Alex Castro

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Coplas pela morte de meu pai, de Jorge Manrique, uma introdução
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Coplas pela morte de meu pai, de Jorge Manrique, uma introdução

Ao fazer epitáfio do pai, o cavaleiro Jorge Manrique não imaginava fazer também epitáfio de seu mundo e sua época. Um guia de leitura da Grande Conversa Espanhola.

Alex Castro
Feb 22
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Coplas pela morte de meu pai, de Jorge Manrique, uma introdução
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As coplas pela morte de meu pai, compostas por Jorge Manrique em 1476, além de belíssimas, servem como epitáfio e elegia de todo um mundo de valores medievais aristocráticos que morria no final do século XV, na passagem de um sistema feudal de nobreza forte para um sistema pré-capitalista de monarquia autoritária.

(Serão uma de nossas leituras na segunda aula do curso Grande Conversa Espanhola: do El Cid ao Dom Quixote, a invenção da literatura moderna. O curso está saindo com desconto só na primeira semana de vendas, até 23fev. Compre aqui.)

Manrique nos apresenta a morte em toda sua dureza, como a experimentamos até hoje, mas também vista por seu ponto de vista autenticamente medieval, ou seja, amenizada pela visão transcendente da existência humana que era a marca de sua época e de sua classe. Afinal, a vida nessa terra era apenas um campo de testes para merecermos ou não a vida eterna.

É um poema repleto de silêncios que se adequam perfeitamente ao que está sendo narrado (a interrupção abrupta dos versos espelha a interrupção abrupta da vida pela morte), e que, para ser plenamente aproveitada, aliás, como qualquer poesia, precisa ser ouvida em uma boa declamação. Por fim, ainda se vê, nas coplas, o forte didatismo que é marca da poesia medieval: o poema não busca nem deseja a ambiguidade, ele quer transmitir uma mensagem e faz tudo para que seja transmitida com precisão.

Em didatismo, em virtuosidade, em cosmovisão, as coplas certamente representam o auge da poesia medieval espanhola, já na véspera de quando será varrida pelos ventos renascentistas.

* * *

A primeira página do poema. Clique para ver em tamanho maior.

* * *

Abaixo, a primeira estrofe.

* * *

Original

Recuerde el alma dormida,
avive el seso y despierte
contemplando
cómo se pasa la vida,
cómo se viene la muerte
tan callando;
cuán presto se va el placer;
cómo después de acordado
da dolor;
cómo a nuestro parecer
cualquiera tiempo pasado
fue mejor.

(link para o texto completo.)

* * *

Uma versão belíssima declamada pelo ator Escobar Rubio — ele é ótimo, mas, Deus me livre, tão intenso!:

* * *

Uma versão cantada e musicada por Paco Ibañez, em um tom que me parece surpreendente:

* * *

Essa aqui, por Amancio Prada, é das minhas preferidas:

* * *

Por fim, essa interpretação, da dupla Cântica, é que mais me faz sentir que estou em plena Idade Média:

* * *

Português, Rubem Amaral Jr., 1984.

Recorde a alma dormida
avive o senso e desperte
contemplando
como perpassa a vida,
chega-se a morte solerte,
tão calando;
quão prestes se vai o prazer
como depois de lembrado
causa dor,
como, a nosso parecer
qualquer momento passado
foi melhor.

(link)

* * *

Inglês, Henry Wadsworth Longfellow, séc.XIX

O let the soul her slumbers break,
Let thought be quickened, and awake;
Awake to see
How soon this life is past and gone,
And death comes softly stealing on,
How silently!

Swiftly our pleasures glide away,
Our hearts recall the distant day
With many sighs;
The moments that are speeding fast
We heed not, but the past,-the past,
More highly prize.

(link)

* * *

Inglês, Alan Steine, 2020.

Arouse your sleeping soul,
Revive your brain, wake up
And you will see
How life goes by so fast,
How death creeps up on us
So quietly;
How pleasures quickly fade,
And when we think of them
We feel malaise;
How always it appears
That former times comprised
Much better days.

(link)

* * *

Leitura

  • Poesia “Coplas a la muerte de su padre”, de Jorge Manrique [20pp] (pdf / versão anotada / em português)

Como ler

As coplas de Manrique  são curtinhas, estão disponíveis em site bilíngue e em dezenas de versões em áudio no YouTube.

Espanhol

  • Poesía, de Jorge Manrique [Penguin, ed. Giovanni Caravaggi.] (kindle, pdf)

Português

  • —> “Coplas pela morte de meu pai” [Trad. Rubem Amaral Jr.] (site)

  • “Elogio à mulher baixinha”, de Juan Ruiz, arcipreste de Hita (site bilíngue)

  • Jarchas e cantigas de amigo (site bilíngue)

  • Baladas clássicas espanholas (site)

  • Poesias, do Marquês de Santillana (site bilíngue)

Inglês

  • “Verses on the Death of His Father” [Trad. Alan Steinle, 2020.] (site)

  • “Stanzas on the death of his father” [Trad. Henry Wadsworth Longfellow, 1880.] (site)

Audiolivro

  • “Coplas a la muerte de su padre” (YouTube)

  • “Stanzas on the death of his father” [Trad. Henry Wadsworth Longfellow, 1880.] (LibriVox)

* * *

Esse texto faz parte dos guias de leitura para a segunda aula, Cordel, do meu curso Grande Conversa Espanhola: do El Cid ao Dom Quixote, a invenção da literatura moderna. Esses guias são escritos especialmente para as pessoas alunas, para responder suas dúvidas e ajudar em suas leituras. Entretanto, como acredito que o conhecimento deve ser sempre aberto e que esses textos podem ajudar outras pessoas, também faço questão de também publicá-los aqui no site. Para comprar o curso, clique aqui.

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