40 livros escritos por mulheres, escolhidos por Elena Ferrante e comentados por mim
Próxima aula avulsa: dom, 17nov, 16h: Classe e gênero em Senhorita Júlia, de August Strindberg
A escritora italiana Elena Ferrante acabou de publicar uma lista com seus 40 livros preferidos escritos por mulheres. Abaixo, compartilho a lista, com comentários. Nessa newsletter aqui, dou a minha listinha pessoal.
Quero muito saber a opinião de vocês, por email ou comentário. Concordam? Discordam? Acham que algum deve furar a minha fila de leituras? Por quê? Vamos conversar sobre livros. ;)
(Todos os links levam à Amazon Brasil e, se você comprar qualquer coisa por lá depois de clicar, eu ganho uma comissão, e fico muito, muito grato. Aliás, está chegando o Natal e quase todo mundo vai comprar presentes presentes pela internet. Então, aproveito pra reiterar o pedido de maneira mais geral: se forem comprar qualquer coisa na Amazon, por favor, comprem pelos meus links. Vocês não perdem rigorosamente nada, pagam o mesmo preço, mas estarão dando um belo 13º ao seu escritor autônomo aqui. É só clicar em qualquer link de qualquer livro em qualquer texto meu e pronto. Sim, se você entra na Amazon por um link meu, eu ganho comissão de tudo que você comprar, mesmo se não for o ítem que clicou inicialmente. Pra facilitar, esse aqui é o link direto para as ofertas do dia em livros.)
Os preferidos da Ferrante que também recomendo
Amada, de Toni Morrison — Talvez o melhor, mais perfeito romance sobre a escravidão. Quero muito ler mais livros da autora. Nobel de literatura de 1993.
A porta, de Magda Szabo — Um dos grandes romances da minha vida, unindo questões interessantíssimas, vitais, dolorosas, desde trabalho doméstico, desigualdade de classes e o poder da literatura. Amo amo amo. Minha aula avulsa de abril de 2023 foi sobre esse livro e está aberta aqui. (As mecenas do meu Apoia-se ganham, entre várias recompensas, uma aula de literatura mensal.)
Cassandra, de Christa Wolf — Cassandra é uma das personagens mais interessantes e ricas da mitologia grega e essa é uma excelente exploração de suas múltiplas possibilidades. Sobre Cassandra, escrevi esse continho.
O amante, de Marguerite Duras — Um dos meus livros preferidos de uma de minhas autoras preferidas. Simplesmente sensacional. Escrevi sobre o obra de Duras para o Rascunho: As atmosferas e dores de Duras. Minha aula avulsa de setembro de 2023 foi sobre Duras e está aberta aqui.
Memórias de Adriano, de Marguerite Yourcenar — Excelente narrativa ficcional da vida desse interessante imperador romano.
A paixão segundo GH, de Clarice Lispector — Ler esse livro é quase uma experiência religiosa. E Clarice é tão, mas tão foda, que ele é só o meu terceiro favorito dela: A hora da estrela e Água viva estão na frente. A última aula do meu curso Grande Conversa Brasileira foi sobre a obra de Lispector, em especial esses três livros perfeitos. (As mecenas do plano Cursos ganham acesso a todas as aulas de todos os meus cursos.)
O preferido da Ferrante que eu não recomendo
Peitos e ovos, de Mieko Kawakami — Comecei a ler todo empolgado, o começo é bom, a premissa é boa, mas depois se perde e cai no tédio. Abandonei.
Os preferidos da Ferrante de autoras que eu amo
O assassino cego, de Margaret Atwood — Uma das minhas autoras preferidas. Impossível saber qual é melhor, se O conto da aia ou sua continuação Os testamentos: ambos são brilhantes e vastamente diferentes, tem que ler os dois. Também sou absolutamente apaixonado por A noiva ladra: cresci em um grupo de meninas; esse livro não só tem uma das vilãs mais deliciosas da literatura como o grupo de amigas que ela destroi é dolorosamente parecido com o meu. O assassino cego está na minha fila.
Vida querida, de Alice Munro — Gosto muito da Munro. É uma das melhores contistas recentes. Li vários de seus contos, alguns desse livro. Sempre vale a pena. Nobel de literatura de 2013.
A pianista, de Elfriede Jelinek — Só escuto coisas boas da Jelinek. Ela me parece ser uma pessoa absolutamente fascinante. Todos os seus livros têm algum elemento de sexo perverso, o que me atrai bastante. Tenho vários de seus livros aqui, está na pole-position da minha fila. Nobel de literatura de 2004.
O sino, de Iris Murdoch — Sou louco pela Murdoch, tanto na ficção quanto na não-ficção: era filósofa, escrevia sobre misticismo, entre outros assuntos. O sino está alto na minha fila. Recomendo o meu favorito, Uma cabeça decepada.
Os anos, de Annie Ernaux — Li Paixão simples no dia em que foi anunciado o Nobel de Literatura de Ernaux, em 2022, e me apaixonei. Os anos está na minha fila.
Os preferidos da Ferrante que estão na minha fila
Dentes brancos, de Zadie Smith
Gilead, de Marilynne Robinson
Americanah, de Chimamanda Ngozi Adichie
Léxico familiar, de Natalia Ginzburg
Manual da faxineira, de Lucia Berlin
O Deus das pequenas coisas, de Arundhati Roy
A ilha de Arturo, de Elsa Morante
Acabadora, de Michela Murgia
Os preferidos da Ferrante que não pretendo (no momento) ler
The Enlightenment of the Greengage Tree, de Shokoofeh Azar
Neapolitan Chronicles, de Anna Maria Ortese
Disoriental, de Négar Djavadi
David Golder, the Ball, Snow in Autumn, the Courilof Affair, de Irene Nemirovsky
Um Homem Bom É Difícil de Encontrar e Outras Histórias, de Flannery O'Connor
Maternidade, de Sheila Heti
Pessoas normais, de Sally Rooney
A devolvida, de Donatella Di Pietrantonio
O ano do pensamento mágico, de Joan Didion
Uma vida pequena, de Hanya Yanagihara — Depois de ver o quanto Marina sofreu lendo esse camalhaço, não quero passar por nada
Destinos e fúrias, de Lauren Groff
Esboço, de Rachel Cusk
Olive Kitteridge, de Elizabeth Strout
Blonde, de Joyce Carol Oates
Intérprete de males, de Jhumpa Lahiri
The Love Object, de Edna O'Brien
Malina, de Ingeborg Bachmann
O quinto filho, de Doris Lessing
Arquivo das crianças perdidas, de Valeria Luiselli
The Conservationist, de Nadine Gordimer
Um rápido comentário
Por óbvio, toda lista como essa é idiosincrática e diz mais sobre a vida e cultura de quem a elabora do que sobre o mundo literário em si.
E, também por óbvio, nossa reação a essa lista também diz muito sobre quem somos. Eu, mestre em Letras-Espanhol, achei chocante a total falta de autoras hispânicas, na minha opinião as verdadeiras mestras da literatura contemporânea. (Também faltaram orientais — a única que apareceu acho fraquíssima.)
Nessa newsletter, dou a minha listinha pessoal de autoras favoritas.
Leiam Ferrante
Enquanto isso, já adianto que um dos romances perfeitos da minha vida é a Tetralogia Napolitana, da própria Ferrante. Uma obra simplesmente imperdível e que acabou de ser relançada no Brasil em um box belíssimo. Vale muito, muito a pena. É a minha recomendação de leitura mais urgente de todas nessa newsletter. E é o presente de natal perfeito para qualquer pessoa, especialmente mulheres, que amam literatura.
Próxima aula avulsa: Classe e gênero em Senhorita Júlia, de August Strindberg
Todo mês, no terceiro domingo, às 16h, eu dou uma aula avulsa de literatura para minhas pessoas mecenas. A aula avulsa de novembro se chamará “Classe e gênero em Senhorita Júlia, de August Strindberg”. Ainda dá tempo de ler, é uma peça curtíssima, menos de 60 páginas.
Acabo de me dar conta que é a segunda obra teatral escandinava oitocentista da qual falo nas aulas avulsas em ano. Primeiro, foi Um inimigo do povo (1882), do norueguês Ibsen, e, agora, Senhorita Júlia (1888), do sueco Strindberg. E falei sobre elas porque, apesar de escritas no século retrasado, são absurdamente atuais: Um inimigo do povo tem tudo a ver com aquecimento global e com a tragédia das chuvas em Porto Alegre (a aula está aberta aqui) e Senhorita Júlia
E Senhorita Júlia é uma das obras literárias europeias mais brasileiras que já li. Em um fim de festa, a filha do patrão começa a dar em cima de um dos empregados. E aí? Ele topa? Corta? Pode dizer não para a sinhazinha? Mas e se o patrão souber? Serei homem com H se falar não? Nesse brasileiríssimo embate de classe vs gênero acontece a surpreendente ação da peça.
A aula acontece domingo agora, 17 de novembro, às 16h. Só para mecenas. (Mas é super fácil ser mecenas: basta fazer uma contribuição no meu Apoia-se.)
Beijos e até lá,
Alex Castro
Adorei as sugestões! Se eu comprar algum livro em formato Kindle, vc ganha comissão também?
uma vida pequena é o livro MAIS triste que já li na vida, disparado. eu ficava pensando pra que inventar uma coisa dessa, como é que um autor lida com tanta dor e de onde surgiu essa história e a necessidade de escrevê-la. mas é um livro maravilhoso e apesar de sofrer horrores eu não parei de ler