De vez em quando, dizem que sou “corajoso”.
Mas não sou não.
Pelo contrário, olho em volta e quase todas as pessoas são bem mais corajosas do que eu.
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Dizem que sou corajoso por “não ter medo de falar o que penso”…
… mas me parece que é necessário muito mais coragem para escolher viver sempre se anulando, se autocensurando, se calando.
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Dizem que sou corajoso por “não ter medo de desapegar de pessoas” e por ter ido “procurar minha turma”…
… mas me parece que é necessário muito mais coragem para escolher permanecer convivendo com as mesmas familiares, saindo com as mesmas amigas de infância, sempre nos mesmos grupos, apesar de já não ter mais nada em comum com essas pessoas, mesmo quando elas nos agridem, mesmo quando precisamos constantemente calar nossas opiniões.
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Dizem que sou corajoso por fazer certos comentários e adotar certas atitudes “sem medo de parecer que sou gay” ou “sem medo de parecer que sou politicamente correto”…
… mas me parece que é necessário muito mais coragem para escolher fazer certos comentários e adotar certas atitudes sem medo da pessoa parecer que é homofóbica ou politicamente incorreta.
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Dizem que sou corajoso por “não depender de patrão” e por “nunca saber de onde virá meu próximo dinheiro”…
… mas me parece que é necessário muito mais coragem para escolher depender 100% de uma única fonte de renda, de um único emprego em uma única empresa que pode despedir qualquer pessoa, a qualquer hora, sem nenhuma dor na consciência, assim que essa for a decisão contabilmente mais recomendada.
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Dizem que sou corajoso por “viver relações não-monogâmicas” e por encarar o fato de que minha companheira “pode ir embora a qualquer momento”…
… mas me parece que é necessário muito mais coragem para escolher depender 100% de uma única fonte de amor e de sexo, de uma única outra pessoa que, por ser tão livre quanto eu, também pode ir embora a qualquer momento.
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Dizem que sou muito corajoso por “ter feito a opção de não ter filhos”…
… mas me parece que é necessário muito mais coragem para escolher colocar um novo ser humano no mundo e se comprometer a cuidar dele pelas próximas décadas.
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Na minha vida, sigo sempre o caminho que me parece mais fácil, o caminho que me exige menos esforço, o caminho que me requer menos coragem.
Admiro muito a força moral da maioria das pessoas à minha volta, mas eu jamais teria coragem de viver a vida que vivem.
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Uma pergunta para você:
Se uma pessoa mais forte desafia uma outra mais fraca para uma briga….
… corajosa é quem tem a coragem de aceitar o desafio, mesmo sabendo que vai apanhar publicamente?
ou
… corajosa é quem tem a coragem de engolir a ofensa, mesmo sabendo que vai se humilhar publicamente?
Como sempre, a pergunta não é retórica. Quero realmente saber sua opinião.
Mas cuidado: essa é daquelas respostas que define uma pessoa.
Para responder, deixe um comentário ou responda esse email.
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Kafka, um autor traído
Todo mês, na última quarta-feira, dou uma aula avulsa sobre História e/ou Literatura. A aula de novembro, dia 30, às 19h, se chamará Kafka, um autor traído.
Para quem quiser se preparar, a obra de Kafka é pequena e dá pra ler numa única tarde — certamente a tarde mais desesperadora da sua vida.
Aqui vai o mínimo que eu recomendo para uma pessoa poder dizer que "leu" Kafka: A metamorfose, Um médico rural, O veredito/ Na colônia penal e Um artista da fome. Para quem tem pouco tempo e/ou pouco dinheiro, o volume Kafka Essencial da Penguin/Companhia traz de fato o essencial do essencial.
Reparem que (tirando a última antologia) só recomendei textos que Kafka publicou e autorizou em vida. Aliás, um dos temas da aula será justamente esse:
É ético lermos as cartas íntimas de um homem intensamente privado e tímido?
É ético lermos obras de um artista que não queria que lêssemos essas obras?
Qual é o limite da autoridade autoral de um artista?
Qual é o limite da invasibilidade do público?
Temos "direito" a usufruir de uma obra de arte só porque ela existe, ou temos esse direito somente a partir do momento em que a artista libere essa obra ao público?
E se a artista não liberar?
A aula é só para as mecenas dos planos ENCONTROS, CURSOS & MIDAS. Para fazer parte, visite o meu Apoia-se.
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Um pedido às queridas leitoras e alunas hispanófilas
O curso Grande Conversa Espanhola está maravilhoso, mas me obriga a comprar muitos livros espanhóis.
Para quem quiser e puder, para quem acha que esse curso está barato para tudo que oferece (e está mesmo!), depositar alguns euros no meu cartão-presente da Amazon Espanha AJUDA MUITO. E agradeço. ;)
É só visitar o link abaixo, escolher o valor e enviar para eu@alexcastro.com.br:
Para quem só tem conta na Amazon EUA, ajuda também, pois a partir deles consigo comprar em todas as filiais. O procedimento é o mesmo: visita o link abaixo, escolhe o valor e envia para eu@alexcastro.com.br:
E muito, muito obrigado.
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Aula de dezembro: Aniquilar, de Houellebecq
Para quem já quiser ir se preparando, a aula de dezembro será sobre o novo romance de Michel Houellebecq, Aniquilar, que eu considero o escritor vivo mais importante (e mais incômodo) do mundo hoje.
Aniquilar será publicado no Brasil no dia 19 de novembro, mas já está em pré-venda. É sensacional, um de seus grandes livros e vale muito a pena.
Ao comprar na Amazon por algum dos meus links, eu ganho uma comissãozinha e você apoia o meu trabalho.
Um textinho meu sobre Houellebecq e sua obra.
Um beijo do Alex