Não existe Casa-Grande & Senzala sem Os Sertões
A enormidade do sucesso de Euclides da Cunha explica a enormidade do impacto de Gilberto Freyre.
Para entendermos o valor de Casa Grande & Senzala (1933), de Gilberto Freyre, precisamos compará-lo não ao discurso politicamente correto de hoje, mas ao discurso racista-cientificista de Os sertões (1902), de Euclides da Cunha.
Os sertões, de 1902, representa perfeitamente o pensamento hegemônico, quase unânime, da inteligência brasileira sobre raças no período entre 1880 e 1930. Euclides faz tanto sucesso porque ele encarna, representa, articula cientificamente esse senso-comum em que todas as pessoas acreditam, sobre progresso humano e darwinismo social, sobre lombrosianismo e frenologia, sobre raças superiores e inferiores, etc. Euclides articula todos esses conceitos sem nenhuma dor da consciência, acreditando estar falando em termos estritamente científicos.
O sucesso gigantesco e inesperado de um livro difícil e palavroso como Os sertões é indicativo de como essa mentalidade era disseminada e entranhada na sociedade brasileira.
Só nesse contexto podemos entender o enorme impacto e o inestimável valor de Casa Grande & Senzala, de 1933: em uma linguagem propositalmente anticientífica, molenga e estilosa, Freyre investe de forma violenta contra todo esse cientificismo racista representado por Euclides e o demole de uma só tacada.
Para entendermos o valor de Gilberto Freyre, precisamos compará-lo não com o discurso politicamente correto de hoje, mas com o discurso racista-cientificista de Euclides da Cunha.
A enormidade do sucesso de Os sertões ajuda a explicar a enormidade do impacto de Casa Grande & Senzala.
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Dois textos meus, desenvolvendo essas ideias:
— Casa-Grande & Senzala, de Gilberto Freyre
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No curso A Grande Conversa Brasileira, lemos Casa Grande & Senzala para a segunda aula, Escravistas & escravizados, e, agora, estamos lendo Os sertões para a próxima aula, a quinta, Civilizados & bárbaros, que acontece 5 de agosto.
Já os livros sobre os quais conversaremos na sétima aula, Loucas & grevistas, todo reproduzem, em maior ou menos grau — menos o de Pagu — a visão de mundo de Euclides da Cunha: O Cortiço, A Carne, Bom Crioulo, Eu e outros poemas, e O cemitério dos vivos.
O curso está bem legal, viu? Entrando agora, você assiste as quatro aulas passadas na gravação, participa das próximas seis ao vivo, e ainda conversa com a gente no grupo de Whatsapp.
Um beijo,
Alex