Quando o latim já estava engessado pela idade e pela obsolescência, e as línguas modernas ainda não estavam engessadas pelas gramáticas e pelas convenções, houve um mágico intervalo de tempo onde todas as possibilidades estavam em aberto, tudo ainda era possível, qualquer experimento literário parecia factível.
Poucas literaturas se aproveitaram dessa oportunidade de forma tão rica, tão frutífera, tão livre quanto a espanhola.
O meu próximo curso é para apresentar vocês à ela:
Grande Conversa Espanhola: do El Cid ao Dom Quixote, a invenção da literatura moderna.
O Poema do meu Cid, no século XIII, é a primeira grande obra-prima espanhola, talvez a primeira verdadeira obra-prima literária em qualquer língua românica (ainda faltavam cem anos para A Divina Comédia) e um exemplo do melhor que a poesia medieval tinha a oferecer. É a canção medieval perfeita, protagonizada pelo cavaleiro paradigmático, bem-sucedido e em total sintonia com seu mundo. Será nossa leitura da primeira aula, na quarta, 6 de abril.
O Dom Quixote, no século XVII, é a obra-prima indiscutível, incontornável da literatura espanhola, unanimemente considerada uma das maiores obras literárias de todos os tempos em qualquer época e de qualquer gênero, e texto fundador do romance contemporâneo. Não só por trazer um novo tipo de protagonista (falho e deslocado de um mundo onde não mais se encaixa) mas também por exigir um novo tipo de leitura, mais participativa e questionadora. Será a leitura de nossas últimas duas aulas, em abril e maio de 2023.
Nos quatro séculos que separam o Cid do Quixote, e em especial nos dois últimos, chamados coletivamente de “Século de Ouro”, a Espanha basicamente inventa:
o romance contemporâneo: o Quixote e seus precursores, o Lazarilho de Tormes, aula 7, e a A Celestina, aula 4;
a poesia popular: a “nossa” literatura de cordel nasce nos romanceiros espanhóis, que leremos na segunda aula;
a poesia contemporânea: só o século XX realmente começa a apreciar os universos poéticos de João da Cruz, aula 8, e Góngora, aula 10;
o teatro contemporâneo: Shakespeare, com sua separação estrita de gêneros, nos parece séculos mais velho que seus contemporâneos Tirso de Molina, aula 9, Lope de Vega, aula 11, e Calderón de la Barca, aula 12, criadores de um teatro que já era tudo ao mesmo tempo o tempo todo.
Além disso, a literatura espanhola nos lega arquétipos duradouros que estão conosco até hoje, e muitas vezes nem sabíamos que eram espanhóis: não só o Cid e o Quixote, mas também o-herói perfeito (Amadís de Gaula, aula 3), o sedutor canalha (Don Juan, aula 9) e o malandro blefador (Lazarilho de Tormes, aula 7).
Por fim, ao mesmo tempo em que cometiam as piores atrocidades no Novo Mundo, também foram os espanhóis os primeiros a teorizar sobre direitos humanos e liberdades inalienáveis, causando verdadeiras revoluções políticas na Europa. Esse debate será o assunto de nossa quinta aula.
Para entender a nossa literatura contemporânea (o que é?, como surgiu?, o que a define?), é preciso começar pelo Quixote. Para realmente entender o Quixote, é preciso conhecer a tradição com a qual conversa, os ídolos que imita, os desafetos que ataca, do Cid ao Amadís, do Lazarilho à Celestina.
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Aliás, hoje é meu aniversário.
Se você me lê e me acompanha, se comprou meus livros e veio aos meus eventos… posso te pedir um presente?
Desde o começo da pandemia, estou dado cursos de literatura na internet.
(O primeiro foi sobre o cânone universal; o segundo, sobre o brasileiro; o terceiro, em andamento, sobre história do mundo. Todos à venda.)
E tem sido lindo. É um privilégio poder ganhar a vida conversando sobre literatura para pessoas do mundo inteiro. Sou muito grato a todas as pessoas que possibilitaram esse sonho.
Como professor, as obrigações que me imponho são as seguintes:
Nunca presumir que minha aluna sabe nada. (Quando menciono algum nome, período, conceito, pela primeira vez, sempre explico, contextualizo, defino.)
Tentar tornar tudo interessante. (Podemos até estudar literatura, mas ninguém escreve literatura para ser estudada: escrevemos literatura para agradar, seduzir, entreter. E assim deve ser lida.)
Pois agora, depois de três cursos onde ensinei os livros mais clássicos e mais canônicos, aqueles que todo mundo conhece e sente que precisa ler, quis tentar fazer uma coisa mais corajosa.
Quis dar um curso sobre a literatura que me apaixona, que me acompanha nas horas vagas, que mais me instiga, encanta, atiça, consola.
Você provavelmente não tem interesse nenhum em literatura espanhola, eu sei.
O presente de aniversário que te peço é: deixa eu tentar te seduzir?
Deixa eu te mostrar porque essa literatura é relevante e interessante, prazerosa e única?
Se já fez algum dos meus cursos e gostou, te prometo: a aula é sempre melhor quando o professor está ensinando o que ama.
Depois, se decidir fazer, até 23 de fevereiro (ou seja, na primeira semana de inscrições), você paga R$449, tá?
(É só fazer o pix para eu@alexcastro.com.br e mandar o comprovante para o mesmo email.)
E então? Passa os olhos pela ementa? Me diz o que você acha?
(Pra falar comigo, basta responder esse email ou deixar um comentário.)
Um grande beijo, do
Alex