Um textinho que exemplifica como os textos vão mudando a medida em que são revisados para a publicação.
Postei a imagem abaixo no meu Instagram, com um trecho do meu livro Atenção..
O trecho:
“O Everest do meu Eu
Algumas das pessoas mais egocêntricas e autocentradas que conheço são aquelas que batem no peito para se dizer “as maiores críticas de si mesmas”, pessoas que passam horas e horas reprisando e repisando em suas cabeças suas últimas ações, suas últimas palavras, seus últimos erros, em uma eterna e celebratória masturbação autoflagelante, por serem tão falhas e tão egoístas, o horror! o horror!, mas ainda assim sempre remoendo e remastigando o mesmo incrível e inevitável assunto, sempre circulando e orbitando aquele mesmo gigantesco corpo celeste de gravidade irresistível: eu, eU, EU, EU!!!”
Um amigo antigo, Lucas Murtinho, criador da saudosa Copa de Literatura Brasileira, comentou, zoando:
“Jamais entenderei por que essa seção do livro não se chama O Euverest”
Mas eu, que adoro trocadilhos, levei a sério.
De fato, por que não cometi esse trocadilho?
Aí, lembrei que nas primeiras versões desse texto, a montanha não era Everest, mas Aconcágua (ponto mais alto da América do Sul e montanha mais alta fora da Ásia, segundo um estranho sem nenhuma credibilidade), porque sempre tento, conscientemente, propositalmente, usar referências brasileiras e latino-americanas.
Foi só na última hora que decidimos que, de fato, não estava funcionando e tirava a força da comparação.
Aí, lembrei de outra coisa.
Na versão original, também não estava Eu, mas sim Ego. Mudei para me adequar à nova tradução das Obras Completas de Freud por Paulo Cesar de Souza, sendo publicadas pela Companhia das Letras. (Aliás, recomendo enfaticamente e, clicando por aqui, ganho uma comissãozinha.)
Então, uma versão original possível para o título da subseção (que nunca existiu, pois ambos os termos nunca estiveram juntos) teria sido, ao invés de “O Everest do meu Eu”:
“O Aconcágua do meu Ego”
O que teria resultado em outro trocadilho, talvez pior, talvez melhor que “O Euverest”:
“O Egoncágua”
Enfim, abrindo mão de Eus e desapegando de Egos, acabou ficando melhor assim. :)
Beijo pro Bruno Fiúza, maravilhoso editor, que trabalhou duro para que esse livro fosse tudo que ele poderia ser, e que agora está frilando em Portugal e que eu recomendo para todo tipo de trabalho de editoração, tradução, revisão.
Atenção., lançado pela Editora Rocco, está disponível em impresso, ebook, audiolivro.
Um beijo do
Alex Castro