Por que quero tanto ser feliz?
Que tipo de pessoa dá tanta importância assim a sua própria felicidade? (Reflexões sobre a Prisão Felicidade.)
De tanta coisas que eu poderia desejar ou buscar, por que justamente “ser feliz”? O que isso diz sobre mim? Que tipo de pessoa eu sou? Aliás, que tipo de pessoa somos?
(O tema do Curso das Prisões para o mês de novembro é a Prisão Felicidade. Nossa aula, que iria acontecer na quinta, 30 de novembro, às 19h, foi adiada para quinta, 14 de dezembro. Ao entrar no curso, você tem acesso total às aulas anteriores. Compre o curso completo.)
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Em muitos países, o cumprimento inicial é uma pergunta neutra: "how are you?", "¿que tal?", "¿que pasa?", "ça va", etc.
No Brasil, a pergunta é bem mais agressiva:
"Tudo bem?"
Não existe espaço para não estar bem. A pergunta já presume que você não apenas está bem, mas completamente bem, e busca apenas uma confirmação. Afinal, o normal é tudo estar sempre bem. Se não está tudo bem com você, hmm, então você está fora da regra, desviante do esperado, incorreta e inadequada.
E, pior, vai ter que já começar sua resposta desmentindo sua interlocutora:
"Não... É que..."
Quando a felicidade é presumida e compulsória, ela se torna uma prisão.
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Lá atrás, em 2002, aos vinte e oito anos de idade, quando comecei a escrever As Prisões, meu principal objetivo era "ser feliz". Cada linha de cada texto, cada reflexão e cada raciocínio, tinham sempre, como objetivo último, garantir minha própria felicidade.
Exemplo de um trecho bastante representativo e que hoje muito me envergonha, da versão original da Prisão Verdade:
"A verdade só é importante enquanto meio de atingir a felicidade. Senão, de nada serve. E se a verdade leva à angústia e depressão, ela torna-se pior que inútil, é nociva. Também lutamos pela liberdade por ela ser um meio de nos conduzir à felicidade. Como fim, entretanto, a liberdade também é inútil. Pra que serve a liberdade se você é infeliz? Só a felicidade realmente importa. Deixar a verdade estragar isso é um crime."
(Essa aqui é a versão final da Prisão Verdade, reescrita em 2023, 21 anos depois.)
Mas quando nossa sociedade e nossa cultura, nossas escolas e nossas igrejas, nossas mães e nossas colegas de trabalho, nossas revistas de empreendedorismo e nossos outdoors de beira de estrada, fazem de tudo para nos vender a felicidade como objetivo último, talvez seja a hora de parar para pensar.
Afinal, essa é a mesma sociedade que quer nos convencer da obrigatoriedade de depilar as pernas e de rir de piadas machistas, de ser monogâmicas e de trocar de carro todo ano.
Não é à toa que estou há vinte e um anos escrevendo esse livro. Quando chego no final, já tenho que voltar pro começo e reescrever tudo.
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Um dia, comecei a me perguntar:
Afinal, por que quero tanto ser feliz?
E daí essa minha felicidade? Quem está ligando pra ela? Por que isso seria importante?
Se aparecesse um gênio da lâmpada, eu pediria para ser feliz?
Por que não pedir pra ser bom? Honesto? Justo? Leal?
Ou até mesmo bonito? Pauzudo? Peituda?
Por que pedir logo, entre tantas coisas possíveis, para ser feliz?
Quem foi que me convenceu que minha própria felicidade é tão importante assim?
Quando foi que minha própria felicidade individual assumiu o centro da minha vida?
“Feliz” é mesmo a coisa mais importante que eu deveria querer ser?
Felicidade deveria mesmo ser meu objetivo mais buscado, mais desejado?
É certo eu querer tanto assim ser feliz?
Por que tantos livros sobre felicidade em nossas estantes?
“O zen da felicidade”, “Aprendendo a ser feliz”, “Sua felicidade não tem limites”, “O Dalai Lama quer que você seja feliz”?
Onde estão nossos livros sobre ser uma pessoa melhor? Sobre saber ouvir? Sobre aprender a se doar? Sobre cuidar de quem amamos?
O que estou deixando de ver enquanto meu olhar está tão fixo lá na frente, minha felicidade futura me chamando como uma sereia perversa, me estimulando a pisar em quantos pescoços for necessário para alcançá-la?
O que estou deixando de fazer enquanto corro atrás de ser feliz?
O que não estou lendo enquanto leio sobre a busca da felicidade?
Vale a pena o custo-oportunidade desse meu fetiche?
A artesã que é feliz em seu trabalho de artesanato… busca a felicidade?
O pai que experimenta a felicidade ao lado dos filhos… está correndo atrás de ser feliz?
Que tipo de pessoa quer ser feliz?
Que tipo de pessoa busca a felicidade?
Que tipo de pessoa... eu sou?
Se a felicidade não é um lugar mas uma sensação, se não é um estado mas um feixe de momentos, se nunca é permanente mas sempre efêmera, se por definição é inalcançável e inatingível, por que correr atrás dela?
Aliás, qual é a grande vantagem de ser feliz?
Ser feliz vai me fazer uma pessoa mais digna, mais honrada, mais aberta?
Ser feliz vai me fazer ouvir mais, exercitar a empatia, estender a mão?
Ser feliz vai me fazer ter paciência com a mãe, não destratar o garçom, ser fiel à companheira?
O mundo vai ser um lugar melhor se eu for feliz?
Esse desejo de ser feliz já não é intrinsecamente egoísta?
Colocar minha própria felicidade como prioridade já não faz de mim uma pessoa intrinsecamente egocêntrica?
Em vez de querer ser feliz, por que não simplesmente querer ser menos egoísta?
Em vez de correr atrás da minha felicidade, por que não correr atrás… da felicidade dos outros?
Por que não?
Afinal, por que quero tanto ser feliz?
* * *
Ninguém é mais egoísta do que quando está no auge da felicidade.
Já dizia Tchecov: atrás de toda pessoa feliz deveria existir um homem com um martelo – para lhe golpear periodicamente a cabeça.
Só porque a vida mais cedo ou mais tarde mostra suas garras.
Só para lembrar que existem pessoas infelizes no mundo.
Só pra lembrar que elas também amanhã estarão infelizes.
Só porque ninguém é tão egoísta e autocentrado quanto alguém autenticamente feliz.
Um casal em lua-de-mel não está pensando nos moradores de rua por cima de quem tiveram que passar na caminhada até o hotel.
Aliás, nenhum de nós quase nunca está.
* * *
Meu problema não é com a felicidade. Assim como não tenho problema, digamos, com a monogamia. A monogamia é linda e a felicidade também.
Meu problema é quando tudo a nossa volta pretende nos convencer que um determinado estilo de vida é a única opção possível e que tudo fora dele é loucura, é perversidade, é depressão, é morbidez.
Meu problema não é com a felicidade: é com a busca compulsória pela felicidade.
Sim, o casal em lua-de-mel não pensa nos moradores de rua. Sim, na hora do gozo, ninguém pensa na miséria da vida. Felizmente, são momentos que acabam rápido. (A vida seria intolerável se fosse um gozo perpétuo.)
Entretanto, se os momentos de felicidade acabam rápido, a busca pela felicidade não acaba nunca. Depois de um livro de auto-ajuda sobre como ser mais feliz ("Quem mexeu na felicidade do queijo do pai rico?") tem sempre outro.
Como a felicidade não existe (pelo menos não como esse estado permanente de gozo) a busca nunca tem fim e nos mantém cegos e aprisionados a ela por toda a vida.
Quando enxergamos tudo pelo prisma da nossa busca pela felicidade, as pessoas à nossa volta deixam de ser gente: elas se tornam maquininhas utilitárias fornecedoras de felicidade.
"O que essa pessoa pode me dar? Quanta felicidade ela pode me fornecer? Ela está me fornecendo tanta felicidade quanto antigamente? Quanta felicidade ela ainda pode me fornecer?"
Dormimos ao lado da pessoa que escolheu passar a vida conosco e, na calada da madrugada, pensamos:
"Será que não consigo arrumar uma fornecedora de felicidade melhor? Será que a próxima não vai ser aquela que vai me fazer realmente feliz?"
Enquanto isso, nossa parceira sonha... com a próxima pessoa que seguramente vai fazê-la mais feliz do que um egoísta como você.
E assim vamos trocando de emprego e de casa, de parceira e de cidade, sempre em busca de uma plena felicidade futura, sempre em busca do emprego ideal que realmente vai nos fazer feliz, da parceira perfeita que vai nos fornecer a pura felicidade.
Pois, afinal, é para isso que servem as pessoas, não? É para isso que existe o mundo, não? É isso que mais importa, não?
Ser feliz.
* * *
Morei por sete anos nos Estados Unidos. Dava aulas de português, espanhol e cultura brasileira em uma universidade de Nova Orleans. Meus alunos já eram pré-selecionados como pessoas abertas e multiculturais que, mesmo sendo cidadãs da maior potência do mundo, voluntariamente dedicavam suas vidas e seus esforços e suas carreiras à cultura luso-hispânica. Nas minhas aulas, cercado por essas pessoas, eu me sentia livre para questionar tudo.
Menos uma coisa.
O excepcionalismo norte-americano. Essa ideia de que os Estados Unidos, de verdade, lá no fundo, sério mesmo, são a nação mais incrível que já existiu, o dom de deus para a humanidade. Um conceito inacreditavelmente petrificado e inquestionável mesmo para as pessoas norte-americanas mais subversivas e questionadoras — e olha que conheci e trabalhei ao lado de muitas.
Parte integrante dessa crença é a certeza absoluta e religiosa de que toda pessoa humana, em sua essência, é uma norte-americana em potencial. Que todas as pessoas humanas, se tivessem a oportunidade, seriam norte-americanas, teriam valores norte-americanos, iriam querer tudo o que as norte-americanas querem.
* * *
O universo ficcional de Jornada das Estrelas é como a realização dos sonhos de Francis Fukuyama: a História acabou porque o American Way of Life ganhou, todos os seus possíveis adversários cederam, aderiram ou sumiram, não sobrou mais ninguém para ser do contra, não há conflito, diversidade, choque. A História, se existe, é feita lá fora, entre os alienígenas, entre aqueles que ainda não aderiram ao pensamento único dos humanos e da Federação. Entre o século XXII, palco da série Enterprise, e o século XXIV, das séries Nova Geração, Deep Space Nine e Voyager, a impressão que temos é que a nossa doméstica História terrestre realmente parou.
Acompanhamos as aventuras dos bravos homens da Frota Estelar no espaço porque, convenhamos, se ficássemos na Terra, não haveria nada pra acompanhar. Sintomaticamente, os viajantes espaciais passam pela Terra dezenas de vezes ao longo de três séculos e nada nunca muda. Nunca ouvimos falar de guerras, rebeliões ou dissidências. Nunca há uma nova moda, um novo movimento literário, um novo sistema econômico. Realmente, com a vitória de um way of life sobre todos os outros, com a total uniformização da cultura humana, não haveria como surgirem novos movimentos literários, políticos ou econômicos. Ao consenso, segue-se à estagnação. Não é à toa que a Frota Estelar parece atrair os melhores talentos do planeta: para qualquer um com iniciativa, criatividade e liderança, morar nesse planeta estagnado deve ser um inferno.
Os valores da humanidade e, por extensão, os valores da Federação Unida de Planetas, capitaneada pela Terra e com capital em Paris (!), são os valores ocidentais anglo-saxões. E eu fico me perguntando: o que será que foi feito da cultura asiática, com valores completamente opostos? Terão os bilhões de chineses, japoneses e afins sido eliminados em massa ou simplesmente sofrido lavagem cerebral? O que terá acontecido com a cultura latino-americana, também completamente alheia aos valores de Picard & Janeway? Meu Deus, eu me pergunto, com uma última fagulha de esperança, será que os parienses, pelo menos eles!, torcem o nariz pra Federação e fazem passeatas e piquetes na porta da sua sede? Seria, no mínimo, um consolo.
Mas nem isso.
* * *
Minha irmã trabalhava em uma empresa de seguros em São Francisco. Um belo dia, um dos engenheiros indianos pediu demissão e disse que estava voltando para casa, na Índia, para casar.
"Que legal", perguntaram as colegas, "e como é sua futura esposa?"
"Não sei," respondeu, "vou conhecer quando chegar lá."
Pronto. O escritório veio abaixo.
Em um primeiro momento, quiseram ajudá-lo:
"Você está bem? Estão te forçando a isso? Você quer ser cidadão norte-americano? Será que não consegue status de refugiado, meu deus? Essas pessoas marrons e seus costumes bárbaros!"
Mas era pior, muito pior.
O engenheiro indiano estava voltando porque queria. Porque era sua casa, sua cultura e seus costumes. Porque sentia que possuía uma obrigação para com seus pais e sua família.
As pessoas do escritório simplesmente não conseguiam entender. Era como se ele estivesse falando hindi:
"Mas como assim? Aqui você não é livre? Aqui você não é feliz? Aqui você não se sustenta? Será que não aprendeu nada nos anos que passou entre nós?"
E ele tentava fazê-los entender que sim, aprendera muita coisa, vivia nos Estados Unidos há muitos anos e adorava o país, fizera graduação e doutorado na Califórnia, mas que nem tudo na vida se resumia à sua felicidade pessoal. Que havia outros valores.
Ninguém entendeu. Não conseguiriam entender. Entender o engenheiro indiano significaria desmontar a mentira fundamental que os Estados Unidos contam sobre si mesmos. Nem as minhas alunas, benditas sejam, que teriam entendido quase tudo, conseguiriam dar esse último passo.
(Não estou elogiando a cultura indiana, da qual não sei quase nada e o pouco que sei é negativo, mas sim, mostrando que, bem ou mal, um outro caminho é possível.)
Em uma mesa de bar de São Francisco, quando as colegas de trabalho da minha irmã me contavam essa história, havia surpresa, raiva, afronta em suas vozes.
O engenheiro indiano ter vivido entre elas por tanto tempo e, ainda assim, ter decidido voltar para um casamento arranjado em casa, era uma ofensa que calava fundo, fundo demais: as palavras "ingrato" e "ingratidão" foram ditas não poucas vezes.
E nós, aqui no Brasil, pessoas urbanas e descoladas, applemaníacas e early-adopters, em muitos aspectos mais reais que o rei, também profundamente investidas em nossa idolatria pela deusa felicidade, também não entendemos.
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Quando falo das prisões nos meus eventos, a Felicidade é sempre a penúltima, logo antes da Empatia — ainda mais escandalosa.
Antes de chegar nela, eu já ataquei a Verdade e a Religião, a Monogamia e o Respeito, o Trabalho e a Liberdade, a Autossuficiência e o Patriotismo. Mas tudo bem: pois se estamos indo contra essas forças opressoras, é para sermos mais felizes, não?
Então, quando digo que a Felicidade também é uma prisão, e das piores, mesmo entre minha plateia usual de pessoas deslocadas e de ovelhas negras, de subversivas e de contestadoras, ainda assim muitas me olham horrorizadas. Como se eu estivesse cometendo a maior de todas as transgressões. Como se eu tivesse finalmente ido longe demais.
Não é nem que ficam revoltadas: ficam intrigadas. Confusas. Curiosas.
Nunca consideraram viver suas vidas sem sua própria felicidade como fim último. Não lhes parece teoricamente possível viver sem sua própria felicidade como fim último.
E, pior, se a felicidade não é o fim último, então qual é? Viver pra quê? Viver almejando o quê?
Mas não cabe a mim dizer ao que devem almejar, ou qual deve ser o fim último de suas vidas.
Eu não sei qual deve ser o fim último da vida de ninguém, ou mesmo se nossas vidas devem ter um fim último, mas sim mostrar que o fim último da vida de uma pessoa não precisa necessariamente ser sua própria felicidade individual.
O meu objetivo é só desmontar as narrativas compulsórias que nos venderam.
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Quando as pessoas mais conformistas, as mais travadas e as mais cooptadas, são as que mais falam em "pensar fora da caixinha", talvez seja justamente a hora de olhar dentro da caixinha. Talvez exista algo de importante lá. Algo do qual estamos desesperadamente querendo fugir.
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Promoções da Amazon
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Série “As Prisões”
Aqui estão os textos já reescritos, revisados e finalizados em 2023:
Felicidade (em breve)
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O Curso das Prisões
Um curso para nos libertar até mesmo da busca pela liberdade. O que está em jogo é nossa vida.
Curso em resumo
Curso de filosofia prática, com ênfase em liberdade pessoal e consciência política: como viver uma vida mais livre e significativa sem virar o rosto ao sofrimento do mundo. // As Prisões: Verdade, Religião, Classe, Patriotismo, Respeito, Trabalho, Autossuficiência, Monogamia, Liberdade, Felicidade, Empatia // Sem leituras, com muita conversa, debate, polêmica. // Um tema por mês, durante onze meses: uma conversa livre, no 1º domingo, para abrir o mês de conversas sobre o tema, e uma aula, na última quarta-feira, para fechar. Até 27 de dezembro de 2023. // Encontros e aulas ao vivo via Zoom; aulas gravadas via Facebook; grupo de discussão no Whatsapp. // R$88 mensais, no Apoia-se, por todos os meus cursos. Compre agora.
O que são As Prisões
As Prisões são as bolas de ferro mentais e emocionais que arrastamos pela vida: as ideias pré-concebidas, as tradições mal explicadas, os costumes sem sentido: Verdade, Religião, Classe, Patriotismo, Respeito, Trabalho, Autossuficiência, Monogamia, Liberdade, Felicidade, Empatia.
O que chamo de As Prisões são sempre prisões cognitivas: armadilhas mentais que construímos para nós mesmas, mentiras gigantescas que nunca questionamos, escolhas hegemônicas que ofuscam possíveis alternativas.
A Monogamia, por exemplo, é uma prisão não porque seja ruim ou desaconselhável em si, mas porque se apresenta como sendo a única opção concebível de organizar nossos relacionamentos, consignando todas as outras alternativas à imoralidade, à falta de sentimentos, ao fracasso: “relacionamento aberto não funciona, é coisa de quem não ama de verdade”.
A Felicidade é uma prisão não porque seja ruim ou desaconselhável em si, mas porque se apresenta como sendo a única opção de fim último para nossas vidas, consignando todas as outras alternativas à condição de suas coadjuvantes e dependentes: “não é que o seu fim último seja ser virtuosa, mas você quer ser virtuosa para ser feliz, logo o seu fim último é ser feliz”.
Quem está “presa” na Prisão Monogamia não é a pessoa que fez a escolha livre e consciente de viver relacionamentos monogâmicos, mas sim aquela que, por ignorar a opção de não fazer isso, por nunca ter percebido a verdadeira gama de diferentes alternativas que lhe estavam abertas, vive relacionamentos monogâmicos por default, como se essa fosse a única possibilidade concebível. Sua prisão (cognitiva) não é viver a Monogamia, mas ignorar a realidade que existe além dela.
Quem está “presa” na Prisão Felicidade não é a pessoa que fez a escolha livre e consciente de colocar sua própria felicidade individual como fim último de sua vida, mas sim aquela que, por ignorar a opção de não fazer isso, por nunca ter percebido a verdadeira gama de diferentes alternativas que lhe estavam abertas, busca sua própria felicidade por default, como se essa fosse a única possibilidade concebível. Sua prisão (cognitiva) não é buscar a Felicidade, mas ignorar a realidade que existe além dela.
Cada uma das Prisões, da Verdade à Empatia, do Trabalho à Felicidade, é sempre, antes de mais nada, uma prisão cognitiva, uma percepção incompleta da realidade. Por trás de todas as Prisões está sempre a mesma inimiga: a ignorância.
Funcionamento
Como toda Prisão é uma verdade tão inquestionável que nos impede de perceber outras alternativas, nossas aulas começam sempre por analisá-la e desconstruí-la, para entender como nos limitam, e podermos então enxergar as alternativas que ela esconde.
Cada mês será dedicado a uma Prisão.
No 1º domingo do mês, às 19h, damos início às discussões com uma conversa livre no Zoom. Não é uma aula expositiva, mas uma sessão de troca e de escutatória. Sem a interlocução de vocês, sem ouvir como essa prisão afetou as suas vidas, eu não teria nem como começar a pensar a aula. Aqui, tudo é prático, nada é teórico. O que está em jogo são nossas vidas.
Ao longo do mês, continuamos conversando sobre essa Prisão em nosso grupo do Whatsapp, trocando histórias e experiências. Para quem quiser, vou compartilhando as leituras que estou fazendo sobre o tema, mas nenhuma leitura é obrigatória, nem necessária para a compreensão da aula.
Na última quarta-feira do mês, às 19h, fechamos as discussões com uma aula, também pelo Zoom. Essa aula será expositiva, mas também teremos bastante espaço para debates e conversas.
Aulas gravadas indefinidamente
A gravação em vídeo das aulas expositivas fica disponível em um grupo fechado do Facebook. (É preciso se inscrever no Facebook para ter acesso ao grupo) Mas, juridicamente falando, como não posso garantir “indefinidamente”, garanto que as aulas estarão acessíveis às compradoras do curso, se não no Facebook em outro lugar, no mínimo até 31 de dezembro de 2027. As conversas livres, por serem mais pessoais, não ficam gravadas: são só para quem vier ao vivo. As aulas gravadas só estarão disponíveis para as mecenas do plano CURSOS enquanto durar o apoio. Você pode cancelar seu plano de mecenato a qualquer momento, mas aí perde acesso aos cursos.
Sem leituras
O Curso As Prisões não é um curso de leituras: nenhuma leitura é obrigatória ou recomendada. É um curso de conversas livres e de trocas de experiências, de escutatória e de debates, de reflexão sobre nossas vidas e sobre como viver.
Para cada Prisão, eu listo uma pequena bibliografia, para que vocês saibam quais livros eu utilizei na preparação da aula e para que possam correr atrás das leituras que mais lhes interessem.
Mas não precisa ler nada para participar das aulas, das conversas, das trocas, das discussões.
Sejam as primeiras leitoras do Livro das Prisões
O Livro das Prisões foi contratado pela Rocco em 2017 e eu ainda não consegui escrever. Um de meus objetivos para esse curso é, com a inestimável ajuda da interlocução de vocês, finalmente terminar o livro. Então, junto com a aula, também pretendo disponibilizar o texto dessa Prisão em sua versão final, já pronta para publicar. Todas as alunas do curso serão citadas nos agradecimentos do livro, pois ele certamente nunca teria sido escrito sem a participação de vocês. Já de antemão, agradeço.
Professor
Alex Castro é formado em História pela UFRJ com mestrado em Letras por Tulane University (Nova Orleans, EUA), onde também ensinou Literatura e Cultura Brasileira. Atualmente, é mestrando do Programa de Pós-Graduação em Letras Neolatinas da UFRJ. Tem oito livros publicados, no Brasil e no exterior, entre eles A autobiografia do poeta-escravo (Hedra, 2015), Atenção. (Rocco, 2019) e Mentiras Reunidas (Oficina Raquel, 2023). Escreve para a Folha de São Paulo, Suplemento Pernambuco, Quatro Cinco Um, Rascunho.
Meus votos zen-budistas
Pratico zen budismo há dez anos. Todo dia, pela manhã, refaço meus votos: os quatro votos do Bodisatva e os três votos dos pacificadores zen.
Basicamente, eu me comprometo a ajudar as pessoas a 1) se libertarem, 2) enxergarem as ilusões que as limitam, 3) perceberem a realidade em sua plenitude e, assim, 4) agirem no mundo de acordo com essa percepção. E me proponho a fazer isso a partir de 1) uma posição de não-saber, me abrindo às novas situações sem certezas prévias, 2) estando presente de forma plena a cada interação humana, sem virar o rosto nem à dor nem à alegria, e 3) agindo amorosamente.
Esse curso é minha humilde tentativa de agir no mundo de acordo com meus votos. De ajudar as pessoas, minhas alunas e minhas leitoras, a enxergarem suas prisões, se libertarem delas, perceberem a realidade e agirem amorosamente no mundo, questionando suas certezas e nunca virando o rosto nem à dor nem à alegria das outras pessoas.
Dar esse curso, portanto, é minha prática religiosa. Se eu tiver algum sucesso em caminhar ao lado de vocês nesse percurso, minha vida terá sido uma vida bem vivida, e sou grato por tê-la vivido.
Os Quatro Votos do Bodisatva: As criações são inumeráveis, faço o voto de libertá-las; As ilusões são inexauríveis, faço o voto de transformá-las; A realidade é ilimitada, faço o voto de percebê-la; O caminho do despertar é insuperável, faço o voto de corporificá-lo.
Os três votos da Ordem dos Pacificadores Zen: Praticar o não saber, abrindo mão de certezas prévias; Estar presente na alegria e no sofrimento, não virando o rosto à dor alheia; Agir amorosamente, de acordo com essas duas posturas.
Compre
O Curso das Prisões é exclusivo para as mecenas dos planos CURSOS ou MIDAS do meu Apoia-se.
Para fazer o curso completo (11 aulas expositivas + 11 encontros livres + grupo no Facebook + grupo de Whatsapp):
R$88 mensais, via Apoia-se: comprando o plano Mecenas CURSOS (ou superior), você tem acesso a todos os meus cursos enquanto durar o seu apoio, além de ganhar muitas outras recompensas, como textos e aulas avulsas exclusivas. Como bônus, coloco seu nome na lista das mecenas. Você pode cancelar o seu plano a qualquer momento, mas aí perde acesso aos cursos. (O Apoia-se aceita todos os cartões de crédito e boleto).
Não são vendidas aulas individuais. Não existem outras formas de pagamento. Quem estiver no estrangeiro e não tiver cartão de crédito ou conta bancária brasileira, fale comigo: eu@alexcastro.com.br
Dúvidas
Somente por email: eu@alexcastro.com.br
Aulas em resumo
Links levam para a descrição de cada aula na ementa do curso.
Verdade (fevereiro)
Religião (março)
Classe (abril)
Patriotismo (maio)
Respeito (junho)
Trabalho (julho)
Autossuficiência (agosto)
Monogamia (setembro)
Liberdade (outubro)
Felicidade (novembro)
Empatia (dezembro)
As inscrições para o Curso das Prisões estão abertas: é só fazer o plano CURSOS no meu Apoia-se.
Conforme o dito popular: "Felicidade não se compra", assim, nada do que nos ofereçam para ser comprado tem, em si, o condão de nos tornar felizes pela sua simples aquisição. Sobre querer ser feliz ou quererem que sejamos felizes há diferenças significaticas. A felicidade é um estado permanente de contentamento e seria, em princípio, o nosso estado natural. Tiram-nos a felicidade para vende-la aos poucos e em pedaços a cada um de nós. Pode? Quando nos percebemos separados a partir do gênero em sociedade, aos homens recomendam que o poder sobre os demais os fará felizes e às mulheres, que se reproduzindo e se casando com um homem rico serão felizes. Então o objetivo da mulher em ser feliz é obrigatório tanto quanto o objetivo do homem em ser poderoso. A incapacidade ou a capacidade de cada um alcançar esses objetivos em sociedade já nos perturba a paz interior que teríamos por direito. Quem ou o que lucra com a felicidade ou a infelicidade que causamos uns aos outros não se importa que sejamos felizes ou não, esses não conhecem a felicidade. Jamais estiveram ou estarão contentes com nada.