"Escrever é negócio muito perigoso. Carece de ter vocabulário."
Em "Grande Sertão: Veredas", muitas palavras são inventadas. Mas por quem?
Quando criticavam Guimarães Rosa por escrever difícil, ele respondia:
"Eu não escrevo difícil: eu sei o nome das coisas."
Em 1952, quatro antes antes da publicação de Grande Sertão: Veredas, Rosa acompanhou oito vaqueiros e trezentas cabeças de gado em uma viagem de dez dias por 250km do sertão de Minas Gerais.
Durante a viagem, ele trazia um caderninho pendurado no pescoço e ia anotando o nome de tudo.
Décadas mais tarde, muito depois da morte do escritor, um dos vaqueiros confessou que os nomes eram quase todos falsos:
“Nonada. Essas palavras que o senhor leu foram palavras de verdade não. Inventamos inventados muitos nomes. Mire e veja: é que dotô Rosa, escrevinhador grão-neologista, não fornecia paz, insistia e reinsistia, lançava perguntas e questionamentos: ‘Como se chama-nomeia esse arbusto?’ E eu desfalava: ‘Gloso não. É só arbusto que só. Nada mais.’ Mas dotô Rosa, Deus o possua, parecia que tinha pacto com o Arrenegado, que era aluno do Cramulhão, que queria o dicionário de sinônimos do Não-sei-que-diga, e se arrebelava contra nós: ‘Povo prascóvio! Como não sabem o nome-chamador de um arbusto que passam cavalgando todo dia! Toleima!’ Mas passarinho que se debruça – o vôo já está pronto! Pois o senhor entenda, então nós inventava: ‘Anote aí bem escritinho, dotô Rosa, o arbusto se conhece-chama por Azarapê-de-pau-lustroso.’ E ele anotava tudo, felizinho de aprazível. O senhor tolere, isto é o sertão. Escrever é negócio muito perigoso: carece de ter vocabulário. Carece de ter muito vocabulário.”
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Grande Sertão: Veredas
Nossa leitura desse mês do curso A Grande Conversa Brasileira é a obra-prima de Guimarães Rosa, Grande Sertão: Veredas.
Ontem, cometi o grave erro de começar a ler lá pelas 20h, pra dar soninho, e não parei de ler até às 4h, esperando esse maldito jagunço Riobaldo fazer uma pausa — nem pra respirar fundo esse homem!
Enquanto isso, até o dia da aula, vamos conversando sobre Grande Sertão: Veredas em nosso grupo do zap e os papos têm sido bem interessantes. Se você quiser se juntar a nós, ainda dá tempo e seria meu enorme prazer. Baixei os preços e tudo. ;)
O curso de 2020, Introdução à Grande Conversa, está $79 e você assiste às aulas gravadas; o de 2021, em andamento, Grande Conversa Brasileira, está $299: você assiste às aulas passadas gravadas, participa das próximas ao vivo pelo zoom e conversa com a gente sobre literatura todo dia no whatsapp.
A próxima aula, Bandeirantes & Jagunças, acontece dia 7 de outubro e será sobre Grande Sertão Veredas, de Guimarães Rosa; Invenção de Orfeu, de Jorge de Lima; e A Muralha, de Dinah Silveira de Queiroz. Vem com a gente?
Beijos rosianos,
do Alex Castro