"Você não vai acreditar nessas super dicas pro seu tempo render mais!
A pressa é uma corrida para a morte. Não ter pressa é abraçar a vida.
Um adesivo de para-choque:
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Hoje, muitas pessoas estão celebrando a decisão do Whatsapp de permitir a reprodução de mensagens de voz em velocidade acelerada.
Até aí, tudo bem. (De fato, as pessoas tendem a se alongar mais, a tergiversar mais quando enviam mensagens de voz.)
Aliás, recomendo assistir essa minha vídeo-biografia.
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Muitos comentários, porém, estão naturalmente desembocando em uma celebração da pressa:
Porque é isso aí, a vida é muito curta pra ouvir áudio na velocidade normal, temos pressa, queremos viver mais rápido, fazer tudo acelerado, sou assim, etc etc.
E me pergunto:
Essas pessoas sabem para onde estão correndo?
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Por que temos pressa?
Em minha vida, a pressa era sempre uma decisão.
Se acordava apressado, se dirigia apressado, se andava apressado, era porque tinha decidido assim: eu poderia ter acordado mais cedo, saído de casa um pouco antes, não ter marcado esses compromissos tão próximos.
Mas achei que podia, pensei que dava, tive certeza que conseguia. (Existe um pouco de arrogância na decisão de ter pressa.)
E minha pressa nunca dava certo: bati o carro e levei multa, tropecei e esbarrei, esqueci coisas importantes e quebrei coisas idem, fui grosso e negligente.
E por quê? Para quê?
Para dormir mais quinze minutos? Para ficar mais meia hora no Twitter?
Valeu a pena?
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No fim das contas, eu estava correndo em direção a quê?
O futuro é a morte.
A nossa vida (e todas as coisas que fazem nossa vida valer a pena) é justamente aquilo que fazemos pelo caminho — esse caminho que passa por nós borrado e indistinto quando estamos com pressa.
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Decidi que nunca mais teria pressa.
Hoje, eu acordo mais cedo, saio mais cedo, começo a fazer as tarefas mais cedo.
Tem sido gostoso.
A pressa é uma corrida para a morte. Não ter pressa é abraçar a vida.
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Tudo o que falei, claro, só vale para a minha vida. Como funciona na sua vida? Me conta? (Basta responder esse email ou comentar esse post.)
Pense nas vezes em que fez besteira por estar com pressa. Essa pressa foi escolha sua? Era possível escolher diferente? Por exemplo, decidido acordar antes, decidido sair mais cedo, etc?
Se a pressa é nossa escolha, a boa notícia é que, da próxima vez, podemos escolher diferente.
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Venho tentando exercer a atenção plena em todas as esferas da vida.
Então, quando estou comendo, estou só comendo: não estou lendo, não estou vendo filme, não estou ouvindo música, não estou pensando na vida. Minha atenção plena está na comida.
(Naturalmente, viver com atenção plena é um projeto que nunca pode ser realizado, uma caminho para o qual não há chegada.)
Uma das primeiras consequências é uma seletividade maior das minhas atividades: um velho episódio de Seinfeld, que já assisti cinco vezes, ou um novo episódio de Curb your enthusiasm, podem ser até legais enquanto estou lavando louça mas simplesmente não vale a pena dedicar 22 de minutos de atenção plena exclusivamente a eles.
Quem faz duas coisas ao mesmo tempo não faz nenhuma delas direito.
Minha maior conclusão, depois de tentar viver uma vida sem pressa, é que a vida é muito curta para atividades meia-boca: só vale a pena ser feito aquilo que vale a pena ser feito com atenção plena.
(Sou um apoiador do Rafael Salimena, autor da ilustração acima. Seja você também.)
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Quando falo isso, às vezes me respondem:
"Nem todo mundo tem sua vida boa, Alex. Faço multitask porque não posso me dar ao luxo de fazer uma coisa só. Não sou artista. Preciso ser eficiente!"
Isso tudo é o ego falando.
Nós supervalorizamos nossas capacidades e, por isso, nos enganamos que, de fato, conseguimos fazer eficientemente as três coisas que estamos fazendo ao mesmo tempo.
Só que não é verdade.
Eu, Alex, tento fazer uma coisa de cada vez porque, bem, essa é literalmente minha religião. (Sou zen-budista ordenado.)
Mas, se a sua prioridade é ser uma pessoa mais produtiva e mais eficiente, saiba que todos os estudos indicam que o multitask é improdutivo e ineficiente.
Esse link, da Vox, oferece seis sugestões pró-ativas para uma maior produtividade e eficiência.
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Se meus textos tiveram impacto em você, se usa meus argumentos para ganhar discussões, se minhas ideias adicionaram valor à sua vida, por favor, considere fazer uma contribuição do tamanho desse valor. Assim, você estará me dando a possibilidade de criar novos textos, produzir novos argumentos, inventar novas ideias.
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Um beijo,
do Alex