Só existe liberdade se tenho liberdade de pensamento e liberdade de ação
Não adianta ter liberdade de fazer algo que nunca me ocorreu, nem querer fazer algo que sou politicamente impedido de fazer. (Reflexões da Prisão Liberdade.)
Para vivermos vidas éticas e ativas, nosso desafio é determinar o tamanho do cercadinho onde podemos efetivamente ser donas de nossos pensamentos e de nossas ações, ou seja, da nossa liberdade. Nem egocêntricas ao ponto de achar que podemos mudar o mundo. Nem egocêntricas ao ponto de nem tentar.
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O tema do Curso das Prisões para o mês de outubro foi a Prisão Liberdade. Nossa aula deveria ter acontecido na quinta, 26, mas cancelei. Sim, porque estou escrevendo esses textos ao vivo e ainda não consegui terminar. A aula agora está marcada para dia 7 de novembro, às 19h.
Enquanto isso, fiquem com esse texto inédito, escrito hoje, para a Prisão Liberdade. São reflexões que estou desenvolvendo há mais de vinte anos e que só hoje finalmente articulei. Esse é um texto rascunhado, recém-escrito. Então, tudo ainda está em aberto e eu especialmente adoraria suas perguntas, comentários, sugestões, críticas.
Preciso muito da opinião de vocês. Por favor, me digam o que acham nos comentários.
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Definindo liberdades
Uma definição possível de liberdade: liberdade é quando eu poderia tanto ter concebido agir diferente, como também efetivamente agido diferente, tanto em relação às minhas travas internas (psicológicas) quanto externas (políticas).
Um exemplo: uma vez, passei dois meses dirigindo pelo Cone Sul, uma viagem particularmente tensa e triste. Durante esse período, pela primeira vez na vida, mesmo depois de ter morado no exterior por uma década, senti muita, muita falta de feijão com arroz. Aquilo para mim foi incrível porque nunca gostei tanto assim de feijão com arroz, e nem acho que é uma comida melhor do que a maioria das outras. Então, por que senti tanta falta? Me lembro de pensar: será então que esse é o meu gosto pessoal? Será que, na minha essência mais profunda, esse é o meu Eu: uma pessoa que não consegue passar dois meses sem feijão com arroz? Ou será que simplesmente sou uma pessoa brasileira, como duzentas milhões de outras, que passou a infância inteira comendo uma mesma comida e que, portanto, foi condicionada a apegar-se a ela, ainda mais em momentos de crise? Que não é um gosto pessoal, vindo das profundezas desse meu ó-tão-concreto Eu, mas sim um gosto cultural, contingente e construído, colocado em mim pelas circunstâncias da minha biografia, condizente com os hábitos alimentares da sociedade onde cresci?*
Enfim, eu não sou livre para não sentir essa saudade de arroz e feijão, mas sou totalmente livre para, se quiser, nunca mais comer arroz e feijão na vida. Não posso escolher não sentir essa saudade, mas posso escolher não comer esse prato.
Quando falamos em liberdade, podemos estar falando de liberdade de pensamento (liberdade-de-dentro) ou liberdade de ação (liberdade-de-fora). A liberdade de pensamento é geralmente chamada de livre-arbítrio, é estudada por psicólogos e neurocientistas e dizem que temos cada vez menos do que pensávamos. A liberdade de ação é geralmente chamada de liberdade política, é aquela garantida por nossa constituição e estudada por cientistas sociais.
Mas não adianta eu ter liberdade de fazer algo que nunca me ocorreu que eu posso fazer. Não adianta eu querer fazer algo que sou fisicamente, politicamente impedido de fazer. No contexto da Prisão Liberdade, vou estar falando de ambos os tipos de liberdade. Quando quiser diferenciá-las, falarei de liberdade de pensamento, ou liberdade de dentro, e liberdade de ação, ou liberdade de fora.**
[*Esse exemplo é desenvolvido, em outra direção, na 18ª prática do meu livro Atenção.]
[**Sempre me pareceu instintivamente óbvio que ambos os tipos de liberdade só podiam ser pensados juntos e me impressionava muitíssimo só encontrá-los sendo pensados em separado. Quem me ajudou a desatar esse nó foi o filósofo e cientista político Philip Pettit, em A Theory of Freedom: From the Psychology to the Politics of Agency, publicado em 2001 e escrito exatamente para propor uma nova teoria da liberdade que contemplasse ambas as esferas. Esse texto não existiria sem os insights de Petit.]
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Narrativas que me aumentam, narrativas que me diminuem
Quando algo acontece ou deixa de acontecer na minha vida, seja bom ou ruim, passar ou não em um concurso público, ser preso ou ser promovido, esse evento ou não-evento terá que ser inserido em minha autonarrativa, ou seja, na história da vida conforme contada por mim para mim mesmo. E sempre posso escolher ou me diminuir (ou seja, criar narrativas onde, quanto menor e mais impotente eu sou, menos responsável sou por minhas ações) ou me aumentar (ou seja, criar uma narrativa onde, quanto maior e mais potente eu sou, mais responsável sou por todas as minhas ações.)* Posso acreditar que fui preso porque a sociedade já era um jogo de cartas marcadas contra mim ou porque sou uma pessoa má na minha essência e não presto ou porque cometi erros que não vou cometer da próxima quando for mais experiente, ou porque tive azares completamente inesperados e imprevisíveis: cada uma dessas autonarrativas, independente de ser verdadeira ou não, me aumenta ou me diminui em diferentes graus, me atribui maior ou menor liberdade, maior ou menor responsabilidade.
A questão não é nem qual dessas narrativas é mais confortável (todas conhecemos pessoas para quem nada nunca é culpa delas ou tudo sempre é) nem qual me faz mais feliz (esse será o tópico da próxima Prisão, a Felicidade) mas sim qual fortalece e possibilita meu senso de autonomia para viver uma vida mais ética e mais compassiva.
Se acho que nada é minha responsabilidade e tudo é culpa do sistema, do mundo, da sociedade, do azar, das estrelas, da minha genética, da educação que recebi dos meus pais, etc, então, posso ou cair numa egotrip depressiva impotente (de que adianta agir se não sou responsável por nada que faço?) ou, se decidir agir, a ação mais provável será tentar mudar não eu mesmo (de novo, de que adianta?), mas sim essa externalidade quase onipotente que me pauta.
(Mas como mudar o mundo se sou uma formiguinha totalmente impotente? Se nada é minha responsabilidade, então, como vou me responsabilizar por lutar por um mundo melhor?)
Por outro lado, se acho que tudo é minha responsabilidade, como se não sofresse influência externa alguma, como se o mundo e a sociedade não me pautassem, como se eu estivesse fadado a ser a mesma pessoa independente de minha genética ou criação, então posso ou cair numa egotrip depressiva e paralisante de autoculpabilização e autoflagelamento (de que adianta agir se sou responsável por tudo o que faço e, pior, só faço besteira?) ou numa egotrip maníaca de potência meritocrática, onde, se decidir agir, a ação mais provável será tentar mudar não o mundo (não se mexe em time que está ganhando!), mas a mim mesmo para me tornar uma pessoa melhor que toma decisões ainda melhores.
(Mas de que adianta, ou o que significa, ser uma pessoa melhor em um contexto individualista e meritocrático como esse? Melhor pra quem? Melhor em quê? Em pisar nas coleguinhas? Em passar por cima das liberdades dos outros?)
Existe um certo egocentrismo em quem sinceramente acha que vai mudar o mundo. Mas existe um outro tipo de egocentrismo em quem nem mesmo tenta. Como cavar um caminho do meio? Como viver e agir de forma ética, correta e compassiva sem cair em nenhum desses dois extremos?
[*De todos os livros sobre todos os tipos de liberdade citados nessa Prisão, se eu tivesse que recomendar somente um para a pessoa curiosa que deseja saber mais, certamente seria Freedom evolves (2004) do filósofo Daniel C. Dennett. A frase que ele mais repete e que talvez seja o melhor resumo do seu livro é: “se eu me diminuir o suficiente, consigo externalizar tudo”. Ou, em outras palavras, quanto mais indefeso, impotente e sem autonomia eu me imagino na narrativa que crio para mim mesmo, mais todas as minhas ações são fonte de estímulos externos alheios a mim, logo, menos responsável eu sou.]
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Um rápido pedido de ajuda
Só posso escrever esses textos com a ajuda material das pessoas que os leem e os valorizam. Mais especificamente, só posso escrever esses textos depois de ler muitos livros caros e importados! Se você mora no exterior e a taxa de câmbio é favorável, uma das maiores ajudas que pode me dar é depositando uns trocados nos meus cartões-presente da Amazon. Basta visitar os links abaixo, escolher o valor e enviar para eu@alexcastro.com.br: Espanha <amazon.es/cheques-regalo> ou EUA <amazon.com/gift-cards>. E muito muito obrigado! E de volta ao texto.
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Liberdade e responsabilidade na esquerda e na direita*
É impossível falar de liberdade sem falar de responsabilidade. Sim, Nietszche está certo quando diz que inventaram o livre-arbítrio para que pudessem nos punir.** Mas uma outra maneira de dizer a mesma coisa é dizer que inventaram o livre-arbítrio para que nós nos tornássemos responsáveis.
Hoje, nos círculos de esquerda onde eu mais transito, o tema liberdade/responsabilidade/escolhas é muito mal visto. Mais de uma pessoa já me disse que, quando começou a ler meus textos, minha ênfase nesses assuntos lhe deu a impressão que eu era de direita. Outras pessoas, as que não vieram falar comigo, devem ter concluído que sou um direitista infiltrado e pararam de me ler. Para muitas pessoas de esquerda, falar de responsabilidade é ser de direita:
— Só um direitista falaria em liberdade individual quando poderia estar apontando para as desigualdades sistêmicas e estruturais do capitalismo tardio!
Já eu defendo que todas nós perdemos, pessoas de direita e de esquerda e de todos os pontos do espectro ideológico, quando a pauta da liberdade e da responsabilidade vira monopólio de um único grupo, que pode fazer dela o que quiser, esgarçá-la até já não significar quase nada.
Existe hoje, na direita, um certo culto se não à liberdade absoluta, pelo menos à possibilidade da liberdade mais ampla que seria razoável defender. A grosso modo, em maiores e menores graus, desde YouTubers bolsonaristas histéricos até pensadores conservadores sérios, as pessoas de direita tendem a acreditar, e a agir no mundo, como se fosse possível ou desejável um certo ideal de liberdade absoluta, definido negativamente (ou seja, liberdade é ninguém interferir comigo), e que tem como consequência uma forte responsabilização sobre o indivíduo. Se ninguém estava me obrigando a nada, logo, sou livre e, se sou livre, logo, sou responsável pelos meus atos.
Se eu perguntar “A quem interessa manter viva essa ideologia da liberdade irrestrita e responsabilização absoluta?”, a resposta óbvia seria “os donos do mundo”. Porque essa visão da liberdade é hoje, na prática, para o bem ou para o mal, o senso comum da nossa sociedade, o status quo sob o qual vivemos. A sociedade de controle e a democracia liberal, o punitivismo e a meritocracia, nada disso faria sentido fora dessa concepção de liberdade individualista e quase irrestrita. Essa ideologia é literalmente o substrato da nossa vida.
Nos meios de esquerda, porém, começa a surgir um novo status quo: a partir da percepção, a meu ver correta, que a maior parte dos nossos problemas são estruturais e sistêmicos, as pessoas estão começando a dar cada vez mais passos em direção a uma autodiminuição radical. Esse movimento é não apenas politicamente condizente com nossa ideologia estrutural e anti-individualista, mas também pode ser bastante individualmente confortável e auto-complacente: afinal, acreditar na minha impotência absoluta diante da enormidade sistêmica das forças do mundo me poupa da angústia da liberdade e da responsabilização. (Já dizia Sartre, pensador nada liberal : “somos condenados à liberdade”.***) Pois se eu não era livre para fazer diferente, então não sou responsável nem pelo que fiz, e nem, talvez mais importante, pelo que deixei de fazer, seja por inação ou insegurança, por imperícia ou complacência
Por exemplo, uma pessoa de direta, que acredita mais na meritocracia individual do que em problemas sistêmicos, poderia apontar que a presença de um juiz negro no Supremo Tribunal Federal demonstraria não existirem impedimentos legais, políticos, práticos para pessoas negras alcançarem posições de liderança no Brasil – e talvez acrescentasse:
— Se merecerem, claro.
Já uma pessoa de esquerda poderia olhar para o mesmíssimo ministro e chegar à uma conclusão diametralmente oposta: um único juiz negro em toda a história do STF, em um país majoritariamente pardo, é a confirmação do nosso racismo estrutural. Afinal, se não houvesse, de fato, enormes impedimentos se não políticos e legais, mas certamente práticos, estruturais e sistêmicos, para uma pessoa jurista negra ascender ao Supremo, a tendência seria que a proporção de pessoas juízas negras para brancas seria mais ou menos semelhante à da sociedade como um todo. E talvez ainda desafiasse a pessoa de direita:
— Se as pessoas negras são 56% da população, mas somente 2% das pessoas juízas****, e a explicação não é o racismo estrutural da sociedade, qual seria a outra alternativa que você sugeriria? Está sugerindo que as pessoas negras não têm capacidade mental ou mérito profissional para serem juízas?
Eu, pessoa confessadamente de esquerda, naturalmente concordo com a segunda posição, mas não deixo de enxergar o cerne de verdade da primeira: o fato de ser muito difícil para uma pessoa negra chegar ao STF significa, por definição, que é possível, ou seja, que essa possibilidade está aberta e que os critérios para que aconteça vão depender de vários fatores, entre eles e como defendem as pessoas de direita, mérito pessoal – e também, claro, sempre, sorte.*****
Para entender a diferença entre “difícil” e “impossível”, basta pensar que, até 1879, as mulheres eram proibidas de cursar o ensino superior no Brasil. Então, digamos, se na década de 1890, era difícil de encontrar uma mulher estudando nas faculdades brasileiras, na década de 1860 era impossível. Do nosso acomodado e complacente ponto de vista, porém, cidadãs que somos de uma democracia liberal e politicamente estável, pode até ser fácil de desprezar essa diferença como pequena e insignificante. Mas, para quem está presa nela, para a menina brilhante legalmente impedida de estudar, ela é do tamanho do universo.
Ainda sobre racismo, o modo como direita e esquerda enxergam esse problema, que ambas reconhecem, é bem ilustrativo de suas estratégias discursivas. Pessoas de direita reconhecem que o racismo existe, mas como um problema individual, de total responsabilidade das pessoas racistas. Nesse contexto, definem racismo de maneira bem estreita e restrita, como apenas xingar ou agredir pessoas negras. Já pessoas de esquerda vêem no racismo um problema estrutural e sistêmico que inclusive independe da existência de pessoas efetivamente racistas. Um simpósio universitário com dezenas de palestrantes e nem uma única negra seria, por definição, um evento racista – independentemente da falta de ódio racial por parte das pessoas organizadoras. Seu próprio “distraído esquecimento” (“Oops, esqueci que existem acadêmicas negras!”) já seria um sintoma revelador do racismo estrutural da sociedade.
Enquanto isso, as pessoas de esquerda têm cada vez mais dificuldade de reconhecer e articular o próprio conceito de liberdade. A publicidade serve como um bom exemplo.****** Já ouvi pessoas de esquerda argumentando, apaixonadamente e de boa fé, que não seríamos livres para comer o que desejamos por culpa da publicidade maciça:
— Que liberdade eu tenho para comer uma saladinha verde e um copo d’água morna se para cada lado que eu olho tem outdoor de xarope açucarado de cola ou de dois hambúrgueres com molho especial? Ok, comi dois, mas não foi culpa minha, não! Acabou o livre-arbítrio!
Já o meu entendimento é radicalmente oposto: a publicidade, apesar de detestável, é uma boa notícia. A tentativa de influenciar nossa liberdade é literalmente a prova que ela existe. O palhaço escocês não veio até a minha casa, arrombou a porta e me enfiou goela abaixo resíduos de frango prensados e fritos: quem foi até a loja, ou pediu no aplicativo, fui eu — aliás, muito mais vezes do que seria razoável. Naturalmente, as maiores corporações do mundo gastam rios de dinheiro em publicidade não só porque somos livres para consumir ou não seus produtos, mas também porque publicidade funciona. Então, sim, por óbvio que a publicidade nos manipula a querer consumir aqueles produtos, mas, de novo, ela só se dá ao trabalho de fazer isso porque somos livres para não consumi-los. Ninguém anuncia comida de bandejão numa penitenciária: as pessoas presidiárias comem o que está sendo servido, e pronto. Sem liberdade, não existe publicidade.
Por óbvio que não existe essa tal liberdade ampla e quase absoluta que as pessoas de direita ou acreditam ou, pelo menos, gostariam que existisse. Já sabemos o mundo que seria criado pela disseminação dessa ideologia: literalmente, o nosso mundo, a sociedade de controle, punitivista e meritocrática, onde vivemos. Por óbvio, igualmente, que também não somos tão pequenos e impotentes quanto muitas pessoas de esquerda parecem acreditar. Não sei que tipo de mundo seria criado pela disseminação dessa ideologia e, sinceramente, espero nunca saber.
Do meu ponto de vista de pessoa de esquerda, a liberdade e a responsabilidade são pautas importantes demais para serem dadas de mão beijada para a direita. Qualquer tentativa de vivermos de maneira mais ética e mais compassiva começa necessariamente com uma reflexão sobre nossa autonomia para realizar esse projeto.
O conceito de liberdade talvez seja também parecido com o conceito de raça em um último aspecto fundamental: ambos não existem em teoria, mas pode ser bom agirmos como se existissem na prática. Enquanto categoria objetiva, científica, mensurável, raça certamente não existe; o livre-arbítrio ainda está em debate. Mas, porque nós agimos como se existissem, então efetivamente, para todos os fins e efeitos práticos, eles existem. Políticas públicas baseadas em raça, como cotas raciais em universidades, por exemplo, podem ter um impacto positivo na sociedade, mesmo raça não existindo, mesmo baseadas em uma completa ficção, justamente porque buscam ajudar as pessoas cujas vidas são prejudicadas por serem vítimas dessa ficção. Da mesma maneira, ainda que o livre-arbítrio não exista, pode valer a pena vivermos como se existisse.
Se o mundo é enorme e vasto, muito maior, mais poderoso, mais insondável do que podemos conceber, existe sim um pequeno cercadinho dentro do qual podemos ser livres, um cercadinho mental e político onde podemos pensar e agir livremente: um cercadinho bem menor do que diz o senso comum da direita mas também, felizmente, muito maior do que diz o senso comum da esquerda.
Para vivermos vidas éticas e ativas, nosso desafio é determinar o tamanho do cercadinho onde podemos efetivamente ser donas de nossos pensamentos e de nossas ações, ou seja, da nossa liberdade. Nem egocêntricas ao ponto de achar que podemos mudar o mundo. Nem egocêntricas ao ponto de nem tentar.
[*Nessa subseção, vou fazer algumas generalizações muito a grosso modo sobre a esquerda e a direita pautadas não por leituras, mas por meu trânsito entre esses grupos nos últimos, digamos, dez anos, de 2013 a 2023. Por favor, mesmo se discordarem violentamente das minhas generalizações, leiam fazendo os devidos descontos e até o final, para ver a qual conclusão eu estava cambaleando para chegar.]
[**“O livro-arbítrio só foi inventado para que possamos ser punidos, para que possamos nos sentir culpados”, diz Nietszche em Crepúsculo dos ídolos (1888), na seção “Os quatro grandes erros”.]
[***Essa frase famosa de Sartre está na palestra “O existencialismo é um humanismo”, realizada em Paris, em 1946.]
[****Os dados estão na matéria "Com apenas 1,7% de juízes e juízas pretos, equidade racial segue distante na Justiça brasileira" publicada pela Agência de Notícias do CNJ − Conselho Nacional de Justiça.]
[*****A dimensão moral da sorte, sobre a qual falei na Prisão Classe, é a lufada de vento que derruba todo o castelo de cartas da meritocracia.]
[******Como falei na Prisão Trabalho, poucas coisas que horrorizam tanto quanto a Publicidade.]
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Série “As Prisões”
Aqui estão os textos já reescritos, revisados e finalizados em 2023:
Monogamia (em breve)
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O Curso das Prisões
Um curso para nos libertar até mesmo da busca pela liberdade. O que está em jogo é nossa vida.
Curso em resumo
Curso de filosofia prática, com ênfase em liberdade pessoal e consciência política: como viver uma vida mais livre e significativa sem virar o rosto ao sofrimento do mundo. // As Prisões: Verdade, Religião, Classe, Patriotismo, Respeito, Trabalho, Autossuficiência, Monogamia, Liberdade, Felicidade, Empatia // Sem leituras, com muita conversa, debate, polêmica. // Um tema por mês, durante onze meses: uma conversa livre, no 1º domingo, para abrir o mês de conversas sobre o tema, e uma aula, na última quarta-feira, para fechar. Até 27 de dezembro de 2023. // Encontros e aulas ao vivo via Zoom; aulas gravadas via Facebook; grupo de discussão no Whatsapp. // R$88 mensais, no Apoia-se, por todos os meus cursos. Compre agora.
O que são As Prisões
As Prisões são as bolas de ferro mentais e emocionais que arrastamos pela vida: as ideias pré-concebidas, as tradições mal explicadas, os costumes sem sentido: Verdade, Religião, Classe, Patriotismo, Respeito, Trabalho, Autossuficiência, Monogamia, Liberdade, Felicidade, Empatia.
O que chamo de As Prisões são sempre prisões cognitivas: armadilhas mentais que construímos para nós mesmas, mentiras gigantescas que nunca questionamos, escolhas hegemônicas que ofuscam possíveis alternativas.
A Monogamia, por exemplo, é uma prisão não porque seja ruim ou desaconselhável em si, mas porque se apresenta como sendo a única opção concebível de organizar nossos relacionamentos, consignando todas as outras alternativas à imoralidade, à falta de sentimentos, ao fracasso: “relacionamento aberto não funciona, é coisa de quem não ama de verdade”.
A Felicidade é uma prisão não porque seja ruim ou desaconselhável em si, mas porque se apresenta como sendo a única opção de fim último para nossas vidas, consignando todas as outras alternativas à condição de suas coadjuvantes e dependentes: “não é que o seu fim último seja ser virtuosa, mas você quer ser virtuosa para ser feliz, logo o seu fim último é ser feliz”.
Quem está “presa” na Prisão Monogamia não é a pessoa que fez a escolha livre e consciente de viver relacionamentos monogâmicos, mas sim aquela que, por ignorar a opção de não fazer isso, por nunca ter percebido a verdadeira gama de diferentes alternativas que lhe estavam abertas, vive relacionamentos monogâmicos por default, como se essa fosse a única possibilidade concebível. Sua prisão (cognitiva) não é viver a Monogamia, mas ignorar a realidade que existe além dela.
Quem está “presa” na Prisão Felicidade não é a pessoa que fez a escolha livre e consciente de colocar sua própria felicidade individual como fim último de sua vida, mas sim aquela que, por ignorar a opção de não fazer isso, por nunca ter percebido a verdadeira gama de diferentes alternativas que lhe estavam abertas, busca sua própria felicidade por default, como se essa fosse a única possibilidade concebível. Sua prisão (cognitiva) não é buscar a Felicidade, mas ignorar a realidade que existe além dela.
Cada uma das Prisões, da Verdade à Empatia, do Trabalho à Felicidade, é sempre, antes de mais nada, uma prisão cognitiva, uma percepção incompleta da realidade. Por trás de todas as Prisões está sempre a mesma inimiga: a ignorância.
Funcionamento
Como toda Prisão é uma verdade tão inquestionável que nos impede de perceber outras alternativas, nossas aulas começam sempre por analisá-la e desconstruí-la, para entender como nos limitam, e podermos então enxergar as alternativas que ela esconde.
Cada mês será dedicado a uma Prisão.
No 1º domingo do mês, às 19h, damos início às discussões com uma conversa livre no Zoom. Não é uma aula expositiva, mas uma sessão de troca e de escutatória. Sem a interlocução de vocês, sem ouvir como essa prisão afetou as suas vidas, eu não teria nem como começar a pensar a aula. Aqui, tudo é prático, nada é teórico. O que está em jogo são nossas vidas.
Ao longo do mês, continuamos conversando sobre essa Prisão em nosso grupo do Whatsapp, trocando histórias e experiências. Para quem quiser, vou compartilhando as leituras que estou fazendo sobre o tema, mas nenhuma leitura é obrigatória, nem necessária para a compreensão da aula.
Na última quarta-feira do mês, às 19h, fechamos as discussões com uma aula, também pelo Zoom. Essa aula será expositiva, mas também teremos bastante espaço para debates e conversas.
Aulas gravadas indefinidamente
A gravação em vídeo das aulas expositivas fica disponível em um grupo fechado do Facebook. (É preciso se inscrever no Facebook para ter acesso ao grupo) Mas, juridicamente falando, como não posso garantir “indefinidamente”, garanto que as aulas estarão acessíveis às compradoras do curso, se não no Facebook em outro lugar, no mínimo até 31 de dezembro de 2027. As conversas livres, por serem mais pessoais, não ficam gravadas: são só para quem vier ao vivo. As aulas gravadas só estarão disponíveis para as mecenas do plano CURSOS enquanto durar o apoio. Você pode cancelar seu plano de mecenato a qualquer momento, mas aí perde acesso aos cursos.
Sem leituras
O Curso As Prisões não é um curso de leituras: nenhuma leitura é obrigatória ou recomendada. É um curso de conversas livres e de trocas de experiências, de escutatória e de debates, de reflexão sobre nossas vidas e sobre como viver.
Para cada Prisão, eu listo uma pequena bibliografia, para que vocês saibam quais livros eu utilizei na preparação da aula e para que possam correr atrás das leituras que mais lhes interessem.
Mas não precisa ler nada para participar das aulas, das conversas, das trocas, das discussões.
Sejam as primeiras leitoras do Livro das Prisões
O Livro das Prisões foi contratado pela Rocco em 2017 e eu ainda não consegui escrever. Um de meus objetivos para esse curso é, com a inestimável ajuda da interlocução de vocês, finalmente terminar o livro. Então, junto com a aula, também pretendo disponibilizar o texto dessa Prisão em sua versão final, já pronta para publicar. Todas as alunas do curso serão citadas nos agradecimentos do livro, pois ele certamente nunca teria sido escrito sem a participação de vocês. Já de antemão, agradeço.
Professor
Alex Castro é formado em História pela UFRJ com mestrado em Letras por Tulane University (Nova Orleans, EUA), onde também ensinou Literatura e Cultura Brasileira. Atualmente, é mestrando do Programa de Pós-Graduação em Letras Neolatinas da UFRJ. Tem oito livros publicados, no Brasil e no exterior, entre eles A autobiografia do poeta-escravo (Hedra, 2015), Atenção. (Rocco, 2019) e Mentiras Reunidas (Oficina Raquel, 2023). Escreve para a Folha de São Paulo, Suplemento Pernambuco, Quatro Cinco Um, Rascunho.
Meus votos zen-budistas
Pratico zen budismo há dez anos. Todo dia, pela manhã, refaço meus votos: os quatro votos do Bodisatva e os três votos dos pacificadores zen.
Basicamente, eu me comprometo a ajudar as pessoas a 1) se libertarem, 2) enxergarem as ilusões que as limitam, 3) perceberem a realidade em sua plenitude e, assim, 4) agirem no mundo de acordo com essa percepção. E me proponho a fazer isso a partir de 1) uma posição de não-saber, me abrindo às novas situações sem certezas prévias, 2) estando presente de forma plena a cada interação humana, sem virar o rosto nem à dor nem à alegria, e 3) agindo amorosamente.
Esse curso é minha humilde tentativa de agir no mundo de acordo com meus votos. De ajudar as pessoas, minhas alunas e minhas leitoras, a enxergarem suas prisões, se libertarem delas, perceberem a realidade e agirem amorosamente no mundo, questionando suas certezas e nunca virando o rosto nem à dor nem à alegria das outras pessoas.
Dar esse curso, portanto, é minha prática religiosa. Se eu tiver algum sucesso em caminhar ao lado de vocês nesse percurso, minha vida terá sido uma vida bem vivida, e sou grato por tê-la vivido.
Os Quatro Votos do Bodisatva: As criações são inumeráveis, faço o voto de libertá-las; As ilusões são inexauríveis, faço o voto de transformá-las; A realidade é ilimitada, faço o voto de percebê-la; O caminho do despertar é insuperável, faço o voto de corporificá-lo.
Os três votos da Ordem dos Pacificadores Zen: Praticar o não saber, abrindo mão de certezas prévias; Estar presente na alegria e no sofrimento, não virando o rosto à dor alheia; Agir amorosamente, de acordo com essas duas posturas.
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Para fazer o curso completo (11 aulas expositivas + 11 encontros livres + grupo no Facebook + grupo de Whatsapp):
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Não são vendidas aulas individuais. Não existem outras formas de pagamento. Quem estiver no estrangeiro e não tiver cartão de crédito ou conta bancária brasileira, fale comigo: eu@alexcastro.com.br
Dúvidas
Somente por email: eu@alexcastro.com.br
Aulas em resumo
Links levam para a descrição de cada aula na ementa do curso.
Verdade (fevereiro)
Religião (março)
Classe (abril)
Patriotismo (maio)
Respeito (junho)
Trabalho (julho)
Autossuficiência (agosto)
Monogamia (setembro)
Liberdade (outubro)
Felicidade (novembro)
Empatia (dezembro)
As inscrições para o Curso das Prisões estão abertas: é só fazer o plano CURSOS no meu Apoia-se.
Ótimo texto .