As pessoas alunas do meu curso A Grande Conversa Brasileira: a ideia de Brasil na literatura me pediram por dicas de livros básicos de crítica literária.
Antes de mais nada, precisamos de uma boa história literária para nos guiar. Um livro de história literária não é exatamente igual a um livro de crítica literária, mas também não é muito diferente. (É difícil de dizer onde começa um e onde termina o outro.)
Abaixo, vão alguns nomes que são não só incontornáveis, mas também meus preferidos.
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História literária ocidental
O guia mais acessível e brilhante para a história da literatura ocidental é a Introdução aos Estudos Literários, de Erich Auerbach. É o livro que ele escreveu para seus alunos de graduação turcos, que não sabiam nada de nada, então ele explica tudo do zero, mastigadinho. Saiu pela Cosac, está fora de catálogo, daqui a pouco alguém deve relançar.
Para quem tem um pouco mais de coragem, recomendo, do mesmo autor, em nova edição, o livro que mudou minha vida: Mimesis: A Representação da Realidade na Literatura Ocidental. Apesar de um pouco mais difícil, também é uma história literária bem boa para iniciantes. Vai na ordenzinha cronológica, livro a livro, mostrando como a literatura mudou desde a Bíblia até Proust.
(Dois textos meus sobre Auerbach: Agostinho e Auerbach: da Antiguidade ao Medieval & Auerbach sobre a Bíblia e Homero: como representar a realidade)
Para os mais corajosos, uma ensaio de crítica e história literária que eu amo de paixão, ambicioso e enlouquecido, amplo e polêmico, tudo que um livro original sobre literatura tem que ser, é Personas Sexuais, Arte e Decadência de Nefertite a Emily Dickinson, de Camille Paglia (em inglês), tão denso que não é jamais possível de ler de uma sentada só, mas que dá pra ler e minerar a vida toda.
Ultimamente, estou apaixonado por René Girard, mas ainda não saberia recomendar por onde começar.
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História literária brasileira
No Brasil, continuo achando que nosso maior mestre ainda é Antônio Cândido. Sua obra-prima só vai até 1880, mas ela articula como nenhuma outra, na minha opinião, porque vale a pena estudar a nossa literatura: Formação da literatura brasileira: momentos decisivos, 1750-1880, de Antônio Candido.
Para quem quer uma história literária formal e exaustiva, que cubra todas as áreas até o presente, existem muitas. A minha preferida é a História Concisa da Literatura Brasileira, de Alfredo Bosi.
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Crítica literária
Mas, enfim, o que é bom, bom mesmo, é ler um grande crítico escrevendo sobre um grande livro, em especial um livro que você leu e gostou e que, agora, vê com novos olhos. E não é fácil de encontrar.
No passado, todos era meio diletantes — e o melhor, certamente, é Borges, em seus livros de prólogos: Prólogos com um prólogo de prólogos.
Dentre os escritores refletindo sobre seu ofício, meu favorito é o Kundera: A arte do romance & Os testamentos traídos.
Hoje em dia, os acadêmicos têm que publicar tanto, com tanta frequência e em um jargão tão especializado, que a crítica se tornou praticamente ilegível. Por exemplo, gosto muito dos insights do Costa Lima, mas é uma leitura penosa até para especialistas. Por exemplo, esse é o seu livro sobre Os Sertões, que não recomendo para iniciantes: Terra ignota: a construção de Os Sertões.
Então, dentre as pessoas acadêmicas, além das já citadas Auerbach e Paglia, Cândido e Bosi, etc, aqui vão, algo arbitrariamente, alguns favoritos pessoais:
Stanley Fish sobre Paraíso Perdido: Surprised by Sin
Roberto Schwarz sobre Dom Casmurro: Duas meninas
Silviano Santiago sobre Grande Sertão: Veredas: Genealogia da Ferocidade
Ezequiel Martinez Estrada sobre o Martín Fierro: Muerte y Transfiguración de Martín Fierro
Sandra M. Gilbert and Susan Gubar sobre a literatura escrita por mulheres no século XIX: The Madwoman in the Attic
Toni Morrison sobre racismo e literatura: A fonte da autoestima & A origem dos outros
Por fim, para não falar que não mencionei os brilhantes criadores de caso, tem o Bloom e o Kothe: Shakespeare: a invenção do humano & O cânone imperial.
Pronto. Vocês já têm leituras para a vida inteira.
E, sim, nem mencionei os teóricos, como o pessoal de Formação do Cânone, Estética da Recepção e Estudos Decoloniais, mas era pra ser uma lista básica. :)
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Grande Sertão: Veredas
Nossa leitura desse mês do curso A Grande Conversa Brasileira é a obra-prima de Guimarães Rosa, Grande Sertão: Veredas.
Até o dia da aula, vamos conversando sobre Grande Sertão: Veredas em nosso grupo do zap e os papos têm sido bem interessantes. Se você quiser se juntar a nós, ainda dá tempo e seria meu enorme prazer. Baixei os preços e tudo. ;)
O curso de 2020, Introdução à Grande Conversa, está $79 e você assiste às aulas gravadas; o de 2021, em andamento, Grande Conversa Brasileira, está $299: você assiste às aulas passadas gravadas, participa das próximas ao vivo pelo zoom e conversa com a gente sobre literatura todo dia no whatsapp.
A próxima aula, Bandeirantes & Jagunças, acontece dia 7 de outubro. Vem com a gente?
Beijos,
do Alex Castro
gratos abraços