Não sou nada & outras afirmações
Os melhores textos da última semana. Mais: Meus 10 livros imprescindíveis
Vivem me perguntando o que sou: se esquerdista, bi, vegano, negro, budista.
Não sou nada.
Não adoto identidades.
Colem em mim os rótulos que quiserem.
Inventem o que quiserem.
E, por favor, me contem.
* * *
Próxima remessa de livros: depois de amanhã
Terça agora, 2 de junho de 2020, precisarei sair para ir ao oculista e aproveitarei para passar nos Correios e enviar todos os livros que foram vendidos desde o começo da pandemia.
Quer um dos meus livros autografados? Então, compra agora que ainda dá tempo: Atenção. & A autobiografia do poeta-escravo.
* * *
Me segue, tio?
8 mil pessoas assinam essa lista, mas só 2 mil me seguem no Twitter e 6 mil no Instagram. Estou falando e postando coisas bem legais por lá. (E editores de futuros livros olham para esses números na hora de decidir o que publicar.) Então, me segue lá também? E, se puder, recomenda para as amigas.
* * *
Meus dez livros imprescindíveis
Na verdade, no momento, são 11. Na última releitura, ano passado, Kafka não me arrebatou tanto, pensando em tirar. Já Milton, que conheci mês passado, está fazendo uma força hercúlea pra entrar.
É uma lista pesada que se move com muita dificuldade: preciso ter lido um livro para várias vezes para entrar.
Na década passada, houve uma adição: Os Miseráveis, em 2013. Na década anterior, mais uma: Gibbon, em 2004.
Todos os outros, Borges, Rosa, Machado, Tchecov, Kafka, os trágicos gregos, a Bíblia, a Ilíada, estão firmes há mais de 25 anos, constantemente lidos e relidos de lá pra cá.
Então, por enquanto, Kafka e Milton estão em fase de experiência.
Outros livros que quase entraram e estão na de fora para entrar:
Hora da Estrela/Água viva, Guia do caminho do Bodisatva, Manuscrito encontrado em Saragoça, Cem anos de solidão, Moby Dick, Guerra e paz, Guerra do fim do mundo, Martín Fierro, Folhas de relva, Memórias de um caçador, Casa-Grande & Senzala, Confissões de Agostinho, e qualquer antologia com o melhor de Simone Weil ou Maupassant.
Opiniões? Perguntas? Comentários? Sugestões?
Basta responder esse email.
* * *
Canário na mina
Moro numa vila.
A velhinha da primeira casa passa o dia todo na porta, sem máscara, faz questão de falar com todo mundo que entra e sai.
É uma fofa, mas também é o nosso canário na mina.
Quando pegar o Covid19, é porque a doença chegou na nossa vila.
* * *
Cânone desconhecido
Que poema maravilhoso é The Faerie Queene (1590) de Spenser.
De uma imaginação poderossíssima, repleto de aventuras mágicas deliciosas, bruxas cruéis e vilãs traiçoeiras, influência importantíssima em Shakespeare, em Milton, e em toda a literatura inglesa por quatro séculos, mas que hoje, nem lá, ninguém mais lê.
Que eu saiba, nunca nem foi traduzido ao português.
(Na imagem, a malvada Duessa, cujo próprio nome indica sua duplicidade, e seu dragão, prestes a acabar com um tolo cavaleirinho que ousou confiar em suas traiçoeiras mentiras.)
* * *
Ler ao contrapelo
As pessoas parecem achar que só dá pra ler a favor.
A Bíblia é meu livro preferido e toda a minha leitura é contra a Bíblia, contra o sentido q ela tenta impor, sempre buscando o meu próprio sentido, oposto e escondido, mais belo.
Quando leio a Bíblia em público, sempre perguntam se sou cristão, ou, quando falo da Bíblia na internet, sempre dizem "opa, não sabia que você acreditava em Deus", e minha resposta sempre é a mesma: "não preciso acreditar em Frodo pra curtir O senhor dos anéis..." (Um texto: Qual Bíblia ler?)
Quem mais fala de “ler a contrapelo” é Walter Benjamin, em suas Teses sobre o conceito de história, que são a base da minha Prisão Patriotismo.
* * *
Coisas que não são comédia
É bem revelador que algumas pessoas de direita dizem que Hannah Gadsby não faz comédia... porque eles não riem.
Tanto em Douglas (que estreou agora) quanto em Nanette, eu, minha esposa, a platéia, rimos bastante.
Não seria menos hipócrita só admitir que não acham graça quando a piada é com eles?
* * *
Dias de solteiro, dias de casado
Quando estou solteiro, não tenho como viver aqueles dias deliciosos de casado, agarrado com pessoa que amo, etc.
Quando estou casado (naturalmente, com uma pessoa não-monogâmica que respeita meu espaço e minha liberdade) tenho como viver aqueles dias deliciosos de solteirice e solidão.
Por isso, prefiro ser casado do que ser solteiro.
* * *
Constatação
A pandemia talvez tenha me feito perder a habilidade de arrotar silenciosamente.
* * *
A essência do matrimônio
Quem acha que casamento é sobre amor com certeza deve ser um péssimo namorado e um amante ainda pior.
Não tem nada a ver com amor, porque não precisa casar pra amar.
Tem a ver com burocracia, porque precisa casar pra entrar no plano de saúde.
Casamento é um contrato.
(Assinei esse contrato no final de dezembro de 2019. História completa: Meu casamento, em fotos, em votos.)
* * *
Irritante
Sempre que alguém me odeia, tento abraçar a pessoa.
É muito triste odiar alguém.
A pessoa com certeza está precisando de um abraço.
* * *
Novíssimo site
Com a ajuda do meu amigo Leonardo Ribeiro, refiz completamente meu site. Agora, ele está mais limpo, mais fácil de ler no email e no celular.
Deem uma olhada e me contem: alexcastro.com.br
Abaixo, os meus novos textos publicados na última semana. (Clique nos títulos para ler.)
Estou tentando consolidar todos os meus textos no site.
Então, me faz um favor? Vai no site e faz uma busca pelo seu texto meu favorito.
Se não encontrar, me avisa. Deveria estar lá.
* * *
Últimos textos:
* * *
Elogio ao rebelde de fim-de-semana
Se o meu filme ou livro preferido é sobre largar tudo e ir morar no mato, mas nunca larguei tudo e fui morar no mato… o que isso diz sobre mim?
Quem perpetrou os piores crimes e os maiores massacres da história? Os obededientes ou os desobedientes? De qual lado queremos estar?
* * *
O tempo é um lugar
Se o tempo é um lugar, então, pode ser visitado.
* * *
José J. Veiga, criador de cruéis cachorros
José J. Veiga (1915–99) é um de nossos grandes autores esquecidos, um alegórico de mão cheia, talvez único verdadeiro praticante de realismo mágico no Brasil.
* * *
Tomás de Aquino, autor da Suma Teológica
Tomás de Aquino, frade e teólogo, mais tarde santo, foi um dos homens mais lógicos e mais racionais de todos os tempos. Ninguém me ensinou, tanto quanto ele, sobre os limites duros da lógica e sobre os pontos cegos da racionalidade.
* * *
Jesus e a verdadeira família
No dia de Natal, celebra-se o nascimento convencionado de Jesus: é um dia de as pessoas aturarem famílias abusivas e violentas das quais, provavelmente, já teriam se libertado há muito tempo se não fosse o doentio fetiche pró-família de nossa cultura.
Ironicamente, dos grandes pensadores e líderes espirituais da Humanidade, poucos atacaram o conceito de família tão ferozmente quanto o próprio Jesus.
Pois, na verdade, ele defendia um novo conceito de família, mais amplo e mais belo.
* * *
Minha religião é o cosmos
Por causa de minha prática zen, tenho acordado todo dia antes do nascer do sol.
Para mim, ver o sol se levantar é um momento sagrado e religioso, de comunhão transcendental com o cosmos, com a realidade, com a existência.
Porque o sol, na verdade, não nasce e nem se levanta, não morre e nem se põe. Essas metáforas, que inventamos há muito tempo, quando ainda não entendíamos o que estava acontecendo, estão tão gastas pelo excesso de uso que já nem emocionam mais.
A verdade (ou, pelo menos, a verdade como a entendemos hoje) me parece muito mais mágica e muito mais arrebatadora.
* * *
Os textos que não leio
Evito ler um texto quando já sei que concordo com suas ideias — pra quê, né? só pra fazer corinho?
Evito ler um texto quando já sei que discordo de suas ideias — pra quê, né? só pra me irritar?
* * *
Nada acaba
“Ai, Alex, não sei como você pode ser ateu. Jura que você acha que é só isso? Que não tem nada depois? Morreu, acabou?”
“Tem tudo depois. Nada acaba. Toda a matéria do meu corpo já esteve em outros seres vivos, toda a matéria do meu corpo estará de novo em outros seres vivos. Nem um pedacinho do meu corpo vai se perder ou deixar de existir. Se isso não é mágico e transcendental, eu não sei o que é.”
* * *
A função do macho
Algumas espécies de rotíferos
são compostas só por fêmeas.
Os raros machos,
quando surgem,
(nascer não é a palavra)
não tem boca nem estômago,
são incapazes de sobreviver
por mais de algumas horas,
e se concentram apenas
na única tarefa:
foder.
E
então
morrem.
* * *
Se esses textos lhe ajudaram, se adicionaram valor à sua vida, se lhe fizeram ver o que antes você não via, posso ter a insolência de sugerir uma contribuição em dinheiro? Pode ser de qualquer valor. Pode ser única ou regular. Qualquer valor ajuda.
Pois foi assim que tentei construir uma vida não-violenta e livre de imposições: escrevendo textos, oferecendo-os de graça, e contando com a generosidade de quem gosta deles.
E muito, muito obrigado mesmo.
Página de mecenato do Alex Castro.
* * *
Se tiver algo a me dizer (sempre quero saber a opinião de vocês), basta responder.
Se gostou, curte abaixo.
Se gostou e quiser ajudar, clica em “Share” e me ajuda a espalhar esse texto por aí.
E muito, muito obrigado.