecq (França, 2015)
Querida Konbini, Sayaka Murata (Japão, 2016)
Os testamentos, Margareth Atwood (Canadá, 2019)
(10 romances contemporâneos preferidos)
* * *
Os livros da lista do NYT com os maiores descontos
Abaixo, com curadoria da minha esposa Marina, estão os livros da lista do NYT que estão com os maiores descontos no Prime Day da Amazon Brasil. Aproveitem, que não vai durar muito.
* * *
Em inglês:
#79 Manual for Cleaning Women, Lucia Berlin (37% de desconto)
#76 Tomorrow, and Tomorrow, and Tomorrow, Gabrielle Zevin (46% de desconto)
#61 Demon Copperhead, Barbara Kingsolver (42% de desconto)
#46 The Goldfinch, Donna Tartt (45% de desconto)
#42 A Brief History of Seven Killings, Marlon James (30% de desconto)
#41 Small Things Like These, Claire Keegan (15% de desconto)
#21 Evicted: Poverty and Profit in the American City, Matthew Desmond (60% de desconto)
* * *
Em português:
#72 O fim do homem soviético, Svetlana Aleksiévitch (60% de desconto)
#91 A marca humana, Philip Roth (45% de desconto)
#1 Box Tetralogia Napolitana, Elena Ferrante (30% de desconto)
#91 Dias de abandono, Elena Ferrante (45% de desconto)
A filha perdida, Elena Ferrante (40% de desconto)
#71 Trilogia de Copenhagen: Infância, Juventude e Dependência, Tove Ditlevsen (50% de desconto)
#49 A vegetariana, Han Kang (42% de desconto)
#12 O ano do pensamento mágico, Joan Didion (53% de desconto)
#23 Ódio amizade namoro amor casamento, Alice Munro (33% de desconto)
* * *
Muito, muito obrigado a quem chegou até aqui. Boas leituras e boas compras. :)