Falta aquela disposição de agradar a pessoa leitora, de seduzi-la, de conquistá-la. Falta a percepção de que, fundamentalmente, o trabalho de cada frase é fazer a pessoa leitora querer ler a frase seguinte.
Não é à toa que vivemos em uma época quando "soco no estômago" é um elogio.
(Deus me livre, nunca quis e continuo não querendo nem levar um soco no estômago, nem dar um soco no estômago. Quando elogiam meus livros assim, eu fico mal.)
Hoje em dia, percebo que cada vez mais livros tentam ser propositalmente desagradáveis. Ou seja, tem como proposta autodeclarada fazer a pessoa leitora ver o horror do mundo, fazê-la se sentir desamparada, jogar sobre seus ombros o peso de 400 assassinatos, etc.
Nada contra esses objetivos artísticos. A arte não pode servir apenas para passar a mão na cabeça dos confortáveis.
Mas acho que isso funciona melhor nas artes plásticas ou no cinema. Ou em contos.
Pegar um romance pra ler é como começar um romance de verdade, um relacionamento de curto, médio ou longo prazo, que você não sabe quão intenso vai ser, quanto tempo vai durar. E só masoquistas em último grau sustentam um relacionamento só na base dos socos no estômago.
O que a ficção contemporânea perdeu não foi a contação de histórias e enredos, mas a ideia de que a romancista precisa, antes de mais nada, seduzir a pessoa leitora a continuar lendo, a virar página atrás de página.
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Autoras contemporâneas vivas preferidas
Para não falarem que não gosto de nada, abaixo estão as minhas pessoas autoras contemporâneas vivas preferidas, em ordem alfabética. (Clicando nos links e fazendo uma compra na Amazon, eu ganho uma comissão e você apóia meu trabalho.)
E os livros brasileiros:
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Por que não ensinar literatura contemporânea?
Como dá pra ver pela lista acima, acho sim que tem muita literatura boa sendo escrita hoje, literatura eu gosto de ler e adoraria ensinar.
Mas não precisa.
A área de Estudos Literários tem um viés fortíssimo pela contemporaneidade. Para quem quer ler e estudar os contemporâneos, existem muitos, muitos cursos sensacionais. Recomendo os da Juliana Cunha e do Mateus Baldi.
Posso ser mais útil ensinando livros antigos e difíceis, aqueles que as pessoas precisam de ajuda e contextualização pra ler e entender. (Dá pra ler Houellebecq e Murata por conta própria, sem apoio profissional, e aproveitar tudo. Nós e eles estamos próximos: somos as leitoras para quem esses autores escrevem. Já Paraíso Perdido, do Milton, é bem mais complicado.)
Sempre prefiro trabalhar o difícil, em primeiro lugar, porque é mais interessante e menos tedioso, e em segundo, porque sinto que estou sendo mais útil.
Meu primeiro curso, Introdução a Grande Conversa, foi sobre algumas das obras mais canônicas da literatura ocidental. (Dá pra comprar o curso todo por $79.) No curso desse ano, estou fazendo a mesma coisa, mas com a nossa literatura.
Na próxima aula, Retirantes & sebastianistas, que acontece no dia 2 de dezembro de 2021, vamos conversar sobre O quinze, de Raquel de Queiroz, O Romance d’A Pedra, de Ariano Suassuna e Morte e vida Severina, de João Cabral de Melo Neto.
E, sim, ainda dá tempo de entrar: você paga bem menos que o preço original, assiste essa aula e a seguinte ao vivo (as anteriores estão gravadas) e ainda participa do nosso grupo no zap. Vem?
Um beijo do
Alex