Politicamente correto, uma defesa
Nossa História vive nas entrelinhas da nossa língua: ela não é uma prisão, mas uma prática, que pode e deve ser mudada. (Reflexões da Prisão Patriotismo.)
Nosso uso da língua é e sempre foi político. Não existe, nem poderia existir, linguagem apolítica, aideológica. O politicamente correto serve para destruir essa ilusão: seu grande mérito é escancaradamente politizar a palavra, permitindo que pessoas desprivilegiadas e grupos subalternos possam, enfim, se autonomear.
(A próxima aula do Curso das Prisões, Prisão Respeito, acontece na quarta, 28 de junho de 2023, às 19h. Todas as aulas ficam gravadas. Ao entrar no curso, você tem acesso total às aulas anteriores. Mas vou te contar: o legal mesmo são as conversas livres… que não ficam gravadas! Compre aqui.)
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Escancarando a vida política das palavras
Até pouco tempo atrás, uma pessoa brasileira desatenta poderia até pensar que a palavra “presidente” era neutra. Em 2010, entretanto, elegemos uma mulher para a presidência da República e ela manifestou seu desejo de ser chamada de “presidenta”, palavra dicionarizada em nossa língua desde o século XIX. Somente para espezinhá-la, entretanto, uma parcela significativa de pessoas brasileiras, todas coincidentemente do lado oposto do espectro política, desenvolveram uma súbita e inexplicável ojeriza a uma palavra que elas, quase com certeza, nunca tinham nem pensado. Até hoje, se referir a Dilma como “presidente” ou “presidenta” é uma maneira quase infalível de descobrir se a falante se inclina mais à esquerda ou mais à direita.
Quando Dilma foi eleita, Barack Obama era tão presidente dos EUA quanto Raul Castro de Cuba, mas grande parte da imprensa brasileira chamava o primeiro de “presidente” e o segundo, de “ditador”, como se o uso da palavra “presidente” conferisse alguma legitimidade que queriam negar ao cubano, como se um presidente não pudesse ser ao mesmo tempo um ditador, como se o mais correto não fosse usar o termo oficial, “presidente”, e não um termo que, certo ou errado, implica uma avaliação subjetiva, “ditador”.
Hoje, ninguém mais pode se enganar que escrever “a presidente Dilma” ou “a presidenta Dilma” é uma mera questão de escolha de palavras. É uma decisão política. Como, aliás, sempre foi. Agora, às claras.
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Nossa língua é a história dos nossos crimes
Uma marciana perceptiva conseguiria deduzir toda a história de machismo, racismo, homofobia (ou seja, outrofobia) da cultura lusobrasileira simplesmente lendo algumas poucas páginas escritas em português.
Ela encontraria expressões como “não seja xiita”, “pára de judiar do gato” e “não passa um cristão aqui essa hora” e se perguntaria: por que as pessoas membros de uma religião viraram sinônimos de intransigência, de outra de maldade, e, de uma terceira, de pessoa humana genérica? (Ninguém precisaria contar para a nossa perceptiva marciana qual é a religião dominante dessa cultura.)
Nossa marciana perceberia que quase todos os xingamentos feitos contra homens se referem a uma suposta homossexualidade (“mariquinha”, “viadinho”, “puto”), como se ser homossexual fosse a pior coisa que um homem pudesse ser. (Ninguém precisaria contar para a nossa perceptiva marciana qual é a orientação sexual dominante nessa sociedade.)
Nossa marciana perceberia que quase todos os xingamentos feitos contra mulheres se referem a um suposto excesso de sexualidade (“puta”, “galinha”, “vadia”), como se dispor livremente de seu corpo fosse a pior coisa que uma mulher pudesse fazer. Mais ainda, ela perceberia que muitas e muitas palavras que são neutras no masculino significam variações pejorativas de mulher-que-faz-sexo-demais quando no feminino: aventureira, pistoleira, cachorra. (Ninguém precisaria contar para a nossa perceptiva marciana qual é o gênero dominante nessa sociedade.)
Nossa marciana perceberia que quase todas as variações de “negro” e “preto” (“enegrecer”, “empretecer” etc) são negativas e, de branco, positivas. Se estivesse lendo textos cariocas, talvez se deparasse com a expressão “neguinho” e, a princípio, talvez, pensasse que é um sinônimo de “pessoa genérica”, até perceber que quase sempre é “neguinho só faz merda” e quase nunca “neguinho ganhou o Jabuti de ficção”. (Ninguém precisaria contar para a nossa perceptiva marciana qual é a cor dominante nessa sociedade.)
Nossa História não acabou: ela vive e pulsa e se reproduz nas entrelinhas da nossa língua. Mas a História não é uma prisão, nem um destino: ela é uma prática. Que pode e deve ser mudada. No nosso dia-a-dia. Uma palavra de cada vez.
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Breve história do politicamente correto
Durante muito tempo, a esquerda se definiu por um certo economicismo, que via nas questões econômicas, como desigualdade social e luta de classes, a contradição principal da sociedade capitalista e fonte de todos os seus conflitos. Ao longo das décadas de 1960 e 1970, vários movimentos identitários dentro da esquerda começaram a adquirir mais visibilidade e relevância, politizando questões antes vistas como apolíticas (raça, gênero, orientação sexual, currículo escolar, literatura infantil, comida, moda, etc) e trazendo-as para a arena privada, para os cenários do dia-a-dia, para a esfera da interação social. Como dizia o novo slogan feminista, “o pessoal é político”. Não apenas os “proletários do mundo”, mas também pessoas negras, gays, feministas, etc, estavam se unindo politicamente em torno de suas identidades sociais compartilhadas. Com a queda do Muro de Berlim e o colapso da União Soviética, enquanto a direita festejava sua (aparente) vitória e a esquerda fazia uma autocrítica de algumas de suas premissas econômicas, houve uma mudança de paradigma dentro da própria esquerda, onde as questões econômicas, apesar de sempre fundamentais, perderam terreno para essas novas “políticas de identidade”, cada vez mais proeminentes. Ao longo dos anos, a vitória dessa tendência foi tão completa que é fácil esquecer que muitas pessoas de esquerda criticavam essas preocupações identitárias como triviais e irrelevantes (especialmente quando comparadas às “verdadeiras questões da esquerda”, como pobreza, desigualdade, luta de classes) e que foram essas pessoas que inventaram o termo “politicamente correto”, para fazer pouco do que enxergavam como um zelo exagerado nas militantes das causas identitárias.*
[*Essa subseção se baseou no livro It’s a PC world. What it means to live in a land gone politically correct”, do jornalista britânico Edward Stourton, de 2008, e no artigo “Some politically incorrect pathways through PC“, de 1994, . do pensador britânico Stuart Hall.]
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O que é então o “politicamente correto?”
Se quisermos saber quem são os socialistas, podemos começar lendo o que escrevem as pessoas que se dizem socialistas, como agem na esfera política os partidos ditos socialistas, como se definem as organizações ditas socialistas. Mas como definir um movimento que não existe de forma concreta, que não tem textos ou cânones que lhe definam, que não possui autoproclamadas líderes ou defensoras? Na falta dessas pessoas, só quem pode definir o politicamente correto são suas inimigas, mas elas também nem tentam.
O jornalista Leandro Narloch, em suas histórias politicamente incorretas, escritas explicitamente para “jogar tomate na historiografia politicamente correta”, nunca se preocupa em definir politicamente correto e parece simplesmente equacionar “politicamente correto” com “esquerda”. Paradoxalmente, ele ainda enfatiza que está se referindo a uma esquerda que enxergaria tudo pelo lado econômico: “nessa estrutura simplista [do politicamente correto], o único aspecto que importa é o econômico.” Mas, como vimos, ironia das ironias, foram justamente os defensores dessa esquerda “que enxerga tudo pelo lado econômico” que inventaram o termo “politicamente correto” para fazer pouco da esquerda “que enxerga tudo pelo lado da identidade”.
Até bem pouco tempo atrás, ainda circulavam pelo Brasil representantes dessa espécie dinossáurica, o esquerdista politicamente incorreto, mas, ironia das ironias de novo, foi provavelmente o sucesso dos livros de Narloch, ao fortalecer a associação entre “politicamente incorreto” e “direita”, que causou sua extinção definitiva. Hoje, aos nossos ouvidos, uma pessoa de esquerda se afirmando “politicamente incorreta” parece uma contradição em termos.
Como o politicamente correto é aquilo que as pessoas que odeiam o politicamente correto dizem que ele é, sua definição será sempre falha, parcial e pejorativa. Então, uma primeira definição pode ser: politicamente correto é o nome daquele desconforto que tanto incomoda as pessoas que se dizem “politicamente incorretas”.
E o que incomoda essas pessoas? Sua principal crítica parece ser em relação a uma pretensa “patrulha” que lhes impede de falar algumas coisas que estavam acostumadas a dizer. Será que o politicamente correto é isso? Uma censura? Um atentado à liberdade de expressão?
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Mudando o mundo, uma piada de cada vez
Pergunta de um leitor:
– Alex, meu tio sempre fez piadas homofóbicas e racistas. Sempre. Agora, depois de levar umas broncas da chefa no escritório, ele parou. Quer dizer, parou lá. Em casa, ele continua fazendo as mesmas piadas e agora reclamando dessa patrulha do politicamente correto. Mas, sério, de que adianta? Meu tio continua o mesmo racista homofóbico que ele sempre foi. O que mudou?
E eu respondo que mudou tudo. O tio é um adulto que gosta de contar piadas homofóbicas e racistas porque cresceu e se formou em um mundo, em uma sociedade, em uma família, onde contar piadas homofóbicas e racistas era aceitável e esperado. Esse comportamento, além de não ter custo social algum, ainda trazia vários benefícios, como ser percebido como uma pessoa divertida, bem-humorada, etc.
Já o seu filho está crescendo em um mundo radicalmente novo. Na melhor das hipóteses, o filho concorda com a chefa do pai que piadas racistas e homofóbicas são inaceitáveis, está feliz do pai não estar mais contando esse tipo de piada e, naturalmente, quando tiver suas próprias filhas e filhos, não vai lhes contar essas piadas, quebrando assim a corrente de transmissão. Na pior das hipóteses, mesmo que esteja revoltado do pobre pai estar sendo oprimido pela patrulha do politicamente correto, esse filho também está crescendo no mundo radicalmente novo onde essas piadas não são aceitáveis nem esperadas nem recompensadas, mas sim tem um custo social real. Por mais que esse filho ache que contar piada homofóbica não tem nada demais, amanhã, quando estiver no primeiro dia de trabalho em uma nova empresa, não vai contar uma piada homofóbica (como talvez o pai fizesse sem nem pensar vinte anos antes), porque, mesmo se nenhum colega for homossexual, ele pode estar se queimando severamente no escritório. A corrente de transmissão não se quebra, mas se enfraquece.
Essa pequena diferença, acontecendo milhões e milhões de vezes todos os dias, é o que muda o mundo.
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Hospedeiras, não vetores
O racismo e a misoginia, a homofobia e o capacitismo, e todas as vertentes possíveis e imagináveis da outrofobia, não têm existência concreta. Elas precisam de nossa cumplicidade para existir.
Somos todos crias da mesma sociedade outrofóbica. Já “sabemos” que ser homossexual é pecado, que pessoas negras têm “cabelo ruim”, que mulheres foram feitas para a maternidade, muito antes de sentirmos em nós mesmas os primeiros desejos homossexuais ou de termos qualquer noção de nossa identidade negra ou feminina. Então, nada mais natural do que existirem pessoas negras racistas, homossexuais homofóbicas, mulheres machistas: elas não são bugs do sistema, mas sim features. Quando uma pessoa escuta por toda a sua vida que o seu “cabelo é ruim”, nada mais compreensível que ela acredite e nada mais árduo do que vencer essa programação.
Somos todas hospedeiras da cultura outrofóbica. Trazemos dentro de nós todos os xingamentos homofóbicos, todas as piadas racistas, todos os lugares-comuns machistas. (Por isso também ninguém está livre, nem mesmo a mais politizada militante, de escorregar e deixar escapar uma atitude ou fala outrofóbica.)
Talvez o meu amigo Grafite realmente não se importe de ser o Grafite em um escritório de Cláudios e Felipes. Talvez o Grafite considere que, para seus objetivos profissionais, é melhor não virar “o chato do escritório” (“Pô, Grafite, você vê racismo em tudo!”) e decidiu lutar outras batalhas. Não cabe a mim julgá-lo, ainda mais que nunca vou saber a pressão e o preconceito que sofrem um homem negro no Brasil. Mas eu posso escolher não chamá-lo de Grafite. Pra mim, ele é o Paulo Roberto.
Se não temos escolha de sermos hospedeiras da cultura outrofóbica, temos escolha sim de sermos vetores. A escolha de passar adiante esses horrores do passado é só nossa. A homofobia é um conceito abstrato. Ela não tem existência concreta. O que existe são pessoas que contam piadas homofóbicas. E posso escolher não ser uma delas.
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O poder da palavra
Uma das principais lições que a filosofia nos ensinou no século XX é que a palavra molda o mundo. Nomear é poder. Nossa relação com a realidade é sempre mediada pela palavra: todas as relações de poder passam, em algum momento, pela palavra. Quem nomeia dá o tom, dita as regras, efetiva a posse. (Não foi à toa que os navegantes portugueses do século XVI subiram e desceram a costa brasileira colocando nome de santo em cada acidente geográfico de uma terra onde mal tinham pisado.)
Muitas pessoas sentiam-se insultadas e diminuídas ao serem chamadas de “deficientes”, uma definição baseada em um diagnóstico médico. (Seria como chamar alguém de “canceroso” ao invés de simplesmente dizer que “ela tem câncer”.) O movimento “people first” (pessoas primeiro) defende que se coloque as pessoas antes das doenças e que se descreva o que elas têm e não o que são. Por isso, hoje, o termo mais usado é “pessoa com deficiência” — daí o nome da Secretaria Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência. Faz sentido ser contra? Quem teria o direito de exigir chamá-las de “deficientes”, “cadeirantes” ou o que seja? (E, aliás, como as pessoas com deficiências não são um bloco homogêneo de opiniões unânimes, também existem algumas que criticam essa expressão e propõem outras.)
Respeitar o modo como as pessoas querem ser tratadas deveria ser uma simples questão de empatia, quando não de boas maneiras: é triste precisar ser um movimento político, e polêmico ainda por cima. Se podemos falar dos “princípios” de algo que nem existe, como o politicamente correto, um deles seguramente seria: nomear a si própria. Aliás, como as pessoas privilegiadas sempre foram donas do discurso e se autonomearam, na prática estamos falando de estender esse direito também às minorias marginalizadas e desprivilegiadas. Ou seja, de tirar das pessoas privilegiadas esse poder de nomear o Outro e garantir às pessoas desprivilegiadas o poder de nomear a si mesmas. Portanto, quando as pessoas privilegiadas reclamam da “patrulha politicamente correta” estão reclamando da perda desse privilégio nomeador.
Uma verdadeira liberdade de expressão
O politicamente correto não oprime, nem patrulha. “Patrulha” são soldados armados por um governo que lhes dá poder de matar. “Opressão” é quando instituições, públicas ou privadas, impõem suas regras sobre pessoas comuns. Só quem tem poder de oprimir e patrulhar são as instituições, o estado, as grandes empresas. Só quem tem poder de oprimir e patrulhar são as ideologias hegemônicas: o racismo, o machismo, a homofobia, a transfobia, o capacitismo, a intolerância religiosa; enfim, todas as vertentes da outrofobia. Como pode ser “opressor” e “patrulhador” algo tão abstrato, tão minoritário, tão fraco quanto o politicamente correto? Como pode ser “opressora” e “patrulhadora” uma gota de discurso homoafetivo em um mar cultural de homofobia?
O politicamente correto é uma nova ética, resultado de uma maior participação social de minorias até então silenciadas; um código de conduta não-escrito, autodefinido por cada uma de nós, pessoas comuns que não têm poder de impor suas vontades às outras, através do qual tentamos agir e falar da forma que nos parece mais empática e mais generosa. O politicamente correto somos todas nós decidindo não assistir mais o comediante que faz piada de estuprar grávida, não dar mais às nossas crianças os livros infantis do autor racista, não mais chamar uma minoria pela palavra que ela acha ofensiva. Como podem acusar esse processo de opressão, patrulha, censura?
Um comediante ter a liberdade (assegurada na constituição) de fazer piada de estupro e nós, pessoas comuns, termos a liberdade (assegurada na constituição) de escrever textos criticando-o e propondo boicotes ao seu show… é a essência da liberdade de expressão em uma sociedade democrática. Se não isso, o que queriam? Poder falar o que quiserem e nunca ser criticados? Isso não seria liberdade de expressão, seria privilégio: o privilégio do qual sempre desfrutaram as classes dominantes, o privilégio que o politicamente correto — ao defender uma verdadeira liberdade de expressão, uma liberdade de expressão aberta a todas as pessoas, privilegiadas ou não — lhes tirou. Nada poderia ser mais anti-censura, anti-patrulha, anti-opressão do que isso.*
[*Desenvolvo a fundo essa questão dos limites do humor na “Carta aberta às humoristas do Brasil”, no meu livro Outrofobia, publicado pela editora Publisher Brasil em 2015.]
Em qual time queremos estar?
Sim, as militantes de causas identitárias são muitas vezes radicais e cometem excessos. Mas é porque estão na vanguarda. Quase sempre, só as pessoas mais radicais, aquelas que veem o mundo em branco-e-preto, são as que conseguem efetivamente romper a inércia dos tempos e tomar as atitudes que mudam o mundo, enquanto as pessoas acomodadas olham de longe, balançam a cabeça, fazem “tsc tsc” e têm filhas que vão colher os frutos desse radicalismo.
Então, apesar de todas as ferozes brigas internas, apesar dos (pretensos) radicalismos e dos (ditos) excessos, quando as balas de borracha começam a voar, precisamos decidir se estamos com quem defende respeito e dignidade para as pessoas trans ou com quem exige o direito de fazer “piada de travesti”. Se o segundo grupo orgulhosamente se autoproclama “politicamente incorreto”, então não faz sentido as pessoas do primeiro fugirem da pecha de politicamente corretas. Proponho tomarmos para nós, também com orgulho, esse termo. Pois eu tenho orgulho de estar do lado oposto dessa gente.
Ressignificando o politicamente correto
Há muito tempo, nos Estados Unidos, as pessoas homossexuais eram chamadas pejorativamente de “queer”, um adjetivo que significa “estranho”. Em um dado momento, a comunidade homossexual tomou o termo para si, criou slogans como “I’m queer and proud of it” (“Sou estranho e tenho orgulho disso!”) e, em poucos anos, conseguiu ressignificar a palavra. Hoje, “queer” não é mais um termo pejorativo: ele pertence à comunidade homossexual.*
O termo “politicamente correto” hoje é usado pela direita para fazer pouco das prioridades linguísticas e políticas de uma parte da esquerda — como, por exemplo, utilizar o termo “pessoas com deficiências” e não “deficientes” — mas não existe um movimento “politicamente correto”, ninguém bate no peito pra se dizer “politicamente correta”.
Entretanto, se você acha, como eu, que faz todo o sentido do mundo chamar as “pessoas com deficiências” pela expressão que lhes deixa mais confortáveis, então talvez seja a hora de cooptarmos para nós a expressão “politicamente correto”.
Se ser “politicamente correta” é se importar com o efeito que nossas palavras têm nas outras pessoas, em especial nas pessoas marginalizadas, então, sim, talvez devêssemos bater no peito e nos afirmar “politicamente corretas”.
[*A filósofa norte-americana Judith Butler, uma das pensadoras mais importantes da nossa era, fala de “ressignificação” em Problemas de gênero (1990) e Excitable Speech (1997), entre outros.]
E a liberdade de expressão?
Não tem como falar de politicamente correto sem falar de liberdade de expressão. Afinal, a principal acusação de seus detratores é que o politicamente correto é inimigo da liberdade de expressão. O assunto será tratado na Prisão Liberdade.
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Série “As Prisões”
Aqui estão os textos já reescritos, revisados e finalizados em 2023:
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Me ajuda a comprar livros?
Gosta dos meus textos e das minhas aulas sobre literatura? Então, preciso da sua ajuda.
Não tem como escrever esses textos e dar essas aulas sem consumir uma enormidade de livros. Sou membro de três bibliotecas, baixo pirata tudo o que encontro e, ainda assim, acabo precisando comprar muitos livros importados.
Se você tiver um dinheirinho sobrando e se meus textos de literatura abriram seus olhos para novas obras e novas autoras... você me ajudaria a escrever novos textos?
Para depositar alguns dólares ou euros nos meus cartões-presentes da Amazon EUA ou Espanha, basta visitar os links abaixo, escolher o valor e enviar para eu@alexcastro.com.br:
Espanha: amazon.es/cheques-regalo
E muito, muito obrigado.
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O curso das Prisões
Em 2023, estou dando o Curso das Prisões.
Em maio, nosso tema foi Prisão Patriotismo. (Esse texto faz parte das reflexões surgidas em nossas conversas.)
Em junho, estamos conversando sobre a Prisão Respeito. Nossa aula expositiva acontece na quarta, 28 de junho de 2023. Antes disso, estamos debatendo sobre Patriotismo e Respeito nas nossas conversas livres, no Zoom e no Whatsapp.
Sim, ainda dá tempo de participar. Mais detalhes aqui.
Vem com a gente?
Este texto deveria ser levado para cada discussão familiar, de amigos, etc e mostrar para essa pessoa que fala "é muito mimimi, né?" (como detesto essa expressão, hahaha). Abraços! Ianina
Esse é um texto muito importante nos dias de hoje. Muito esclarecedor. Aprendi muita coisa com ele e muitas atitudes pretendo mudar por causa de sua leitura. Vou salvar para voltar a ele outras vezes. Obrigado por compartilhar!