Porque não dou aula sobre tudo
Sobre ocidentais brancos sem preparo ensinando África & outros imperialismos
Muitas pessoas me pedem para dar cursos disso ou daquilo, de todos os tipos de literatura. Agradeço muito a vontade e o interesse, mas o grande limitador é a minha própria incapacidade e falta de conhecimento.
É bom que existam aulas de todos os assuntos possíveis e imaginários. É bom que existam pessoas que estudaram Engenharia e podem dar aulas de Engenharia e, assim, temos prédios, e é bom que existam pessoas que estudaram Ioga e podem dar aulas de Ioga, e, assim, não vivemos entrevadas. Não é porque a professora de Engenharia não dá aula de Ioga que ela é contra Ioga. Não é porque a professora de Ioga não dá aula de Engenharia que ela é contra Engenharia.
Então, o fato de eu dar aula de, digamos, literatura espanhola e não de nigeriana não quer dizer que acho que uma é mais importante que outra — só que me sinto habilitado a ensinar uma e não a outra.
Meus cursos
Ganho a vida dando cursos de História e Literatura.
Atualmente, tenho um curso encerrado (Introdução à Grande conversa, aulas antigas à venda por $79), um em andamento (A Grande Conversa Brasileira, duas aulas ao vivo ainda por acontecer, à venda por $299) e um futuro (História do Mundo Enquanto Fofoca, a partir de 18jan22, à venda por $499).
Minhas ignorâncias
Para ensinar literatura não basta ter lido, mesmo lido muito bem e profundamente um livro, mas é preciso conhecer a fundo a cultura onde está inserido, com quem está dialogando, quem são seus precursores no passado, quem influenciou no futuro, etc. Em outras tradições que não a ocidental eu estaria completamente perdido nessa conversa. Não teria como entendê-la a fundo e muito menos como ensiná-la.
Não é à toa que os departamentos de Letras se separam, via de regra, por idioma. A aluna não se forma em Shakespeare, mas em Letras-Inglês, porque para poder escrever uma tese sobre Shakespeare e, no futuro, ensinar Shakespeare, ela precisa, no mínimo, entender todo o sistema cultural anglófono ao redor de Shakespeare.
Existem várias pessoas muito mais habilitadas do que eu pra dar aulas de literatura oriental ou africana ou decolonial. Pelo contrário, um cara branco ocidental querer se prestar a fazer isso, se achar qualificado a fazer isso mesmo sem ter nenhum preparo ou estudo, é rigorosamente equivalente a todo o imperialismo que o Ocidente tem feito contra essas culturas. É invasivo e arrogante.
Dito isso, sempre quero saber tudo o que vocês querem estudar. Vai que eu me sinto qualificado a ensinar, não? Na pior das hipóteses, indico quem ensine.
Minhas qualificações
Tenho graduação em História, com ênfase em Brasil e Américas, e mestrado e doutorado em Letras-Português e Espanhol com ênfase em Brasil e Cuba.
Até às áreas próximas, ainda consigo ir: nunca estudei Portugal e Espanha na universidade, por exemplo, mas são interesses que corri atrás depois. A Bíblia, os gregos, Gibbon, são paixões de muitas décadas, e por isso tenho muito conhecimento acumulado sobre eles. Já literatura medieval e Espanha foram minhas paixões da pandemia, etc, e estou ansioso para compartilhar muitas coisas incríveis que descobri.
O nosso curso Introdução à Grande conversa, se foi bom, foi porque eu estava ensinando pra vocês os meus livros preferidos, sobre os quais tenho uma vida inteira de leituras e reflexões. (Aliás, o que me pilhou em Idade Média foi justamente o curso Introdução à Grande conversa, porque era a área que eu menos conhecia, fui ler mais e me apaixonei, e só tenho lido sobre isso há mais de ano.)
Estou pensando em dar um curso sobre os fundadores das línguas ocidentais modernas: italiano, Dante; inglês, Chaucer; francês, Rabelais; português, Camões; espanhol, Cervantes; alemão, Goethe. Nunca estudei academicamente nenhum deles, mas são os autores mais imensamente influentes da nossa tradição literária. Todo o romantismo europeu e, por consequência, o brasileiro, por exemplo, veio de Goethe. Então, de certo modo, mesmo quem não fala alemão e nunca leu Goethe... conhece um pouco de Goethe, ou pelo menos, suas influência, seu impacto, seus interlocutores. E as minhas aulas são exatamente sobre isso, sobre o lugar desses autores na Grande Conversa, sobre como esses livros que escreveram ressoaram e continuam ressoando.
Porque, sim, existe um cânone ocidental, aqui, desse nosso canto do mundo, que é referenciado o tempo todo em filmes, livros, na cultura em geral, e, por isso, é importante que a gente saiba qual é, nem que apenas para entendermos e participarmos melhor da conversa cultural que acontece à nossa volta; nem que seja para criticá-lo ou substituí-lo por algo melhor.
O que ensino é o cânone ocidental, mas sempre a contrapelo, sempre questionando, nunca subserviente. O cânone não tem que ser lido porque é intrinsecamente bom (não é), mas porque não dá pra fazer leituras críticas decolonais se você não entende o que foi e como se sustentou o colonialismo.
O universo de autoras e obras que estou habilitado a ensinar, a sério, sem blefe, é pequeno e limitado — como, aliás, é o de qualquer professora de literatura que não seja blefadora.
Estou à venda
Dito isso, sou um pobre proletário da palavra, não tenho outra renda que não dar esses cursos e estou sempre à venda.
Ano passado, um grupo de amigas me contratou para passar seis meses tendo aulas semanais sobre Paraíso Perdido, lendo e explicando linha a linha. Foi uma delícia. É um livro que conheço de cabo a rabo. (Inspirado nesse curso particular, e usando as notas que preparei, devo fazer um curso aberto de Paraíso Perdido nas mesmas linhas.)
Esse ano agora, 2022, uma família está negociando comigo para ler Grande Sertão Veredas com eles, semana por semana, um pouquinho de cada vez, também explicando tudo. Falta só combinar o preço porque, justamente, esse tipo de exclusividade é cara. (Dessa vez, se rolar esse grupo privado, vou certamente fazer um curso aberto paralelo cobrindo o mesmo terreno.)
Então, se vocês quiserem estudar qualquer coisa de História ou de Literatura, podem vir falar comigo. Talvez eu não esteja qualificado. Talvez eu esteja e dê um curso aberto. Talvez a gente feche um grupo só pra você, amigas, conhecidas.
Mas, sinceramente, não tem porque convencer a professora de Engenharia a dar aula de Ioga... se existem tantas excelentes professoras de Ioga que estudaram e praticaram Ioga a vida toda.
Não existe substituto a fazer um curso completo, desde o começo, assistindo as aulas ao vivo e participando do grupo de Whatsapp. O próximo é a História do Mundo Enquanto Fofoca, a partir de 18jan22, à venda por $499. Clica no link, dá uma olhada e me conta.
A próxima aula
Minha próxima aula, que acontece amanhã, se chama Retirantes & sebastianistas e é a penúltima do curso A Grande Conversa Brasileira. Conversaremos sobre O quinze, de Rachel de Queiroz, O Romance d’A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta, de Ariano Suassuna e Morte e vida Severina, de João Cabral de Melo. Ainda dá tempo de participar.
Alguns cursos que penso dar
Grande Conversa Espanhola, do Cid ao Quixote: a invenção da literatura moderna
10 aulas mensais, misturando história com literatura, com ênfase na literatura. Leituras: Cid, Romanceiro, Manrique, Amadís, Cárcere de amor, Celestina, Lazarilho, Las Casas, João da Cruz, Lope, Tirso, Calderón, Quixote. Com exceção do Quixote, todas as leituras com menos de 200pp. Só textos com tradução para o português. Todos os textos podem ser fornecidos aos alunos em pdf gratuito.
Bíblia como Literatura: o Gênesis
Aulas semanais, lendo trechos pequenos, mergulhando fundo no texto. Usando a Bíblia de Jerusalém ou do Peregrino. A ideia seria seguir com outros livros da Bíblia Hebraica: Êxodo, Juízes, Samuel, Reis, Jó, Eclesiastes, Ruth, Ester, Macabeus, Daniel, Isaías, Jeremias, Ezequiel, Judite, etc.
Grande Conversa Inglesa, de Chaucer a Shakespeare: os pais da poesia inglesa
Aulas mensais. Um curso de literatura inglesa para quem quer praticar o idioma: leituras, aulas, discussões, tudo em inglês: The Canterbury Tales, Sir Gawain and the Green Knight; The Faerie Queene (só o primeiro livro); Paradise Lost e algumas das principais peças de Shakespeare.
A Grande Conversa: os clássicos fundadores das línguas modernas
Aulas mensais, duas aulas para cada obra. Uma história da cultura ocidental desde a Idade Média até o romantismo do século XIX através dos grandes clássicos fundadores das línguas modernas ocidentais: italiano, Dante; inglês, Chaucer; francês, Rabelais; português, Camões; espanhol, Cervantes; alemão, Goethe. Sempre nas melhores traduções.
Paraíso Perdido, de Milton, em 13 aulas
Aulas semanais, uma por livro e mais uma de introdução e contexto histórico, mergulhando fundo no texto em si de Paraíso Perdido.
Algum desses te apeteceu?
Fala comigo. Sou fácil, fácil: se várias pessoas me escreverem pedindo um curso, aposto que rola. ;)
Outros cursos e clubes de leitura
Qualquer coisa da Juliana Cunha e do Mateus Baldi
Escrevendo estranho com Clarice, oficina da minha querida Luana Chnaiderman
Por fim, uma lista de clubes de leitura, pagos e gratuitos.
Um beijo do
Alex Castro