Lutar sem esperança na vitória
As lutas mais importantes são as que travamos sem esperança e sem otimismo, simplesmente porque nos seria intolerável existir e não lutar.
As lutas que mais valem a pena ser travadas são justamente aquelas nas quais nenhuma vitória decisiva jamais será possível, que travamos sem esperança e sem otimismo, simplesmente porque nos seria intolerável existir e não lutar.
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Passei boa parte dos últimos vinte anos escrevendo publicamente contra a outrofobia, ou seja, contra o machismo e o racismo, contra o elitismo e capacitismo, contra a homofobia e a gordofobia, contra todas as formas de ódio ao outro, ao diferente, àqueles que não somos nós.
Não tenho esperança alguma de que é possível qualquer tipo de vitória definitiva nesses muitos combates.
Pelo contrário, me parece muito mesquinho, muito pequeno, muito utilitarista só lutar se eu tiver certeza, ou mesmo esperança, de vitória.
A vitória não está garantida para ninguém.
Aliás, nem sei se dá para conceber a questão nesses termos.
Se sou uma militante antirracismo ou antimachismo, essa luta algum dia estará “ganha”, em qualquer acepção da palavra?
É possível conceber uma humanidade sem nenhum racismo, sem nenhum machismo?
Se lutamos por mais compaixão, por mais atenção, por mais cuidado entre as pessoas, essa é uma luta que pode ser ganha?
É concebível imaginar algum momento no futuro em que poderíamos dizer que não é mais necessário militar por mais compaixão, por mais generosidade?
Na prática, as lutas que mais valem a pena ser travadas são justamente aquelas nas quais nenhuma vitória decisiva jamais será possível, que travamos sem esperança e sem otimismo, simplesmente porque nos seria intolerável existir e não lutar.
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Uma vida vivida sem esperança (como escreveu Charlotte Joko Beck no livro Sempre Zen) é pacífica, alegre e compadecida:
Enquanto nos identificarmos com esta mente e este corpo — e todos fazem isso —esperaremos que aconteçam coisas que, em nossa opinião, tomarão conta de nosso corpo e de nossa mente. Esperamos ter sucesso. Esperamos ter saúde. Esperamos alcançar a iluminação. Há todo tipo de coisa que esperamos nos aconteça; e, evidentemente, toda forma de esperança consiste em dimensionar o passado e projetá-lo no futuro. A pessoa que já praticou o sentar, seja qual for o período que durou sua prática, sabe que não existe passado ou futuro, exceto em nossa mente. Não há nada além do si-mesmo e o si-mesmo está sempre aí, presente.
Texto completo: Sem esperança.
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Ontem, em resposta ao texto da caneca quebrada, algumas pessoas comentaram serem contra uma “visão assim passiva, desapaixonada da vida”.
Mas é o oposto: quem acha que não vai morrer nunca é que desperdiça a vida apaticamente, passivamente, desapaixonadamente.
Eu, pelo contrário, reconheço que todas as canecas já estão quebradas justamente para aproveitar com plenitude o tempo que tenho com elas: reconheço que meu tempo é limitado para vivê-lo com mais paixão e intensidade.
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Como (des)ler literatura
Literatura é diversão para todos. Se você acha que não é diversão, ou que não é pra você, então, está lendo errado. Deixa eu te ensinar a ler melhor?
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Passei toda uma vida lendo e ensinando Literatura. E, agora, percebo que, mais do que a própria Literatura, mais do que as obras em si, o que mais ensinei foi simplesmente a ler.
Quase todas minhas alunas chegavam nas aulas envergadas sob o peso de centenas de “regras de leitura” absurdas e arbitrárias, derrotistas e desnecessárias, que serviam apenas para tornar engessar a leitura:
“Tem que ler um livro de cada vez”, “tem que ler livro até o fim”, “não pode marcar livro”, etc etc.
Arre!
Então, na verdade, não é nem que eu ensinava a LER, assim, em maiúsculas, leitura séria, utilitária, etc.
Mas sim a ler em minúsculas, de forma mais leve e mais gostosa, menos pesada e menos intimidadora, sem aquelas regras que só faziam tornar a leitura mais trabalhosa. Ou seja, eu as ensinava a ler como quem gosta de ler.
Minha tarefa era justamente absolver as minhas alunas de todas as culpas e ansiedades que tinham atrelado à leitura e, assim, liberá-las para somente… ler!
Por isso, percebi que estava faltando, no meio dos meus cursos de História e Literatura, uma simples e singela aula avulsa de “como ler”, ou na verdade, mais importante, “como desler literatura”, reunindo todas as dicas que já dei em todos os meus cursos.
A aula vai acontecer na quarta, 28 de setembro, a partir das 19h, no Zoom, e depois ficará disponível por, no mínimo, dois anos em um grupo no Facebook.
Será uma aula exclusiva para as mecenas dos planos ENCONTROS e CURSOS do meu novíssimo espaço de mecenato na plataforma de financiamento coletivo Apoia-se. Aliás, será a inauguração do espaço.
Cada plano tem recompensas específicas e uma das recompensas dos planos acima é justamente uma aula mensal avulsa sobre os temas da Literatura e da História que estejam me interessando naquele momento. (É uma maneira de compartilhar com vocês as minhas leituras.)
A primeiríssima aula será “Como (des)ler literatura”.
Para participar, basta visitar o meu novo espaço de mecenato e comprar o plano ENCONTROS ou CURSOS.
Conheça o espaço e saiba mais sobre os planos (se você já é mecenas pelo PagSeguro, fale comigo e vamos transferir seu mecenato) ou confira o roteiro da aula.
Um grande beijo do
Alex Castro