As limitações da empatia (Reflexões da Prisão Empatia)
Sim, a empatia pode ser passiva, imediatista, condescendente, paralisante, desonesta, paroquial, seletiva, punitivista, vingativa, violenta.
Toda Prisão é um consenso tão hegemônico que esconde e ofusca toda e qualquer alternativa. Tanto alerde em torno da empatia como “solução para todos os males”, tanta certeza que ela é “a emoção mais importante de ser cultivada”, esconde um fato importante:
Ninguém precisa sentir empatia para ser uma boa pessoa, para agir corretamente, para ajudar, acolher, abraçar. Pelo contrário, sentir empatia não garante necessariamente que a pessoa vai fazer nada disso: ela pode muitas vezes ou ficar paralisada pela dor, ou, mais comum, pela autocomplacência, se dando tapinhas nas costas por ser tão empática e nunca movendo uma palha.
A questão mais importante nunca é “o que estamos sentindo” mas sim, sempre, “o que estamos fazendo”.
(O tema do Curso das Prisões para o mês de novembro é a Prisão Empatia. Nossa aula, que já foi várias vezes adiada, acontece na quarta agora, 22 de maio, às 19h. Ao entrar no curso, você tem acesso total às aulas anteriores. Compre o curso completo.)
Em defesa da empatia
Empatia não é pena, dó, caridade — todos sentimentos condescendentes. Empatia não é amor, simpatia, agrado — todas manifestações de afeto pessoal. Empatia não é entendimento, compreensão — todas operações de redução e controle. Empatia não é algo que se exerça de fora para dentro, de uma pessoa para outra. Empatia é estar dentro de outra pessoa, sentir o que ela sente, pensar o que ela pensa.
Poucos conselhos podem ser mais literalmente egocêntricos e autocentrados do que o clássico: “Trate as pessoas como gostaria de ser tratada” Não é verdade que devemos tratar as pessoas com gostaríamos de ser tratadas. Porque a outra pessoa é uma outra pessoa. Porque ela teve outra vida, outras experiências. Porque ela tem outros traumas, outras necessidades. Basicamente, porque ela não sou eu. Porque eu não sou, nem nunca vou ser, nem devo ser, a medida de como as outras pessoas devem ser tratadas. Utilizar a mim mesma, minhas vontades e necessidades, como parâmetro para todas as outras pessoas é a essência do autocentramento e do egocentrismo. É o exato oposto da empatia, da atenção, do cuidado. A outra pessoa deve ser tratada não como eu gostaria de ser tratada, mas como ela merece, precisa, deseja ser tratada.
E como vamos saber como essa tal outra pessoa merece, precisa, deseja ser tratada? O primeiro passo é sair de mim mesma e deixar de me usar como parâmetro normativo do comportamento humano. Essa é a parte fácil. Depois, preciso abrir os olhos e os ouvidos (na verdade, o corpo inteiro) e reconhecer que existem outras pessoas no mundo, todas bem diferentes de mim, e que o único jeito de perceber o quão diferentes elas são é enxergando-as, escutando-as, conhecendo-as, com atenção plena e empatia verdadeira.
Empatia vem do grego "em" + "pathos" (sentimento), ou seja, é um penetrar, uma jornada. Entrar em outra pessoa é como visitar em um país estrangeiro: temos que passar pela imigração e pela alfândega, caminhando com cuidado, de pergunta em pergunta, de sentimento em sentimento. Empatia é tentar entrar em outra pessoa, nesse país estrangeiro, mas sempre reconhecendo que jamais, jamais conheceremos realmente essa pessoa, que nunca seremos cidadãs desse país.
Em larga medida, estamos sempre resolvendo nossos próprios problemas, muitas vezes projetados em outras pessoas, que podem ou não ter essas necessidades. (Diante da necessidade de ajudar uma mesma população vulnerável, o grupo de pessoas voluntárias que estava em jejum recomendou mandar comida; outro grupo, mantido sem beber nada, sugeriu enviar água; e um terceiro grupo, em uma sala com ar-condicionado fortíssimo, propôs doar agasalhos.)
Enquanto não nos libertarmos da dita regra de ouro ("trate os outros como quer ser tratada"), nunca será possível transcendermos o paroquialismo da nossa empatia e exercermos uma ação altruísta que não dependa nem de semelhança e nem de proximidade, ou seja, que não gire fundamentalmente em torno de nossos gigantescos egos.
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Entender é possuir, aceitar é amar
Manter um olhar generoso não é um exercício intelectual para entendermos melhor umas às outras. “Entender X” nada mais é do que uma tentativa de simplificar X ao seu mais básico denominador comum, de modo a poder defini-lo e nomeá-lo e, assim, chegar à verdade sobre X. Mas esse processo de simplificação é redutor e autoritário: lançamos nosso olhar sobre X, ignoramos inúmeros aspectos relevantes (praticamente qualquer objeto é mais complexo do que sua explicação), construímos uma narrativa explicativa baseada somente nos aspectos específicos sobre os quais decidimos nos concentrar, e, por fim, lhe cravamos um rótulo cheio de autoridade, dizendo “a verdade sobre X é isso!”.
Uma verdadeira empatia serve, antes de mais nada, para tentarmos perceber, ver, ouvir, e sentir as pessoas à nossa volta não para melhor entendê-las, mas para melhor aceitá-las, de forma mais aberta, mais generosa, mais altruísta. Entender é um gesto de definição e posse, redução e controle. Aceitar é um gesto de amor e generosidade.
Se a outra pessoa precisa nos explicar suas razões para só então respeitarmos sua escolha, então, já estamos arrogantemente nos colocando como árbitros de sua vida. O verdadeiro respeito não depende da capacidade de entendimento de quem ouve ou da capacidade de persuasão de quem explica. Eu respeito a decisão que outra pessoa tomou sobre sua própria vida simplesmente porque ela é uma outra pessoa, com outros valores e outras prioridades, que tem direito de decidir sobre sua própria vida tanto quanto eu da minha. Ela não precisa convencer ninguém de nada. O entendimento é irrelevante.
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Os limites da empatia: paroquialismo
Uma das limitações da empatia é seu paroquialismo, ou seja, ela depende da proximidade e da familiaridade. As pessoas tendem a sentir mais empatia por pessoas próximas, por pessoas do mesmo sangue, por pessoas que se parecem com elas. (Paroquialismo é se preocupar mais com seu entorno imediato, com sua “paróquia”, do que com o resto do mundo.)
Se estou no supermercado e a atendente no caixa é grossa comigo, talvez eu me ofenda, me irrite, queira responder na mesma moeda. Mas digamos que, confrontada com minha grosseria, ela decida desabafar. Na verdade, já estava no seu segundo turno consecutivo de trabalho, evitando voltar para casa para não ter que encarar seu marido abusivo, tendo que sorrir até mesmo para os clientes mais rudes e agressivos(como o último, que só faltou xingá-la!), e já pensando que, assim que for liberada, terá que correr para a Santa Casa visitar seu pai na UTI.
Então, ao ouvir essa confidência, ao adquirir esse conhecimento, ao sentir essa proximidade, minha empatia é finalmente ativada. Mas é só quando a pessoa se submete à minha exigência (não articulada mas bastante concreta)para que se explique, só quando se oferece como ré e suplicante diante do tribunal do meu julgamento, que minha empatia é finalmente ativada. Enquanto a moça era apenas um outro ser humano cujo servilismo não atingiu minhas expectativas do filho da Casa-Grande, ela não só não merecia empatia alguma como ainda mereceu uma patada em resposta e, quem sabe, se eu tivesse um tempinho, uma reclamação à gerência. Quando ela enfim se torna uma pessoa que tem pai doente (meu pai morreu de câncer, sei bem como é esse sofrimento!), ou que trabalha dois turnos consecutivos (fiz isso durante meu intercâmbio na Alemanha, sei bem como é essa dureza!), só então ela passa a ser merecedora da minha ó-tão-magnânima empatia. Mas de que vale essa empatia que só beneficia as pessoas mais próximas, aquelas nas quais me vejo, que tiveram a sorte de passar por experiências análogas às minhas, que se sujeitaram à mercê do tribunal do meu discernimento?
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Os limites da empatia: o afeto
Tenho amigas que se impressionam ao me ouvir falando com carinho de pessoas que abertamente não gostam de mim. Algumas vezes, os olhos das minhas amigas chegam a brilhar, empolgadas de serem as mensageiras da má-notícia, de terem o privilégio de compartilhar a megafofoca:
— Alex, você sabe o que essa Fulana anda falando de você? Sentaí, deixa eu te bater uma real...
Mas eu gosto ou desgosto da Fulana por ela ser quem ela é e por ela fazer as coisas que faz; por suas ideias e por sua militância, por sua produção artística e por sua integridade. Ou seja, eu gosto ou desgosto dela por causa de centenas de coisas possíveis e imaginárias.... que não têm nenhuma relação com os sentimentos dela por mim.
Afinal, quem sou eu? Que importância eu tenho? Que relevância eu tenho? Faz sentido gostar ou não gostar de mim ser prova decisiva do valor (ou da gostabilidade) de alguém?
Eu me dou ao direito de gostar de quem não gosta de mim. Não delego a ninguém o privilégio de pautar meus afetos, nem mesmo através dos ódios que me dedicam. O que poderia ser mais pequeno e mais mesquinho do que não gostar de alguém... só porque a pessoa não gosta de mim?
Mas diz minha amiga, exasperada:
— Ora, Alex, claro que as pessoas só gostam de quem gosta delas!
Outra amiga, outra história:
— Alex, claro que o Antonio Carlos ficou achando que vocês eram bff (best friends forever)! Você hospedou ele na sua casa uma semana!
— Ué. Mas eu nem gosto dele. Quer dizer, na verdade, ele me é indiferente, como quase todo mundo. Eu hospedei o homem na minha casa uma semana porque ele pediu, porque ele precisava, porque eu podia ajudar. O que qualquer uma dessas coisas tem a ver com eu gostar dele? Por acaso, as pessoas só ajudam e só são gentis com quem elas gostam?
— Mas é claro, Alex! Claro!
Confesso que demorei a perceber que as pessoas funcionavam assim.
Pois um dos limites da empatia é o fato de praticamente só conseguirmos sentir empatia por quem gostamos, por seres com os quais sentimos algum tipo de conexão.
(As abelhas são infinitamente importantes para a polinização das colheitas e para o futuro do nosso planeta, mas recebem muito menos doações, verbas, atenção do que os fofíssimos e quase inúteis ursinhos panda.)
Outro limite da empatia é o fato dela ser apenas uma emoção, não uma ação: é possível sentirmos muita empatia por alguém e, ao mesmo tempo, não levantarmos um dedo para ajudá-la.
(A enorme maioria das pessoas que acha os pandas a coisa mais fofa do mundo nunca abriu a carteira para contribuir para sua conservação.)
Ou seja:
Se o nosso critério para gostar de outras pessoas é 100% egocêntrico...
Se o nosso gostar é que determina nossa empatia...
Se nem sempre vamos efetivamente ajudar todas as pessoas por quem sentimos empatia...
... não fica difícil de entender porque vivemos em um mundo onde estamos todas pretensamente borbulhando de empatia (pelas pessoas que nos afagam o ego ou que são parecidas conosco) mas, mesmo assim, ninguém ajuda ninguém.
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Mais empatia não resolve
Se, subitamente, todas as pessoas deixassem de ter qualquer sentimento racista, o racismo continuaria existindo igual, intocado e inabalado, pois o racismo não é um sentimento pessoal, ele é uma estrutura sócioeconômica:
As pessoas brancas continuariam no topo da pirâmide socioeconômica e continuariam privilegiando suas próprias filhas, e as filhas das pessoas que se parecem com elas, em detrimento das filhas das outras pessoas que não se parecem.
Não surpreendentemente, a classe média brasileira tende a ser contra o Bolsa-Família, um programa de redistribuição de renda que tende a beneficiar pessoas diferentes delas, usando argumentos que poderiam se aplicar igualmente contra o Ciência sem Fronteiras, um programa de redistribuição de renda que elas naturalmente apóiam, pois tende a beneficiar as suas próprias famílias.
Por isso, simplesmente promover "mais empatia", a nova buzzword do momento, não resolve nem poderia resolver nada: os homens sentiriam ainda mais empatia pelos homens acusados de estupro e continuariam não sentindo empatia quase nenhuma pelas mulheres estupradas; as pessoas brancas sentiriam ainda mais empatia pelas pessoas brancas filtradas pelas cotas e continuariam não sentindo empatia quase nenhuma pelas pessoas negras que representam uma parcela mínima das universitárias do país.
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Quem mais se beneficia das cotas sociais?
Quando defendo cotas raciais, uma das principais objeções é: "o problema não é racismo, o problema é econômico!" E que, portanto, "as cotas deveriam ser sociais, não raciais!"
Em primeiro lugar, o racismo é, como não poderia deixar de ser, um problema econômico — o que mais seria? (Dizer "o problema não é racismo, o problema é econômico!" é como dizer "o problema não são os assassinatos, o problema é a violência!" ou "o problema não é a dengue, o problema é a saúde!", etc)
Em segundo lugar, mais importante, não conheço ninguém que defenda cotas raciais e que seja contra cotas sociais.
A questão é que, graças ao racismo estrutural da sociedade brasileira, quando se aplicam cotas sociais sem cotas raciais, elas acabam desproporcionalmente beneficiando as pessoas pobres de compleições mais claras em detrimento das pessoas pobres de compleições mais escuras.
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A empatia só vale para nossas iguais
A evidência anedótica de que a empatia tende sempre a beneficiar as pessoas iguais a nós está por todos os lados. Não satisfeitas, pesquisadoras estudaram o fenômeno sistematicamente: abaixo, alguns exemplos.
A existência e quantidade de filhas mulheres é diretamente proporcional ao apoio dado por deputados norte-americanos à pautas que defendem maiores direitos reprodutivos para mulheres — independentemente de filiação partidária.
Também são bem-documentados os casos de congressistas que passam a apoiar maiores direitos para homossexuais ou para portadoras de deficiências após seus filhos ou filhas saírem do armário ou sofrerem um acidente debilitante.
Quando confrontadas com a opção de doar cinco dólares para alimentar uma menina africana de sete anos, identificada com nome e foto, ou ajudar uma organização que trabalha para salvar milhões de pessoas da fome, mais que o dobro de pessoas escolheu ajudar somente a menina.
Incrivelmente, uma terceira opção, reunindo a foto e o nome da menina da primeira opção com os dados estatísticos e financeiros da segunda, obteve menos doações do que a primeira — como se saber os dados concretos da situação reduzisse nossa empatia instintual com a pobre menina faminta.
Diante da necessidade de ajudar uma mesma população vulnerável, o grupo de pessoas voluntárias que estava em jejum recomendou mandar comida; outro grupo, mantido sem beber nada, sugeriu enviar água; e um terceiro grupo, em uma sala com ar-condicionado fortíssimo, propôs doar agasalhos.
Ou seja, uma militante anti-capacitista que queira aumentar a acessibilidade de prédios públicos, pode ou
1) escrever longos e trabalhosos relatórios, repletos de fatos e números, cheios de apelos à cidadania das pessoas com deficiências, que nenhuma congressista vai ler; ou:
2) cortar os freios dos carros das filhas das senadoras mais influentes.
Infelizmente, todos os estudos acima, e vários outros na bibliografia sobre empatia, sugerem que a segunda opção seria muito mais eficiente. (Aliás, esse é o enredo do filme do primeiro filme dos X-Men. E teria dado certo se não fossem esses moleques intrometidos e seu cachorro mutante!)
Uma vez demonstrada empiricamente a limitação prática da nossa empatia cotidiana, nossa tarefa como cidadãs é criar programas de assistência social a-empáticos, ou seja, que não necessitem ou dependam da empatia de quem os implementa, capazes de assistir mesmo quem enfrenta dificuldades difíceis de serem imaginadas ou sentidas pelas pessoas privilegiadas.
Afinal, nossa imaginação, nossa consciência, nossa moral deveriam servir justamente para nos libertar da estreiteza de nossas experiências pessoais, nunca para nos ancorar a elas.
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A empatia, sem barganhas, sem condições, sem entendimento
Tenho tentado fazer uma coisa. Uma pequena coisa. Uma coisa que não muda o mundo, que não afeta ninguém. Uma coisa tão pequena que só acontece dentro da minha cabeça — ou seja, para todos os fins e efeitos, não existe.
Quando a atendente da caixa do supermercado é grossa conosco, antes de tudo podemos nos perguntar: será que foi grossa mesmo? O que é isso de “ser grossa”? Ela foi de fato grossa ou só não foi servil o suficiente para satisfazer nossas expectativas senhoriais? O trabalho dela é registrar compras e receber pagamento, ou é sorrir para nós e fingir afeto?
Mas, OK, digamos que tenha sido realmente grossa e objetivamente rude, impolida e ríspida, uma ogra, corram para as montanhas! Bem, e daí? Se aceitaríamos sua pretensa dureza se soubéssemos de circunstâncias atenuantes(“meu pai está doente, sahib!”), por que não já presumir essas circunstâncias atenuantes sem que ela precise se oferecer à misericórdia do nosso julgamento? Por que não pular essa desnecessária etapa intermediária e simplesmente oferecer nossa atenção generosa, sem condições, sem obrigações, sem barganhas? Não sabemos, não temos como saber, jamais saberemos como foi o dia dela. Mas o mais importante é que não precisamos saber.
Essa pequena disciplina mental que tenho tentado exercer é pequena e limitada: ela não muda o mundo; não ajuda a moça do caixa em nada; não lhe facilita suportar as dificuldades de sua vida; não lhe transfere nenhum dos meus inumeráveis privilégios; não tem realidade concreta alguma.
O único beneficiado sou eu. Se, graças a isso, eu não for grosso de volta com ela, ou com a próxima pessoa que eu encontrar, quem sabe, isso sim, seja uma pequena, ínfima contribuição para um mundo menos rude.
Mas isso é um consolo, não um plano. O plano tem que ser: O que posso de fazer para de fato ajudar? Como agir? Como impactar a realidade?
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Saber a hora de voltar
O fotógrafo francês Robert Doisneau ficou famoso por retratar cenas cotidianas das ruas de Paris. Um dia, uma repórter pediu para segui-lo em suas caminhadas e observar seu método. Ele recusou: teria vergonha que vissem quantas vezes passou pela foto perfeita e nem se deu conta, somente para voltar correndo, dez segundos ou cinco minutos depois, e ainda ter que implorar para completas estranhas fazerem de novo, para a câmera, o que tinham feito naturalmente pouco antes. Mas eu me pergunto: quantas pessoas não passaram por essas mesmas cenas? A grande arte de Doisneau era justamente saber voltar.
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A vida cotidiana, inviável
Minha ex-mulher é de uma pequena e próspera cidade no interior da Amazônia. Veio morar comigo no Rio de Janeiro e se deparou, pela primeira vez, com a população em situação de rua em nossas calçadas. Nunca amei tanto minha ex-esposa quanto naqueles momentos em que a mera visão de uma criança de rua já era o suficiente para levá-la às lágrimas.
Sabe por quê? Porque é.
Com o tempo, para não enlouquecer, para poder funcionar como ser humano, minha ex-esposa foi criando a mesma couraça de insensibilidade social que quase todas as moradoras de grandes cidades já trazemos do berço. É uma educação do olhar: treinamos nossa atenção para não enxergar e, se enxergar, não dar importância e, se der importância, racionalizar que não há nada que possamos fazer. Tudo para não cairmos de joelhos paralisadas pelo horror.
Não fazemos isso só com a miséria. Passamos o dia cercadas por dezenas, centenas, às vezes milhares de pessoas. É impossível considerá-las todas individualmente. Não só não as olhamos, como nem mesmo pensamos nelas como se fossem gente.Nossa vida cotidiana seria inviável se parássemos para considerar que cada uma daquelas pessoas comendo fast-food na praça de alimentação do shopping tem uma vida interior tão rica quanto a nossa. Ou, pior, que cada uma daquelas pessoas comendo restos de comida no lixão tem a nossa mesma capacidade de apreciar a beleza de uma catedral barroca.
Às vezes penso que meu objetivo de vida é justamente tornar minha vida inviável: se eu conseguir caminhar pelo centro da cidade sem me rasgar de desespero é porque ainda não consegui.
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Aprendendo a voltar, aprendendo a olhar
Crescendo em um grande centro urbano latinoamericano (foi no Rio de Janeiro, mas poderia ter sido Buenos Aires ou Cidade do México), meu olhar foi treinado para não ver a dor alheia. Alguém vem falar comigo e eu logo levanto a mão, para cobrir os olhos da pessoa (tudo menos contato visual!) e, falando que não posso!, não tenho!, não dá!, não!, não!, eu já aperto o passo e vou embora. Assim era o meu comportamento comum em meu habitat natural.
Hoje, depois que fiz os votos do Bodisatva e dos pacificadores zen, tenho tentado ativamente não virar o rosto para a dor alheia. Não para ganhar nada, pois não há nada para ser ganho e não há nada para ser perdido, mas porque sim. Porque existe esse momento presente, incomensuravelmente concreto, esse agora onde um outro ser humano, tão incrível, tão complexo, tão profundo quanto eu, veio me abordar, falar comigo, buscar uma conexão humana.
Às vezes, muitas vezes, mais vezes do que eu gostaria, eu ainda fujo, desvio o olhar, não posso!, não tenho!, não dá! Então, quando já estou na outra quadra, eu poderia dizer que penso nos meus votos, ou no Buda, ou no mestre zen Bernie Glassman, criador dos pacificadores, mas quem me dá mesmo forças para voltar é Doisneau. E eu volto e digo:
— Desculpa, moço. Eu tenho sim. Eu posso sim. Dá sim. Me fala mais desses sabonetes. É você mesmo que faz?
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A falta de empatia: as sem-teto
Andando por um bairro classe média alta com uma colega bem-nascida, passamos por um grupo de pessoas sem-teto, deitadas na calçada sobre pedaços de papelão, cobertas com jornais, tristes, sujas, doentes. E minha amiga bradou, chocada, indignada:
— Meu Deus, não existe mesmo empatia nesse mundo!
Concordei silenciosamente com minha amiga, e gostei dela mais um pouquinho por aquele momento de desabafo intempestivo, e, quem sabe, iria até acrescentar alguma coisa nessa linha quando ela, como se fosse o punchline de uma piada cósmico-existencial, continuou:
— Como pode essa gente ocupar assim toda a calçada? Será que não tem nenhuma empatia pelas pessoas que estão tentando transitar? Será que não conseguem pensar nos outros? Onde é que esse mundo vai parar assim... assim... meu Deus!... tão sem empatia?!
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A falta de empatia: as militantes
Grupo grande de pessoas amigas. Ao ouvir que estou escrevendo sobre empatia, um amigo desabafa:
— É, Alex, você tem razão. Cada vez penso mais nisso. O maior problema do mundo de hoje é a falta de empatia. Ninguém mais tem empatia com ninguém!
Eu, já cínico e calejado, me preparei para o pior. E ele explicou que uma amiga sua, feminista, negra, militante, estava comentando sobre o caso de uma outra mulher negra, que, ao viajar pelo nordeste com uma colega europeia que morreu em circunstâncias suspeitas, foi imediatamente presa, apesar de não haver nenhuma prova ou indício contra ela, "um caso clássico e típico de racismo", segundo a amiga. E meu amigo, coitado, do alto de sua branquitude hétero XY, perguntou a ela, com toda a inocência que só as pessoas privilegiadas são capazes:
— Mas como você sabe que é racismo sem nem ter falado com o policial para saber se ele é racista ou não?
E a moça, com anos e anos de militância no feminismo negro, já tendo visto horrores que o meu amigo (e eu) nunca imaginaríamos e, com certeza, nunca vamos sentir, decidiu que não valia a pena continuar aquela conversa: bloqueou o moço e cortou o contato. E ele, coitado, passando o braço pelo meu ombro e desabafou, quase pedindo colo:
— Ela não quis nem me ensinar o que eu tinha feito de errado! Não quis nem conversar! Me bloqueou! Como pode?! Acabou mesmo a empatia desse mundo!
Não era ele, do alto de sua posição de privilégio, branco, rico, homem, que deveria ter tido mais empatia por duas pessoas tão mais desprivilegiadas que ele em tantos quesitos: a moça negra presa sem provas e a moça negra indignada com o fato. Nada disso. Sua amiga é que, apesar de sofrer infindáveis violências e preconceitos por parte de homens brancos como ele, é que deveria dar uma pausa em sua militância política para explicar dúvidas de um homem sem noção que poderia simplesmente já estar pesquisando isso no Google.
Acabou mesmo a empatia!
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Quem tem empatia pelas pessoas privilegiadas?
Se a empatia já está fornecendo um novo vocabulário para as pessoas privilegiadas de sempre poderem continuar exercendo sua velha cegueira quanto às dores das pessoas não-privilegiadas e, pior, para reclamarem mais e mais privilégios, então, talvez, o conceito de "empatia" tenha realmente esgotado sua utilidade como conceito explicativo, como arma política, e até mesmo como ferramenta de desenvolvimento pessoal. Afinal, se a empatia é tudo, então ela não é nada.
Toda nossa sociedade já foi construída e é mantida como um imenso mecanismo para “ter empatia”, ou seja, para passar a mão na cabeça das pessoas privilegiadas. O policial que “tem empatia” e quer ajudar a pobre loira branca que sofreu uma violência… ignora a cidadã negra favelada que tentou dar queixa da mesma violência. O médico que “tem empatia” pela dor das pessoas brancas… dá menos anestesia para as pessoas negras. Nos escritórios, há muita “empatia” pelos pobres homens calorentos vestindo terno e nenhuma pelas mulheres friorentas de perna de fora. Etc etc. Os exemplos poderiam continuar ao infinito.
Então, não. Não são as pessoas privilegiadas que devem levantar os braços e pedir: “Poxa, e pra mim, não tem empatia?” Pelo contrário, são os homens que têm que ter empatia pelos problemas das mulheres, são as pessoas brancas que têm que ter empatia pelos problemas das pessoas negras, são as pessoas que moram em apartamentos de três quartos no eixo Morumbi-Leblon que têm que ter empatia pelas pessoas que precisam de Bolsa-Família para sobreviver.
O que estou tentando fazer com meus textos é ensinar as pessoas privilegiadas a terem mais empatia pelas menos privilegiadas, e não a dominarem um novo vocabulário para exigir ainda mais privilégios:
— Poxa, pelos empresários ninguém têm empatia, né?
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Empatia sim, mas por quem?
Cresci em um condomínio de luxo em frente à praia e estudei em uma das escolas mais caras do Brasil. Minhas amigas de infância, colegas de escola e vizinhas no condomínio, votam quase sempre em candidatas que prometem acabar com o Bolsa-Família, diminuir o salário mínimo, flexibilizar a CLT.
Elas não fazem isso por serem (necessariamente) pessoas horríveis desprovidas de empatia. Pelo contrário, elas votam motivadas pela empatia que sentem por suas amigas e conhecidas, colegas e familiares que tentaram empreender no Brasil e que muitas vezes faliram graças ao excesso de burocracia, aos encargos trabalhistas, à corrupção endêmica.
Empatia é o que não falta nesse mundo. Nossa espécie é naturalmente empática: todas temos empatia por nossas colegas, familiares, amigas. Por quem mora perto, por quem fala com o mesmo sotaque, por quem tem um tom de pele parecido. Se algumas pessoas votam em leis trabalhistas por empatia com seus tios trabalhadores, outras votam contra leis trabalhistas por empatia com seus tios empreendedores.
A questão não é se sentimos ou não empatia, ou se nossa empatia precisa ou não ser estimulada, mas por quem sentimos empatia. Como transcender o paroquialismo imediatista de nossa empatia e convertê-la em ações políticas concretas que ajudem as pessoas e modifiquem a realidade? Ou seja, como transformar emoção empática em ação altruísta.
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Outras limitações da empatia
Nossa experiência pode interferir com nossa empatia. Segundo um estudo, mulheres que já tinham tido filhos sentiam menos empatia pela dor do parto de outras mulheres do que mulheres sem filhos. Talvez por pensar: "ah, se eu sobrevivi, ela também sobreviverá", talvez por ser transportada para seu próprio parto. (citada em Batson)
A empatia também pode ser tão poderosa que nos empurra a comportamentos desonestos e antiéticos. Por exemplo, uma menina de dez anos, doente terminal, estava na fila de transplantes. Em um grupo de pessoas que assistiu uma entrevista de dez minutos com ela e, depois, teve a chance de colocá-la na frente na fila de transplantes, 70% fez isso. Mais tarde, a maioria alegou saber que era errado e injusto, mas a empatia que sentiram pela menina fez com que tomassem uma atitude que eles mesmo admitiam ser desonesta e corrupta. (Batson) Outros estudos também demonstraram que pessoas fundamentalmente honestas, que jamais desviariam dinheiro público para seus próprios bolsos, estavam dispostos a desviar dinheiro público para beneficiar pessoas como a menina de dez anos, por quem sentem muita empatia, em detrimento do bem comum e de outras pessoas (sem nome e sem rosto) que também poderiam e deveriam ser ajudadas primeiro. (Batson) A empatia que sentimos pode ser tão forte, nos concentramos tanto na dor da pessoa que conhecemos, que viramos as costas para a dor da multidão e abdicamos de nossas responsabilidades de cidadãs éticas.
A empatia também pode nos fazer mais vingativas e punitivistas. Em estudos controlados, foram as pessoas identificadas como mais empáticas que, ao testemunhar um ato de violência, defenderam os castigos mais duros, mais violentos, mais desproporcionais aos pretensos culpados. Diante de notícias de massacres internacionais, são as pessoas mais empáticas que mais advogam intervenções, bombardeios, guerras em resposta a esses horrores. Literalmente, mais empatia pode levar a mais guerras.
A empatia pode ser tanta que nos paralisa. Se uma pessoa perde toda a família em um acidente e vem a mim totalmente destruída, no chão, buscando ajuda, socorro, acolhimento... se eu sentir empatia por sua dor, se eu também estiver totalmente destruído, no chão... eu não vou ter como ser útil a ela de nenhuma maneira. Ao invés de estar chorando no meio fio sozinha, ela estará chorando no meio fio comigo. E mais nada. Preferivelmente, cirurgiãs não operam e advogadas não defendem pessoas de suas famílias, não por falta de empatia, mas por excesso, por reconhecer que a empatia também pode afetar nossas habilidades profissionais, por reconhecer que, muitas vezes, nossa parente precisa mais de uma mão que não treme do que de um abraço caloroso.
Talvez mais importante, empatia gera incômodo. Se ver a dor do outro me faz literalmente sofrer, a tendência é eu me afastar para evitar esse sofrimento. Pois quase ninguém realmente quer sofrer – e essas pessoas, quando existem, não ajudam, só vampirizam a dor do outro. O ideal de quem prega "mais empatia" é que esse incômodo se transforme em ação altruísta, mas nem sempre acontece. Quase todas as ações realmente altruísticas, ou seja, que efetivamente afetam e mudam o mundo, têm um custo alto, em dinheiro, energia, tempo, disposição, um custo que frequentemente "ganha" da preocupação empática.
Qualquer pessoa que vive em uma grande cidade pode atestar: a quantidade de pessoas pedintes e sem teto nas ruas causa um curto circuito em nossas capacidades empáticas. Ou vamos crescer uma casca de insensibilidade para podermos andar na rua, ou vamos parar de andar na rua. Mas, de fato encarar cada uma daquelas tragédias como a enorme tragédia que é seria inviável para a maioria de nós. Ou, como disse o milionário ao mordomo: "Meu Deus, a dor e o sofrimento dessas pessoas pobres é intolerável para mim. Precisamos fazer alguma coisa. Por favor, Jarbas, construa um muro mais alto!"
Nossa empatia, coitada, é uma frágil florzinha, facilmente esmagada pelo primeiro pensamento egoísta.
Mais uma vez, não se está dizendo que a empatia é ruim. Como qualquer emoção, ela não é bom, nem ruim, mas apenas é. A questão é o que fazemos com ela. E já existem muitas evidências que esse sentimento empático, apesar de ser tão celebrado, pode ou paralisar ou, pior, levar a ações violentas, punitivistas, vingativas, paroquiais, injustas, desonestas, condescendentes.
Toda Prisão é uma prisão porque o consenso hegemônico em torno dela esconde outras, melhores, mais amplas alternativas. Pois tanto alerde em torno da empatia como solução para todos os males, tanta certeza que ela é a emoção mais importante de ser cultivada, esconde um fato importante:
Ninguém precisa sentir empatia para ser uma boa pessoa, para agir corretamente, para ajudar, acolher, abraçar. Pelo contrário, sentir empatia não garante necessariamente que a pessoa vai fazer nada disso: ela pode muitas vezes ou ficar paralisada de dor, ou, pior e mais comum, paralisada pela complacência, se dando tapinhas nas costas por sua empatia enquanto o mundo arde.
Então, a questão nunca é “o que estamos sentindo” mas sim “o que estamos fazendo”.
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Essa foi uma prévia da Prisão Empatia, só a introdução mesmo. Ao longo dos próximos dias, vou postando mais textos. Na quarta, 22 de maio, é a aula. Você vem?
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Sou artista independente. Não tenho emprego, salário, renda, pai rico. Vivo exclusivamente de escrever esses textos que abriram seus olhos e mudaram sua vida. Dependo da sua generosidade. Se não você que me lê, então quem?
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Série “As Prisões”
Aqui estão os textos já reescritos, revisados e finalizados em 2023:
Felicidade (em breve)
Empatia (em breve)
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O Curso das Prisões
Um curso para nos libertar até mesmo da busca pela liberdade. O que está em jogo é nossa vida.
Curso em resumo
Curso de filosofia prática, com ênfase em liberdade pessoal e consciência política: como viver uma vida mais livre e significativa sem virar o rosto ao sofrimento do mundo. // As Prisões: Verdade, Religião, Classe, Patriotismo, Respeito, Trabalho, Autossuficiência, Monogamia, Liberdade, Felicidade, Empatia // Sem leituras, com muita conversa, debate, polêmica. // Encontros e aulas ao vivo via Zoom; aulas gravadas via Facebook; grupo de discussão no Whatsapp. // R$88 mensais, no Apoia-se, por todos os meus cursos. Compre agora.
O que são As Prisões
As Prisões são as bolas de ferro mentais e emocionais que arrastamos pela vida: as ideias pré-concebidas, as tradições mal explicadas, os costumes sem sentido: Verdade, Religião, Classe, Patriotismo, Respeito, Trabalho, Autossuficiência, Monogamia, Liberdade, Felicidade, Empatia.
O que chamo de As Prisões são sempre prisões cognitivas: armadilhas mentais que construímos para nós mesmas, mentiras gigantescas que nunca questionamos, escolhas hegemônicas que ofuscam possíveis alternativas.
A Monogamia, por exemplo, é uma prisão não porque seja ruim ou desaconselhável em si, mas porque se apresenta como sendo a única opção concebível de organizar nossos relacionamentos, consignando todas as outras alternativas à imoralidade, à falta de sentimentos, ao fracasso: “relacionamento aberto não funciona, é coisa de quem não ama de verdade”.
A Felicidade é uma prisão não porque seja ruim ou desaconselhável em si, mas porque se apresenta como sendo a única opção de fim último para nossas vidas, consignando todas as outras alternativas à condição de suas coadjuvantes e dependentes: “não é que o seu fim último seja ser virtuosa, mas você quer ser virtuosa para ser feliz, logo o seu fim último é ser feliz”.
Quem está “presa” na Prisão Monogamia não é a pessoa que fez a escolha livre e consciente de viver relacionamentos monogâmicos, mas sim aquela que, por ignorar a opção de não fazer isso, por nunca ter percebido a verdadeira gama de diferentes alternativas que lhe estavam abertas, vive relacionamentos monogâmicos por default, como se essa fosse a única possibilidade concebível. Sua prisão (cognitiva) não é viver a Monogamia, mas ignorar a realidade que existe além dela.
Quem está “presa” na Prisão Felicidade não é a pessoa que fez a escolha livre e consciente de colocar sua própria felicidade individual como fim último de sua vida, mas sim aquela que, por ignorar a opção de não fazer isso, por nunca ter percebido a verdadeira gama de diferentes alternativas que lhe estavam abertas, busca sua própria felicidade por default, como se essa fosse a única possibilidade concebível. Sua prisão (cognitiva) não é buscar a Felicidade, mas ignorar a realidade que existe além dela.
Cada uma das Prisões, da Verdade à Empatia, do Trabalho à Felicidade, é sempre, antes de mais nada, uma prisão cognitiva, uma percepção incompleta da realidade. Por trás de todas as Prisões está sempre a mesma inimiga: a ignorância.
Aulas gravadas indefinidamente
A gravação em vídeo das aulas expositivas fica disponível em um grupo fechado do Facebook. (É preciso se inscrever no Facebook para ter acesso ao grupo) Mas, juridicamente falando, como não posso garantir “indefinidamente”, garanto que as aulas estarão acessíveis às compradoras do curso, se não no Facebook em outro lugar, no mínimo até 31 de dezembro de 2027. As conversas livres, por serem mais pessoais, não ficam gravadas: são só para quem vier ao vivo. As aulas gravadas só estarão disponíveis para as mecenas do plano CURSOS enquanto durar o apoio. Você pode cancelar seu plano de mecenato a qualquer momento, mas aí perde acesso aos cursos.
Sem leituras
O Curso As Prisões não é um curso de leituras: nenhuma leitura é obrigatória ou recomendada. É um curso de conversas livres e de trocas de experiências, de escutatória e de debates, de reflexão sobre nossas vidas e sobre como viver.
Para cada Prisão, eu listo uma pequena bibliografia, para que vocês saibam quais livros eu utilizei na preparação da aula e para que possam correr atrás das leituras que mais lhes interessem.
Mas não precisa ler nada para participar das aulas, das conversas, das trocas, das discussões.
Sejam as primeiras leitoras do Livro das Prisões
O Livro das Prisões foi contratado pela Rocco em 2017 e eu ainda não consegui escrever. Um de meus objetivos para esse curso é, com a inestimável ajuda da interlocução de vocês, finalmente terminar o livro. Então, junto com a aula, também pretendo disponibilizar o texto dessa Prisão em sua versão final, já pronta para publicar. Todas as alunas do curso serão citadas nos agradecimentos do livro, pois ele certamente nunca teria sido escrito sem a participação de vocês. Já de antemão, agradeço.
Professor
Alex Castro é formado em História pela UFRJ com mestrado em Letras por Tulane University (Nova Orleans, EUA), onde também ensinou Literatura e Cultura Brasileira. Atualmente, é mestrando do Programa de Pós-Graduação em Letras Neolatinas da UFRJ. Tem oito livros publicados, no Brasil e no exterior, entre eles A autobiografia do poeta-escravo (Hedra, 2015), Atenção. (Rocco, 2019) e Mentiras Reunidas (Oficina Raquel, 2023). Escreve para a Folha de São Paulo, Suplemento Pernambuco, Quatro Cinco Um, Rascunho.
Meus votos zen-budistas
Pratico zen budismo há dez anos. Todo dia, pela manhã, refaço meus votos: os quatro votos do Bodisatva e os três votos dos pacificadores zen.
Basicamente, eu me comprometo a ajudar as pessoas a 1) se libertarem, 2) enxergarem as ilusões que as limitam, 3) perceberem a realidade em sua plenitude e, assim, 4) agirem no mundo de acordo com essa percepção. E me proponho a fazer isso a partir de 1) uma posição de não-saber, me abrindo às novas situações sem certezas prévias, 2) estando presente de forma plena a cada interação humana, sem virar o rosto nem à dor nem à alegria, e 3) agindo amorosamente.
Esse curso é minha humilde tentativa de agir no mundo de acordo com meus votos. De ajudar as pessoas, minhas alunas e minhas leitoras, a enxergarem suas prisões, se libertarem delas, perceberem a realidade e agirem amorosamente no mundo, questionando suas certezas e nunca virando o rosto nem à dor nem à alegria das outras pessoas.
Dar esse curso, portanto, é minha prática religiosa. Se eu tiver algum sucesso em caminhar ao lado de vocês nesse percurso, minha vida terá sido uma vida bem vivida, e sou grato por tê-la vivido.
Os Quatro Votos do Bodisatva: As criações são inumeráveis, faço o voto de libertá-las; As ilusões são inexauríveis, faço o voto de transformá-las; A realidade é ilimitada, faço o voto de percebê-la; O caminho do despertar é insuperável, faço o voto de corporificá-lo.
Os três votos da Ordem dos Pacificadores Zen: Praticar o não saber, abrindo mão de certezas prévias; Estar presente na alegria e no sofrimento, não virando o rosto à dor alheia; Agir amorosamente, de acordo com essas duas posturas.
Compre
O Curso das Prisões é exclusivo para as mecenas dos planos CURSOS ou MIDAS do meu Apoia-se.
Para fazer o curso completo (11 aulas expositivas + 11 encontros livres + grupo no Facebook + grupo de Whatsapp):
R$88 mensais, via Apoia-se: comprando o plano Mecenas CURSOS (ou superior), você tem acesso a todos os meus cursos enquanto durar o seu apoio, além de ganhar muitas outras recompensas, como textos e aulas avulsas exclusivas. Como bônus, coloco seu nome na lista das mecenas. Você pode cancelar o seu plano a qualquer momento, mas aí perde acesso aos cursos. (O Apoia-se aceita todos os cartões de crédito e boleto).
Não são vendidas aulas individuais. Não existem outras formas de pagamento. Quem estiver no estrangeiro e não tiver cartão de crédito ou conta bancária brasileira, fale comigo: eu@alexcastro.com.br
Dúvidas
Somente por email: eu@alexcastro.com.br
Aulas em resumo
Links levam para a descrição de cada aula na ementa do curso.
Verdade (fevereiro)
Religião (março)
Classe (abril)
Patriotismo (maio)
Respeito (junho)
Trabalho (julho)
Autossuficiência (agosto)
Monogamia (setembro)
Liberdade (outubro)
Felicidade (novembro)
Empatia (maio)
As inscrições para o Curso das Prisões estão abertas: é só fazer o plano CURSOS no meu Apoia-se.
Acho que é um dos seus textos mais importantes :)