Por que fazemos o que fazemos?
"Você não se sente reprimido sob o peso de tantas regras? E sua liberdade?"
Um templo zen é cheio de regras de como falar, como andar, como comer.
Não são regras explicadas ou justificadas: elas simplesmente são.
Um dia, uma amiga me disse:
“Poxa, Alex, me admira você, tão libertário e tão rebelde, fazendo tudo isso sem nem saber porquê.”
Mas eu sei o porquê.
Passo boa parte da minha semana no templo, seguindo regras aparentemente arbitrárias, porque sou uma pessoa vaidosa e egocêntrica, acostumada a sempre interpelar o mundo para exigir o porquê de tudo e que só admitia fazer qualquer coisa se o mundo satisfizesse essa minha incessante demanda por porquês.
Assim, trabalhar em um templo, aceitar as regras e não fazer perguntas é uma parte importante do meu projeto de desapegar desse meu Eu tão tirânico e de me tornar uma pessoa melhor para as outras pessoas à minha volta.
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Outra amiga também perguntou:
“Alex, no templo zen você não se sente reprimido sob o peso de tantas regras? E sua liberdade?”
Em outras épocas, bem mais reativo, eu responderia:
“E você, não se sente presa aí fora, reprimido sob o peso de tantas regras? E sua liberdade?”
Mas hoje só respondo:
“Não me sinto preso, não. Pelo contrário. Aqui me sinto verdadeiramente livre: livre da tirania do meu Eu e livre dos meus desejos insaciáveis, livre da minha necessidade de aparecer e livre da minha compulsão por ser reconhecido. Livre.”
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Publiquei uma primeira versão desse texto, muitos anos atrás, e uma pessoa comentou:
“Vc se tornou uma pessoa melhor mesmo? Quantas pessoas lhe disseram: nossa vc está bem melhor e me inspirou? Nao sei o quanto essa noçao nao eh mais uma egotrip de um eu ocidental q acha cool o budismo...”
Não, eu não acho que me tornei uma pessoa melhor.
Sou (como dito no texto) uma pessoa vaidosa e egocêntrica, mas (como também dito no texto) me tornar uma pessoa melhor é o meu projeto.
E não uma pessoa melhor para mim, para meus próprios objetivos e critérios individuais, mas uma pessoa melhor para as outras pessoas, para que não tenham que conviver com mais um pessoa egocêntrica e agressiva.
O zen-budismo me parece ser o antídoto da egotrip ocidental.
Se a pessoa sai se achando mais do que entrou, não está fazendo direito.
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Atenção., de Alex Castro
Esse é, em larga medida, o tema do meu mais recente livro Atenção., publicado pela Editora Rocco.
Atenção. está esgotado na editora e não há expectativa de nova tiragem. Estou vendendo meus últimos dez exemplares, autografados, por um preço mais alto: R$245 no pix eu@alexcastro.com.br ou R$260 no PagSeguro, frete incluso.
Para quem quiser pagar menos, recomendo o ebook e o audiolivro, esse último narrado por mim.
A capa é da artista plástica Isabel Löfgren.
Esse livro não teria sido possível sem a generosidade das mecenas, que me apoiam com suas contribuições em dinheiro. Todas as 810 mecenas estão citadas nos agradecimentos de Atenção. Muito, muito obrigado.
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Pós-escrito
Eu te ajudo a colocar em palavras aquilo que você pensa ou sente, mas não conseguia articular?
Esse é o meu trabalho. Demanda esforço, concentração, experiência. Eu me dedico integralmente a ele. E coloco todos os frutos desse trabalho de graça na internet.
Então, se esse meu trabalho tem valor para você, se não fazer falta no leitinho das crianças, eu te peço para considerar a possibilidade de fazer uma contribuição voluntária proporcional a esse valor.
Assim, você estará me possibilitando as condições materiais para criar os meus próximos textos.
E eu te agradeço.
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Para contribuir: alexcastro.com.br/mecenato
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Um beijo do Alex