Por que tanta mentira?
O que pode ser mais subversivo do que uma mentira que se afirma mentira?
Meu novo livro, Mentiras Reunidas, está em pré-venda. Durante esse mês de divulgação e lançamento, muita gente me pergunta:
Mas por que mentir? Por que tanta mentira?
Abaixo, a resposta, do prefácio do livro.
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Tudo é mentira nesse livro: não só os contos, mas os elogios da contracapa e o texto das orelhas, o prefácio e o posfácio, tudo, enfim.
Se esse exemplar na sua mão tiver uma dedicatória escrita por mim, ela também é mentira. (Toda dedicatória que escrevo é sempre mentirosa: um microconto que invento na hora e escrevo ao vivo. Somente o nome da recipiente é real.)
Mas por que mentir? Por que escrever dedicatórias apócrifas, orelhas fajutas, biografias falsas? Por que tanto desrespeito à pessoa que está lendo? Por que perder tempo em brincadeiras bobas? Por quê? Para quê? Ou, mais fundamentalmente, no meio de uma pandemia global, para quê escrever ficção?
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Vivemos a Era da Mentira.
Hoje, temos na presidência do Brasil e dos Estados Unidos dois homens eleitos na base de notícias falsas.
Por outro lado, essas notícias falsas se tornaram um problema justamente porque as pessoas estão tão céticas que, em seu ceticismo crédulo, acreditam ingenuamente em qualquer teoria alternativa dos fatos.
Um dos grandes paradoxos dos tempos atuais é que foram exatamente as pessoas mais céticas e cínicas que se tornaram as maiores crédulas e ingênuas. (Antes da pandemia, que roteirista teria incluído em seus filmes uma comunidade de “negacionistas do apocalipse zumbi”?)
Todos os dias, nas redes e aplicativos, somos bombardeadas por uma saraivada de mentiras, mas não apenas mentiras: mentiras que batem retumbantemente no peito para se proclamar verdades, mentiras orgulhosas de serem as únicas verdades, mentiras que insistem representar a verdadeira verdade.
Nesse mundo, o que pode ser mais subversivo do que uma mentira que se afirma mentira? Nesse contexto, o que pode ser mais revolucionário do que uma mentira que se gaba de ser mentira?
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Sou bacharel em História. Fui treinado para pesquisar e investigar, descobrindo assim a verdade sobre os fatos do passado.
Sou escritor de ficção. Passei a vida inteira inventando histórias que nunca aconteceram com pessoas que nunca existiram.
A verdade está no centro do meu trabalho, seja para buscá-la ou evitá-la. Tudo o que faço profissionalmente diz sempre respeito à verdade, seja reflexão ou discurso, ataque ou defesa, repudiação ou fuga.
Chamamos ficção de ficção porque não queremos chamá-la por seu nome verdadeiro. Ficção é mentira. Um livro de contos é um livro de mentiras. Mais importante, é um livro de mentiras que nunca te engana sobre o fato de ser um livro de mentiras.
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A leitora distraída, se abrisse esse livro na livraria e lesse somente uma orelha, talvez até se deixasse enganar.
Mas bastaria ler a outra orelha para detectar a discrepância e sentir o estranhamento. Afinal, ambas se contradizem e se anulam.
Talvez pensasse que ou uma orelha ou a outra teria necessariamente que ser mentira.
Talvez se desse conta que poderiam as duas ser mentira.
Talvez (quem sabe!) percebesse até mesmo que toda orelha de todo livro é sempre mentira.
Afinal, o que é uma orelha de livro senão uma narrativa ficcional para criar uma persona vendável ou prestigiosa para a pessoa autora? (Com ou sem foto? Foto de rosto ou de corpo inteiro? Foto na praia ou na biblioteca? Melhor citar os títulos acadêmicos ou os títulos dos livros publicados? As esposas ou os filhos? As viagens ou as falências?)
Se as orelhas são mentira, o que dizer então dos prefácios e dos posfácios? Dos elogios da contracapa e dos agradecimentos finais?
E não só desse livro, mas de todos os outros que já li, pensaria a hipotética leitora: esses livros em quem tanto confiei.
Ou, talvez, distraída e desinteressada, simplesmente colocasse o livro de volta na mesa e fosse comprar um Moleskine.
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Um editor se recusou a publicar esse livro (chamado Mentiras Reunidas, vamos lembrar) por causa do excesso de mentiras.
O livro é de ficção, respondi.
Ora, nas orelhas, na biografia, nos elogios da contracapa não pode.
Mas por quê? Se o livro é ficção, por que não ser tudo ficção?
A verdade é que é tudo mentira.
A mentira é que nada é verdade.
Alex Castro,
Copacabana, 6 de janeiro de 2021
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Mentiras reunidas, em pré-venda
Já começou a pré-venda do meu novo livro Mentiras reunidas, em versão capa dura, com bookbag, dedicatórias apócrifas e marcadores, e mais cinco contos exclusivos.
Essa versão capa dura só estará disponível nessa pré-venda: mais tarde, não estará disponível nem para venda pelo site, nem para venda em livrarias. Só nessa pré-venda, só agora. Depois, nunca mais.
No final do ano, se o resultado do capa dura for bom, vamos lançar Mentiras reunidas também nas versões brochura, ebook, áudiolivro, mas aí não vai ter bookbag, não vai ter capa dura e, mais importante, não vai ter os cinco contos exclusivos.
A edição brochura (se existir) será do mundo, vai vender nas livrarias e tal (espero!), mas esse capa dura, com a bolsa de brinde, é meu presente para minhas leitoras fiéis: ele reúne toda a minha ficção publicada e mais, doze contos inéditos, desde o meu primeiro conto, de 1987, até uma história escrita especialmente para esse livro, em 2019, passando pelos livros Mulher de um homem só (2009) e Onde perdemos tudo (2011).
Trinta e dois anos da minha produção artística, os frutos de todos os meus maiores esforços, em um só livro, só para você.
Cinco dos doze contos inéditos são exclusivos da versão capa dura e não estarão incluídos nas versões brochura, ebook e áudiolivro que venham a existir.
Todas as vendas serão realizadas pelo site da própria editora. (Dessa vez, não vou vender eu mesmo. Ou seja, não vai dar pra comprar na minha mão.) A editora aceita boleto, cartão de crédito e parcela em 3x. Para quem está no exterior, basta preencher um formulário e a editora entra em contato.
A pré-venda vai até15 de abril e os livros começam a ser enviados em 31 de maio de 2021. (Repito: o livro não estará mais à venda, em nenhum meio, de nenhuma maneira, depois de 15 de abril.)
Por fim, uma promoção em conjunto com meu novo curso. Quem comprar Mentira Reunidas na pré-venda, paga somente o preço promocional do meu curso A Grande Conversa Brasileira: a ideia de Brasil. Ao invés de R$1.100, você só paga R$899 (válido somente para pagamento à vista, via Pix). Ou seja, o Mentiras Reunidas sai de graça. Basta me enviar o comprovante da compra do livro e fazer o pix de R$899. Minha chave Pix é eu@alexcastro.com.br.
Compre Mentiras Reunidas agora.
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Você ganha…
Comprando Mentiras reunidas na versão capa dura, você ganha:
— 1 bookbag EXCLUSIVO: só estará disponível para quem comprar o capa dura, não será vendido separadamente, não será produzido no futuro;
— 5 contos inéditos e EXCLUSIVOS da capa dura: não estarão nas outras versões (brochura, ebook, audiolivro) que podem ser lançadas no final do ano;
— 1 dedicatória, apócrifa e ficcional, inventada na hora, exclusiva para você;
— 2 marcadores de página feitos especialmente para esse livro.
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A arte
O projeto gráfico, como sempre, é de autoria da minha melhor amiga de trinta anos, a artista plástica Isabel Löfgren, sobre desenhos originais de Francisco de Goya — hoje, talvez, meu artista plástico favorito. (Minha ida à Madri em 2018 e meu encontro com Goya.)
Conheça o site da Isabel e, especialmente, seu belíssimo trabalho na Mãe Preta, em parceria com Patrícia Gouvêa.
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Mentiras reunidas, índice
Porque mentir
Primeiras mentiras
Mulher de um homem só
Onde perdemos tudo
A morte do meu cachorro
De portas abertas
Onde perdemos tudo
Quando morrem os pêssegos
A falta que nos fazem os figos
Depois da festa junina, em volta da fogueira (inéditos)
Moça de sorte (exclusivo capa dura)
Não adianta morrer (exclusivo capa dura)
Uma questão de fé
A surdez do meu avô (exclusivo capa dura)
A menina do copo d’água (exclusivo capa dura)
Te espero no açougue
Às vezes, morro
Sangue e morte na noite de Natal (exclusivo capa dura)
Mentiras avulsas (inéditos)
Como nos velhos tempos
Grandezas de candura
Uma cigarrilha apagada
A cachorra atropelada
Títulos sem contos
Últimas mentiras
Biografia do autor
Mecenato
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