Abaixo, duas crônicas singelas e bobas e fofas como toda crônica. Entretanto, como falam de sexo, causaram polêmicas e controvérsias tão, ou mais interessantes, que as próprias crônicas. Quero saber a opinião de vocês e das pessoas que conhecem. Por favor, compartilhem o texto e deixem comentários. ;)
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“Ninguém precisa ver meu KY, né?”
Antigamente, em minha casa, camisinhas e lubrificantes ficavam na gaveta do banheiro, guardadinhos, escondidinhos, como têm que ser.
Em dias de sexo espontâneo, porém, um tempo precioso era perdido correndo de lá pra cá: “corre, vai pegar a camisinha!”
Moro em um quitinete. Durmo em um colchão. Praticamente não tenho móveis. Muito menos criado-mudo.
Aos poucos, as camisinhas e os lubrificantes foram passando tanto tempo ali no chão ao lado da cabeceira que esse acabou sendo consagrado como seu lugar.
No começo, sempre que recebia visitas, me batia uma lufada de pudor.
Pensava: guardo tudo? Ninguém precisa ver meu KY, né?
Mas, logo depois, vinha a pergunta: pra quê? Por quê?
Transar não é nem feio nem proibido, nem antiético nem nojento. Os objetos não estão bagunçados, largados, babados. Pelo contrário, as camisinhas estão cuidadosamente empilhadas, os lubrificantes de pé, tudo limpo e arrumado, ao lado das canetas e dos livros.
Que tipo de pessoa poderia se sentir incomodada ou ofendida de simplesmente ver um frasco de lubrificante íntimo e algumas camisinhas? Certamente, não o tipo de pessoa que eu gostaria de receber.
Em minha casa, sempre estiveram à mostra as marcas de que fumo (cinzeiro na janela) e de que cago (papel higiênico no banheiro), de que como (garfos e talheres) e de que cozinho (panelas e frigideiras).
Por que não poderiam também estar expostas as marcas de que transo?
Por que seria essa, de todas as atividades humanas realizadas em minha casa, a única que precisa ser completamente escondida e negada?
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Pós-escrito I
Quando foi publicado pela primeira vez, esse texto causou muita polêmica e diversas manifestações de ódio. Li e reli o texto. Não encontrei nada de errado nele. Pelo contrário, o assunto do texto é justamente essa resposta extremada e raivosa: por que o sexo é tão tabu? Por que podemos deixar à mostra os objetos que usamos, por exemplo, para fumar mas não para transar? Por que até mesmo falar nisso já desperta tanta raiva, tanto ódio, tanta ojeriza? Afinal, por que o sexo (especialmente o sexo praticado pelo Outro) ofende tanto? Se o texto levantou essas questões, então cumpriu o seu papel. O que você acha? Conta pra mim.
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Uso recreativo
Proctoderm é um sabonete líquido específico para a região anal.
Na maioria das farmácias, ele está na prateleira dos sabonetes.
Em algumas, na dos lubrificantes e preservativos.
Essas farmácias são as melhores farmácias.
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Pós-escrito II
O texto é esse. Pronto, acabou. Circulando. Abaixo, algumas considerações inspiradas pela recepção do texto.
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Quando postei o microtexto acima, recebi uns feedbacks interessantes, como:
“Fazendo post só pra gastar onda de comedor de cu, né, gordo transão?”
O mais interessante é que o texto não faz nenhuma afirmação, nem mesmo sugere nada sobre mim.
Vai ver escrevi o texto porque eu uso Proctoderm.
Mas vai ver eu nunca usei Proctoderm e só reparei nele porque compro para outras pessoas, seja para minha esposa (que adora fazer sexo anal com seu amante) ou para minha avózinha (que tem hemorróidas).
Ou vai ver eu nunca tinha ouvido falar de Proctoderm, mas escutei esse comentário da boca de outras pessoas, estranhas na rua ou amigas na mesa de bar, e reproduzi — como faço tantas vezes.
Vai ver, de fato, eu uso Proctoderm na minha vida de comedor de cu desenfreado.
Mas vai ver eu uso Proctoderm porque adoro dar o meu cu a torto e a direito.
Vai ver eu uso Proctoderm porque tenho hemorroidas (seu uso recomendado) ou, quem sabe, uso nas assaduras da virilha, ou uso como sabonete facial — duas possibilidades de uso sugeridas por pessoas que leram o post original.
Vai ver (hahahaha) é post pago pelo fabricante do Proctoderm, o laboratório Takeda. (Infelizmente, não.)
De qualquer modo, nenhuma dessas possibilidades acima, por mais possíveis que todas sejam, é sugerida de maneira alguma pelo texto.
Como sempre, esse tipo de crítica literária revela mais sobre a pessoa que faz a crítica do que sobre o texto sendo criticado.
E eu me divirto horrores.
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Um último pós-escrito, de 2022
Tem algumas poucas coisas que todo mundo diz sentir e eu parece que nunca experimentei, ou pelo menos nunca experimentei do jeito que as pessoas descrevem: culpa, vergonha, arrependimento.
(Minha esposa me chama de “psicopatinha fofo” e diz que sou a única pessoa que ela conhece que poderia ficar de cócoras no meio de uma sala cheia de gente, cagar no chão, levantar, e nunca mais pensar nisso. Essa pessoa acha isso de mim — está certa, aliás — e ainda assim casou comigo.)
Então, eu, que sempre fui muito aberto sobre tudo a respeito da minha vida, também sempre fui muito aberto sobre sexo. Mas o sexo (idealmente!) sempre envolve mais pessoas, pessoas adultas, pessoas que consentiram em compartilhar suas intimidades com você.
Dentro do quesito “vergonha”, entender o conceito de “pudor” sempre me foi muito complicado. Nunca tive vergonha nenhuma de nada, mas precisei rapidamente aprender que as outras pessoas tinham. Especialmente em questões de sexo.
E como sei que essas outras pessoas sentem coisas como “vergonha” e “pudor”, mesmo eu não entendendo bem como esses conceitos funcionam, sempre tento errar em prol de não expor suas intimidades.
Quem me conhece e convive comigo sabe que, por não ter nenhuma vergonha, eu literalmente não tenho segredos: todos os fatos da minha vida que eu não conto são os que também exporiam outras pessoas. Sabe como é, pessoas que eu amo, que confiaram em mim e que sentem vergonha e pudor.
Só Deus sabe o esforço que faço para proteger essas pessoas queridas da minha sem-vergonhice despudorada.
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Fala comigo.
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Aliás, uma das vantagens é justamente que, no Apoia-se, a usuária tem mais controle: é um pesadelo cancelar a assinatura no PagSeguro.
Mas fala comigo e eu mesmo cancelo.
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Nesse ano que está acabando...
Vc citou minhas frases em conversas? Minhas palavras te ajudaram? Repassou meus textos? Fiz diferença na sua vida?
Então, por favor, considere fazer uma contribuição no meu Apoia-se. :)
Afinal, se não você, quem?
Eu só vivo disso, e preciso de você. De verdade.
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Você é mecenas pelo Apoia-se?
Estou enviando varias mensagens com conteúdos exclusivos pelo chat da plataforma, que são enviadas também em forma de email para as mecenas apoiadoras. Se não está recebendo, procura aí ou fala comigo.
O último texto exclusivo para mecenas que publiquei no meu Apoia-se foi o meu memorial acadêmico, como parte de um processo de seleção para um Mestrado. É um texto bem pessoal, contando toda a história da minha vida e meus projetos futuros, e não é o tipo de texto que eu liberaria publicamente: só lá mesmo. (Adoraria saber a opinião de vocês.)
A próxima aula exclusiva para mecenas será HOJE, 30 de novembro, e se chamará "Kafka, um autor traído". Mais detalhes aqui.
Para quem já quiser ir se preparando, a aula de dezembro será sobre o novo romance de Michel Houellebecq, Aniquilar, que eu considero o escritor vivo mais importante (e mais incômodo) do mundo hoje. É sensacional, um de seus grandes livros e vale muito a pena.
Por fim, nosso grupo de Whatsapp está bem legal, temos conversas interessantes todo dia, compartilhamos meme, trocamos experiências, caímos na porrada de vez em quando. ;) Para participar, de novo, é só falar comigo.
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Um pedido às queridas leitoras e alunas hispanófilas
O curso Grande Conversa Espanhola está maravilhoso, mas me obriga a comprar muitos livros espanhóis. Para quem quiser e puder, para quem acha que esse curso está barato para tudo que oferece (e está mesmo!), depositar alguns euros no meu cartão-presente da Amazon Espanha AJUDA MUITO. E agradeço. ;)
É só visitar o link abaixo, escolher o valor e enviar para eu@alexcastro.com.br:
Para quem só tem conta na Amazon EUA, ajuda também, pois a partir deles consigo comprar em todas as filiais. O procedimento é o mesmo: visita o link abaixo, escolhe o valor e envia para eu@alexcastro.com.br:
E muito, muito obrigado.
Alex Castro
Oi. Boa tarde. Como faço para entrar em contato contigo para cancelar a assinatura do pagseguro?
Eu me sinto constrangida SE eu violar uma privacidade vendo algo que a outra pessoa não gostaria que eu visse. Mas quando a pessoa ativamente me fala, me mostrar, é tão legal! Acho o máximo trocar figurinhas sobre vibradores, lubrificantes. Eu não tinha ouvido falar do Proctoderm, nem faço ideia de seu uso. É algo de antes da transa ou após?