Os 40 livros que eu levaria para uma ilha deserta
Os livros que eu passaria o resto da vida lendo e relendo.
Não são os melhores livros do mundo. Não são nem necessariamente os meus favoritos.
Mas são aqueles que eu gostaria de ficar lendo e relendo, com tempo e sem pressa, pelo resto da vida.
Não por acaso a palavra que mais se repete nas descrições é “infinito”: eles são os livros que sinto que são sinceramente infinitos, que podem ser lidos e relidos e nunca se esgotam.
Meu desafio é descrever cada livro em uma única frase que desperte a curiosidade de vocês.
Uma biblioteca de 40 livros para durar a vida toda. Não está mal.
Mas, para quem quiser saber quais são os livros que eu levaria se só pudesse levar dez, eles estão marcados com Top10.
E, claro, como sempre, eu quero muito saber os seus. ;)
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40 livros para durar o resto da vida
1 Um dos documentos fundadores da cultura ocidental, uma história de guerra sem pena e sem final feliz, o antepassado dos nossos thrillers de Hollywood — na tradução desse inglês oitocentista irônico e maravilhoso. (Nª1 TOP10)
2 O outro documento fundador da cultura ocidental, uma antologia literária muito mal compreendida, que tem um pouco para cada um, poesia, história, conto, thriller judicial, guerra, até erótico — nessa tradução fundadora de toda uma linguagem literária. (Nª2 TOP10)
3 Uma antologia com todas as tragédias gregas, que inauguram o teatro ao mesmo tempo que são seu auge absoluto.
4 Um poema épico maravilhoso, emocionante e emotivo, inteligente e irônico, heroico e prosaico, épico e doméstico, texto fundador de uma das maiores línguas literárias do mundo. (Nª3 TOP10)
5 Uma antologia do primeiro poeta cujo nome conhecemos nessa grande língua ocidental: se o seu tema já perdeu parte do interesse, a musicalidade de suas palavras ainda é apaixonante.
6 Uma antologia das poesias medievais que são as antepassadas dos nossos romances de cordel: infinitamente diversas, cheias de humor, de drama, de musicalidade.
7 Um livro enorme e infinito, repleto de humor e de delícias, de aventuras sem fim, escrito na linguagem poética mais linda de uma das línguas mais lindas do mundo: a recente tradução brasileira é excelente, não fica a dever a nenhuma. (Nª4 TOP10)
8 Outro livro também enorme e infinito, fonte borbulhante de aventuras, cheio de mulheres malvadas maravilhosas, documento fundador de uma das minhas línguas literárias mais queridas.
9 O assim chamado Príncipe dos Poetas tem a poesia mais bela e mais límpida, mais perfeita e mais musical da língua espanhola, que dá pra ler e reler infinitamente.
10 Uma antologia da lírica e da épica daquele que talvez seja nosso maior poeta, de riqueza infinitamente eclética, perfeito nos gêneros altos e baixos, cultos e populares, épicos e líricos, cheio de sacanagem e de dor, poeta da liberdade e do destino, primeiro grande poeta europeu a conhecer o mundo fora da Europa. (Nª5 TOP10)
11 Uma antologia talvez do maior poeta barroco em qualquer língua, infinitamente complexo, infinitamente delicioso, perfeito quando é culto e sofisticado mas também perfeito quando popular e divertido.
12 Poucas obras são mais densas e ricas do que esse primeiro poema épico moderno, escrito pelo Che Guevara do século XVII, exemplar perfeito do barroco: cada linha tem tantas e tantas camadas que é uma delícia de ler e reler repetidas vezes, ele literalmente nunca termina. (Não comprem a tradução de Antonio José de Lima Leitão, em domínio público e vendendo na Amazon por 1,99: ela já ficou totalmente incompreensível. Esse é um texto recompensador, mas difícil: só dá pra entender numa boa tradução, com boas notas explicativas.) (Nª6 TOP10)
13 Um pequeno romance perfeito, considerado por muitos como o primeiro romance da história, escrito por uma mulher e representando os dilemas e desafios de ser mulher, um livro escrito com uma delicadeza inacreditável, com infinitas camadas, capaz de ser lido e relido para sempre.
14 Todos os livros aqui são infinitos, mas esse talvez seja o mais infinito de todos: a história do maior de todos os impérios narrada pelo maior de todos os contadores de história. (Nª7 TOP10)
15 Não me canso desse texto fundador da nossa literatura, uma poesia simples e musical que à primeira vista parece tola mas que vai se revelando mais complexa e mais bela a cada releitura, exemplo perfeito e delicioso do estilo neoclássico que faz a ponte entre o barroco e romantismo.
16 Uma poesia assustadora, perversa, aterrorizante, hipnótica, exemplar perfeito do estilo gótico tão em voga na virada do XVIII pro XIX: passo horas e horas lendo em voz alta esse poema perfeito.
17 Uma antologia desse poeta visionário e inclassificável, completamente louco e absurdamente original que imprimia e ilustrava seus próprios livros.
18 A obra-prima poética evocativa e hipnótica, irresistível e incompreensível, desse menino que, nos poucos anos em que viveu, praticamente fundou o romantismo: a edição brasileira é primorosa.
19 Um romance sem fim, verdadeira boneca russa com contos dentro de contos dentro de contos, assustadores, fascinantes, sedutores, aventuras sem limite, uma verdadeira delícia.
20 O mais antigo na minha lista de romances perfeitos, enorme e enciclopédico, infinito e belíssimo, onde cabe toda a vida humana: um romance que tem a coragem revolucionária de enxergar sempre o melhor de cada pesoa.
21 Uma antologia de contos do autor que, ainda nessa virada gótica entre o XVIII e o XIX, virou literalmente, merecidamente sinônimo de “estranheza”: essa edição brasileira é excelente, na seleção e na tradução.
22 Uma antologia de melhores textos, poesia, prosa, cartas, etc, dessa personalidade fascinante que, no começo do século XIX, era certamente a pessoa mais famosa da Europa: adoro esse homem.
23 A obra completa do nosso primeiro grande poeta nacional, de uma musicalidade ímpar, autor da nossa melhor peça teatral do século, atento às possibilidades da nossa herança medieval, consciente do estigma da escravidão, cantor maior (apesar de estilizado) dos nossos povos originários.
24 Um dos mais perfeitos livros de poesia jamais publicados, um livro que contém multidões, fonte infinita de energia e inspiração: para mim, esse livro é uma tomada; enfio o dedo e ele me energiza.
25 Um poema maravilhoso, perfeito, sonoro, a poesia mais oral jamais posta por escrito, que esfrega em nossa cara os maiores dilemas sociais e políticos desse nosso continente tão desigual.
26 Todos os contos daquele que é talvez nosso maior escritor, mais famoso por seus romances, mas autor de contos ainda mais perfeitos que seus romances, o mais carioca de todos os cariocas.
27 Uma antologia com os melhores contos do meu autor preferido entre todos os autores, mais famoso por suas peças, mas perfeito nos contos, o homem que me ensinou a força dramática dos pequenos gestos. (Nª8 TOP10)
28 Todas as poesias desse funcionário público grego, secretamente homossexual, que viveu uma vida discreta no Egito, mas nos deixou algumas das poesias mais belas e evocativas de todos os tempos: temos duas traduções brasileiras muito boas, essa e essa.
29 Todas as poesias desse professor universitário inglês, contemporâneo do anterior, também secretamente homossexual, que também viveu uma vida discreta, e que também nos deixou algumas das poesias mais belas e evocativas de todos os tempos.
30 Todas as poesias de um de nossos poetas mais doidos, ao mesmo tempo naturalista, simbolista, cientificista e, algumas vezes, até ultrarromântico, síntese perfeita dos caminhos e descaminhos da nossa poesia.
31 Todas as poesias desse escritor já tantas vezes (justamente) cancelado por imperialista, mais famoso por seus romances e por seus livros infantis, mas autor de algumas das melhores baladas da língua inglesa, com um ouvido imbatível para os ritmos orais e cantantes da nossa fala.
32 Um romance fundamental sobre não sermos quem realmente achávamos que éramos e sobre nossa luta para passarmos a ser (um tema muito pessoal meu), por um dos romancistas mais importantes da minha vida: não seria exagero dizer que esse romance me ensinou como contar uma história.
33 Todos os contos do meu contista favorito, de espelhos infinitos gerando reflexos idem, esse escritor periférico que definiu o que é ser um intelectual de periferia, que uniu como ninguém emoção e intelecto, conhecimento e paixão. (Nª9 TOP10)
34 Essa trilogia perfeita que eu já li, ouvi, assisti incontáveis vezes, e nunca se esgota: quem diz que não é literatura — tem quem diga — não sabe o que é literatura. (Acabou de sair um novo box tão, mas tão LINDO que comprei.)
35 O romance que melhor define os passos e descompassos desse nosso continente tão complexo, tão violento, tão apaixonante, tão sempre preso entre dicotomias como civilização e barbárie, tradição e modernidade. (Acabou de sair em nova edição, nova tradução, que eu também não resisti e comprei.)
36 Um dos poucos romances perfeitos da minha vida, talvez o ponto alto de tudo que se escreveu em nossa língua, união perfeita de forma e conteúdo, daqueles que você lê e relê e não tem uma puta vírgula fora do lugar. (Nª10 TOP10)
37 Esse outro romance perfeito latino-americano, fonte infinita de delícias, espiralante e realista, complexo e maravilhoso.
38 A poesia completa da minha poetisa preferida, apesar de eu não conseguir lê-la no original, que virou totalmente a poesia contemporânea ao avesso. (Não sou especialmente fã da tradução brasileira: para quem lê inglês, recomendo essa.)
39 O mais recente na minha lista de romances perfeitos, um novelão à moda antiga, impossível de largar e simplesmente sensacional.
40 A minha série de entretenimento favorita, estrelada por um de meus personagens ficcionais favoritos, infinitamente rica e divertida — falta só o autor escrever os dois últimos livros!
Alguns números
Não resisto a analisar os livros da minha lista.
Língua original
São 11 livros em inglês, 10 em espanhol e somente 6 em português, o que ilustra um pouco as idiosincracias da minha biografia: educado no Brasil em escola americana, pós-graduado nos EUA em espanhol. Das outras línguas, grego aparece 4 vezes (2 antigos e 2 modernos!), francês 3, italiano e alemão, 2 cada.
No Top10, a disputa é mais equilibrada: temos inglês, espanhol, português e grego com 2 cada, italiano, russo, hebraico com 1 cada. (Vale lembrar que a Bíblia foi escrita em hebraico e em grego, então ela entra na conta de ambas as línguas.)
Uma outra nota interessante: a lista tem 3 autores poloneses, mas só 1 escreveu em polonês, a mais recente, falecida em 2012: os outros dois, escrevendo em épocas quando a Polônia não existe enquanto países independente, escreveram em francês ou em inglês. Às vezes, a gente se acha periférico, e somos, mas, por outro lado, o português também é a 3º língua ocidental mais falada no mundo, atrás apenas do inglês e do espanhol. Tem gente mais periférica.
Gênero
Aí é um massacre da poesia: dos 40, 25 são livros de poesia, 10 romances e 4 de contos. Não é nem que gosto tanto de poesia assim (embora gosto, claro), mas que os livros de poesia se prestam mais a releituras expansivas que os romances.
No Top10, são 6 de poesia, 2 de contos e só 1 romance e 1 de história.
Época
Dizem que leio muita coisa velha, mas o século mais bem representado é o XX, com 11 livros, seguido do XIX com 9. Depois disso, temos 5 do XVIII (quase todos da virada pro XIX), 3 do XVII, 4 para o sensacional e fucundo século XVI, 3 pra Idade Média, e 3 pra Antiguidade. Na rabeira, 2 desse nosso século que mal começou.
No Top10, temos 2 da Antiguidade, 1 da Idade Média, 2 do XVI, 1 do XVII, 1 do XVIII, 1 do XIX e 2 do XX.
Próxima newsletter
Em breve, quero fazer mais uma newsletter de livros, dessa vez recomendando uma lista básica do cânone ocidental para jovens pessoas brasileiras.
Próxima aula
Está em andamento a segunda turma do Curso das Prisões. Todo mês falamos sobre uma Prisão. A de novembro é a Prisão Patriotismo. A aula acontece na quarta, 27 de novembro, 19h. Abaixo, duas palhinhas em vídeo.
Sim, ainda dá tempo de participar. As aulas são exclusivas para as pessoas mecenas mas, para se tornar mecenas, basta fazer uma contribuição no meu Apoia-se.
Um grande, grande beijo,
Alex