Pessoas em profissões normais e estabelecidas não fazem ideia da extensão da insegurança das pessoas artistas, mesmo das mais bem-sucedidas, e de como precisamos, muitas vezes desesperadamente, de apoio, suporte, validação.
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Se uma pessoa diz que é bióloga e alguém duvida, ela mostra o diploma. Se duvidam que é vice-presidente de vendas, é só puxar o cartão de visitas.
Mas artista? Para muita gente, se dizer artista por si só já é arrogante ou vaidoso:
A artista depende sempre do olhar do outro e não existe validação incontestável ou reputação inexpugnável.
Paulo Coelho é o autor em língua portuguesa que mais vendeu em todos os tempos e muitas pessoas afirmam, sem a menor dúvida nem cerimônia, que ele não é escritor e pronto.
Artistas plásticas que dedicaram toda a vida ao estudo e à prática de sua arte são rotineiramente chamadas de "charlatãs" ou "picaretas" por gente que não entende nada de arte, mas acha que seu "filho de cinco anos faria igual".
Uma engenheira, se construir um prédio que cai, será considerada uma má engenheira, uma engenheira criminosa até. Idem para a médica que mate a paciente.
Já a artista nunca está livre de ser sumariamente despida de sua condição de artista.
Graças ao mesmo mecanismo que faz a auto-afirmação "sou artista" parecer arrogante e vaidosa (pois as pessoas percebem "ser artista" como algo intrinsecamente bom), uma crítica a uma artista muitas vezes não se limita a atacar sua arte ou suas escolhas artísticas, mas também lhe nega a própria condição de artista (afinal, ser artista é intrinsecamente bom, e ela não é boa.... é uma charlatã!)
Ou seja, despida da segurança oferecida por um diploma ou por alguma forma de validação incontestável, a artista é forçada a se auto-afirmar artista, na esperança que outras pessoas concordem e também a vejam como artista, mas quanto mais se auto-afirma artista mais é hostilizada ou criticada pela vaidade e arrogância de se auto-declarar artista.
Esse círculo vicioso de bipolaridade constitutiva, onde a obrigatoriedade de se auto-promover vem junto com os ataques pela vaidade arrogante da auto-promoção, é simplesmente massacrante.
Às vezes, quase me esmaga.
Na noite escura da alma, quando é sempre três da manhã, são os elogios de vocês que me salvam.
Muito, muito obrigado.
Continuo testando e comparando sistemas de envio de newsletter. Muito obrigado por estarem comigo durante esse processo. Abaixo, os meus novos textos escritos e publicados essa semana. Cliquem no título para ler o texto completo.
Não existe nada anticristão na esquerda, nem antiesquerda no cristianismo. Se a esquerda não incorporar o discurso religioso, especificamente o cristão, especificamente no que tem de mais esquerdistas e igualitário, ela estará fadada a perder todas as eleições em um país majoritariamente religioso e cristão.
A literatura contemporânea é fraca
Do nosso ponto de vista, a qualidade média das obras contemporâneas que lemos (onde as ruins estão misturadas com as ótimas) é sempre mais baixa do que das obras do passado, onde nossa tendência é ler somente aquelas que foram selecionadas pelo processo de canonização literária.
Se criticamos o Outro por sua intolerância odiosa e inaceitável, e, por isso, nos recusamos a dialogar com ele, então, quem está amarrando as próprias mãos, quem está limitando o espectro possível de iniciativas que podem ser tomadas, quem está se colocando fora da possibilidade de diálogo, somos nós.
O objetivo de qualquer processo filosófico é sempre des-naturalizar o que nos parecia mais natural.
Na estrada, de Jack Kerouac: a história de um não
Na Estrada, de Jack Kerouac, é não uma celebração da estrada (se fosse, o livro terminaria com todos alegremente ainda dirigindo pelo país) mas sim a história do amadurecimento de Sal Paradise. De como ele finalmente aprendeu a dizer “não”.
"Opa, você casou em dezembro de 2019? Bem no final da pré-pandemia, hein?"
Nos meus primeiros anos em Nova Orleans, me angustiava não saber a pronúncia correta do nome da cidade. Nuólins, Níu-or-línz: cada pessoa falava de um jeito, era enlouquecedor!
Conversando sobre empatia & atenção, meritocracia & privilégio, com Carolina Nalon
Semana passada, participei de um bate-papo ao vivo com a Carolina Nalon. Conversamos sobre meu livro "Atenção." e seus temas: atenção e empatia, privilégio e meritocracia. Como a atenção pode ser utilizada como ferramenta de transformação política? Como conversar com o Outro que tem opiniões tão detestáveis para nós?
Por fim, se esses textos lhe ajudaram, se adicionaram valor à sua vida, se lhe fizeram ver o que antes você não via, posso ter a insolência de sugerir uma contribuição em dinheiro? Pode ser de qualquer valor. Pode ser única ou regular. Qualquer valor ajuda.
Pois foi assim que tentei construir uma vida não-violenta e livre de imposições: escrevendo textos, oferecendo-os de graça, e contando com a generosidade de quem gosta deles.
E muito, muito obrigado mesmo.
Página de mecenato do Alex Castro.
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Esse é o quarto email que estou mandando por um novo serviço de gerenciamento de newsletters, o Substack. Por favor, me avisem se veio tudo certinho, se apareceu escondido em alguma pasta estranha, qualquer coisa, por favor.
Os textos ficam arquivados em minha página de autor no Substack.
Se tiver algo a me dizer (sempre quero saber a opinião de vocês), basta responder.
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E muito, muito obrigado.